Quem é o bailarino carioca que teve visto negado após dez anos nos EUA
Luiz Fernando da Silva tinha contrato assinado com uma academia de dança renomada em Nova Iorque quando teve o visto negado

No ano passado, o bailarino carioca Luiz Fernando da Silva, de 29 anos, deixou a companhia de dança Miami City Ballet, onde esteve por uma década, para entrar Dance Theater de Harlem, em Nova York. Junto do fim do contrato em Miami, seu visto foi encerrado. O dançarino decidiu aguardar a nova autorização, que lhe permitira voltar a trabalhar, junto da família no Brasil. Com um contrato assinado e dez anos de documentos regularizados nos Estados Unidos no currículo, o jovem foi informado que não teria o visto aprovado pela justiça americana.
“Foi um choque”, ele conta em entrevista ao UOL. Atualmente em Barra Mansa com sua família, o jovem é mais um entre os milhares de profissionais estrangeiros a serem afetados pela nova política imigratória do governo de Donald Trump. “Eu não contava com tudo que aconteceria no mundo. O plano nunca foi de ficar no Brasil. Eu já tinha um contrato assinado com Harlem quando decidi ir ao Brasil”, contou.
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Em dezembro de 2024, as autoridades americanas pediram informações que comprovassem que ele estava apto a assumir as funções no Harlem. A companhia é uma das mais tradicionais do país e é considerada a primeira de balé clássico a priorizar dançarinos negros. O bailarino reuniu cartas de recomendação de outros artistas e mostrou que havia dançado com os maiores coreógrafos da atualidade no país. Ainda “Se isso não é suficiente, o que vai ser?”, disse ao UOL.
Luiz conheceu o balé aos 11 anos, em um curso de dois meses, mas ainda não via a dança como profissão. Aos 15 anos, embarcou de vez na daça e foi levado a uma escola em Porto Real, no Rio. O jovem passava mais de uma hora no transporte público todos os dias após as aulas escolares. Inicialmente, ia junto da mãe. No entanto começou a pesar financeiramente e a família decidiu que não teria como continuar.
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Contudo, o talento de Luiz levou a escola a oferecer um vale transporte. Entre diversos festivais, um, em 2012, o levou a Nova Iorque para as finais de um concurso. Mais tarde naquele ano, surgiu a de uma audição no Brasil para uma bolsa de verão no Miami City Ballet. Ele foi um dos aprovados para passar cinco semanas na cidade americana. A companhia ofereceu uma bolsa para estudar nos EUA ao fim da experiência.
Em seu último dia de curso, dois anos depois, foi oferecido um contrato de permanência ao jovem. Ao longo de uma década, ele rodou pelos palcos de diversos estados dos EUA. Contudo, durante a experiência lá sentiu que não se encaixava fisicamente e politicamente no padrão pedido pela direção. A mudança para o Dance Theater de Harlem foi uma abertura em sua perspectiva. “Foi libertador. Uma companhia negra e de pessoas que vivem a luta e a resistência. Uma companhia de muita tradição e que viveu muitas experiências”, constatou. Com o visto negado, o bailarino teve os planos e sonhos interrompidos.