6 fotos que mostram a importância de Evandro Teixeira para o jornalismo
Dos golpes militares no Brasil e no Chile a um encontro entre Chico Buarque, Tom Jobim e Vinicius de Moraes, fotojornalista estava sempre no lugar certo
Maior nome do fotojornalismo nacional e um dos maiores do mundo, Evandro Teixeira morreu nesta segunda (4), no Rio, aos 88 anos, após complicações de uma pneumonia. Baiano da pequena Irajuba, desde a década de 1950 vivia na capital carioca, onde fez algumas das fotos mais emblemáticas do país.
Com seu trabalho, ele ajuda a contar a história do Brasil e da América Latina — cobriu, por exemplo, o golpe militar no Chile, tendo sido o único fotógrafo a entrar no velório do poeta Pablo Neruda. Também são marcantes as imagens feitas durante a ditadura no Brasil.
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Em 1994, teve o seu currículo inserido na Enciclopédia Suíça de Fotografia, que reúne os maiores fotógrafos do mundo. Suas fotos integram acervos de museus como o de Belas Artes de Zurique, na Suíça; o Museu La Tertulia, na Colômbia; o Masp, em São Paulo, e o MAM e o MAR, ambos no Rio.
A ele, Carlos Drummond de Andrade dedicou o poema Diante das fotos de Evandro Teixeira, do livro Amar Se Aprende Amando (1985). “É preciso que a lente mágica / enriqueça a visão humana / e do real de cada coisa”, diz um trecho.
Evandro Teixeira foi velado na manhã desta terça (5) na Câmara Municipal do Rio de Janeiro. Seu corpo será cremado em uma cerimônia fechada para a família e as cinzas serão levadas para Canudos, na Bahia, local que visitou por diversas vezes para fotografar sobreviventes da guerra que aconteceu ali no fim do século XIX.
Veja algumas das imagens mais impactantes da carreira do fotojornalista:
1) Tomada do Forte de Copacabana (1º/4/1964):
Evandro morava na Rua Júlio de Castilhos, no Posto 6 de Copacabana, e foi acordado por um amigo, às 5h da manhã de 1º de abril de 1964, que lhe avisou do golpe militar. Os dois se dirigiram para o Forte de Copacabana, ali perto: o amigo era oficial do exército e foi fardado; Evandro fingiu que era um militar à paisana e conseguiu entrar. Chegando lá, fiz a imagem dos militares sob a chuva e escondeu o filme na meia. Na saída, precisou mostrar a câmera, mas a imagem já estava a salvo. A foto foi para a capa do Jornal do Brasil, onde o fotojornalista trabalhou por 47 anos, até o fim da edição impressa do periódico.
2) Cavalaria em repressão no velório do estudante Edson Luís (4/4/1968)
Em março de 1968, o comandante da tropa da PM, aspirante Aloísio Raposo, atirou à queima-roupa e matou o estudante Edson Luís de Lima Souto, de 18 anos, durante um protesto no Restaurante Calabouço. O crime gerou uma série de protestos, inclusive na missa de sétimo dia do jovem, sob forte repressão policial. Evandro subiu no terraço de um edifício de três andares. Como a polícia atirava contra os fotógrafos, ele fez o registro da cavalaria chegando e fugiu. Quem não conseguiu foi espancado. O fotógrafo Alberto Jacob, seu colega de JB, teve sete costelas quebradas por um grupo de PMs, que tomaram sua câmera.
3) Caça ao estudante na Sexta-Feira Sangrenta (21/6/1968)
Uma de suas fotos mais famosas, mostra um estudante caindo no chão enquanto é perseguido por dois policiais com cassetetes nas mãos. Evandro testemunhou toda a perseguição, até o jovem ser atingido, pouco antes do momento da foto. Em entrevista ao G1, em setembro de 2023, quando foi lançada uma exposição sua no Centro Cultural Banco do Brasil do Rio, ele contou que o rapaz deu um gemido e ficou estirado no chão. Os policiais tentaram levantá-lo e, em seguida, foram atrás do fotógrafo, que precisou correr muito para escapar e salvar a imagem.
4) Passeata dos Cem Mil (26/6/1968)
Outra imagem muito conhecida realizada pelo fotógrafo, e mais emblemático registro da passeata na Cinelândia, que reuniu estudantes, intelectuais, artistas, políticos e pessoas de outros setores contra a ditadura militar. Após o assassintado de Edson Luís, os ânimos se acirraram, e o movimento estudantil começou a convocar cada vez mais protestos. Diversos alunos foram presos. Acompanhada por um forte aparato policial, a manifestação durou cerca de três horas, trazendo um cartaz com os dizeres: “Abaixo a ditadura. Povo no poder”. No entanto, como havia censores dentro do Jornal do Brasil na época, a foto de Evandro Teixeira não foi para a capa. Outra, sem o cartaz, ficou no lugar.
5) Multidão no enterro de Pablo Neruda (25/9/1973)
Com o assassinato de Salvador Allende durante o golpe militar no Chile, a imprensa começou a procurar o poeta Pablo Neruda, apoiador do presidente deposto e membro do Partido Comunista Chileno. Evandro Teixeira recebeu a notícia de que ele havia sido internado e foi o primeiro nome da imprensa a saber da morte do do presidente. Foi o único fotojornalista a registrar Neruda ainda na clínica, logo após a morte. Pediu à viúva, Matilde Urrutia, que permitiu que ele a acompanhasse até a casa do casal, onde o corpo foi velado somente por amigos e familiares. Seguia sendo o único fotógrafo presente, registrando tudo, e contou que a casa havia sido destruída pelos militares. Acompanhou a família no cortejo pelas ruas da cidade, na única vez que não conseguiu conter as lágrimas durante uma pauta. Uma multidão compareceu, naquela que seria a primeira grande manifestação contra o regime do general Augusto Pinochet.
6) Chico Buarque, Tom Jobim e Vinicius de Moraes deitados em mesas (19/10/1979)
Nem só de imagens fortes se fez a carreira do grande fotojornalista. No aniversário de 66 anos de Vinicius de Moraes, ele, Tom Jobim e Chico Buarque, que costumavam frequentar a churrascaria Carreta, em Ipanema, estavam lá com a então companheira do Poetinha, Marta Rodriguez Santamaria, a Martita, bebendo, quando Evandro Teixeira chegou para fazer uma foto do aniversariante para o Jornal do Brasil. “E nada do Vinicius. O Vinicius ficava lá sentado, tomando uísque, que ele não era de chope, e beijando a Martita, ‘meu amor, meu amor, meu amor'”, conta Chico no documentário Evandro Teixeira — Instantâneos da Realidade (2003). Até que Evandro — que, segundo cantor e compositor, também estava bebendo chope, disse que tinha que fazer a foto e ir embora. Vinicius chamou Tom e Chico para os fundos da churrascaria, onde havia uma área descoberta, com boa iluminação natural. Os três se deitaram sobre mesas que estavam lá. Evandro pediu ajuda aos funcionários do lugar, que trouxeram um tamborete. “Ele tirou uma foto e caiu”, diverte-se Chico. A máquina quebrou, e Evandro só conseguiu fazer uma imagem. Voltou para o jornal com o registro descontraído que ficou para a história.