10 papéis marcantes de Ney Latorraca na televisão e no teatro
Entre os destaques da carreira do artista, estão o Conde Vlad, da novela Vamp, exibida entre 1991 e 1992 na Globo, e a peça O Mistério de Irma Vap

Ney Latorraca morreu nesta quinta (26), aos 80 anos, no Rio de Janeiro. O ator enfrentava um câncer de próstata desde 2019 e estava internado desde o dia 20 na Clínica São Vicente, na Gávea, em função da doença. A causa da morte foi sepse pulmonar, infecção que se inicia nos pulmões e provoca uma resposta inadequada do organismo, que ataca os próprios órgãos e tecidos.
Ele deixa o marido, o ator e diretor Edi Botelho, 66, com quem foi casado por 29 anos. O velório será aberto ao público, nesta sexta (27), no Theatro Municipal, das 10h30 às 13h30. A cremação será restrita à família e aos amigos, às 15h.
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Nascido em Santos (SP) em 25 de julho de 1944, ele era filho de artistas: o pai, Alfredo, era cantor e crooner de boates, e a mãe, Tomaza, corista. Ele começou a atuar cedo: ao seis anos, participou de uma radionovela da rádio Record.
Ao longo de sessenta anos de carreira, o artista se destacou em papéis no teatro e na televisão, principalmente em novelas da TV Globo, onde atuou em dezessete novelas, seis minisséries e mais de uma dezena de seriados e especiais, incluindo um musical e um humorístico. Ele também participou de 23 longas-metragens e treze peças.
Seu último trabalho em novelas na Globo foi em 2017, quando fez uma participação em Novo Mundo, como Sir Edward Millman.
Veja dez de suas atuações mais marcantes:
1) Escalada (1975)
Sua primeira novela na Globo era assinada por Lauro César Muniz e exibida ainda em preto e branco. Seu personagem, Felipe, era mudo, mas isso não impediu que caísse nas graças do público. “Ele só balançava a cabeça. E o que aconteceu? Um mês depois que a novela estreou, o personagem fazia tanto sucesso que todo mundo queria saber quem era aquela pessoa jogada pelos cantos, muda”, contou ele. “Eu nunca apresentei aquele padrão imposto de galã, que precisava ter uma virilidade explícita. Pelo contrário. Mas Felipe fez sucesso, principalmente com o público feminino. Na época, havia um concurso em nível nacional para eleger o rei da televisão. Em seis semanas, eu já estava concorrendo com Tarcísio Meira e Roberto Carlos”. O personagem era par romântico de Fernanda (Nathalia Timberg), quinze anos mais velha que Felipe e divorciada. A trama dos dois ajudou a trazer à discussão temas como relacionamentos com diferenças de idade e o divórcio.
2) Estúpido Cupido (1976 a 1977)

Na novela, viveu Mederiquis, fã de Elvis Presley e líder da banda de rock Personélitis Bóis. A princípio, ele não queria fazer o papel, já que tinha 33 anos e viveria um adolescente. Mas o personagem acabou conquistando enorme popularidade. “Virou um grande sucesso, estourou mesmo. Fizeram história em quadrinhos, chiclete, figurinha – e eu era uma das figurinhas mais difíceis”, contou o ator.
3) Rabo-de-Saia (1984)

Na minissérie, interpretou Quequé, um caixeiro-viajante mulherengo que tinha três esposas, que não sabiam umas das outras, conquistando o público com seu carisma. Ele usava um terno de cor diferente com cada uma delas: bege com Eleuzinha (Dina Sfat), azul-marinho com Santinha (Lucinha Lins) e branco com Nicinha (Tássia Camargo).
4) Anarquistas, Graças a Deus (1984)

Outro papel marcante foi o do italiano Ernesto Gattai, na minissérie, baseada no livro de estreia da escritora Zélia Gattai, homônimo, de 1979, com suas memórias da vida em família – ela era filha de um casal de italianos que migraram para São Paulo no início do século XX, Ernesto e Angelina, e tinha quatro irmãos mais velhos. Seu pai decidira vir ao Brasil atrás do sonho da Colônia Cecília, reduto anarquista no Paraná.
5) Um Sonho a Mais (1985)

Ney Latorraca interpretou na novela o milionário Antônio Carlos Volpone, que fugiu para o Egito ao ser acusado de matar o pai de sua esposa, Estela (Sylvia Bandeira), Dr. Telles (Rubens Corrêa). Estela casa-se com o rival de Volpone, Orlando Aranha (Fúlvio Stefanini), e tem uma filha. Dezoito anos depois, ele vê a ex-noiva passeando no Cairo, percebe que ainda a ama e decide voltar ao Brasil para esclarecer o assassinato e se aproximar da amada. Para investigar quem é o verdadeiro assassino e se aproximar de Estela, Volpone finge que está moribundo e se disfarça, encarnando personagens como a executiva Anabela Freire, o médico Nilo Peixe, o industrial Augusto Melo Sampaio e o motorista André Silva. O milionário conta com a ajuda de seu amigo e fiel secretário, Mosca (Marco Nanini), que também tem um disfarce, Florisbela Freire, braço-direito de Anabela. Esse núcleo conta ainda com Clarabela, vivida por Lula (Antônio Pedro), e a trama com as personagens femininas interpretadas por homens desagradou à censura e sofreu diversos cortes. Foi por causa da novela que Latorraca acabou protagonizando a peça O Mistério de Irma Vap, seu maior sucesso no teatro.
6) O Mistério da Irma Vap (1986 a 1997)

Ao lado de Marco Nanini, aliás, Ney Latorraca viveu seu maior sucesso no teatro. Os dois ficaram onze anos em cartaz com a peça do americano Charles Ludlam, em montagem dirigida por Marília Pêra, que estreou em 1986. No espetáculo, uma sátira de vários gêneros teatrais e cinematográficos, os dois interpretavam oito personagens, com trocas rápidas de figurino. O espetáculo teve um público estimado de três milhões de espectadores e entrou para o Guinness Book como a peça com o mesmo elenco por mais tempo em cartaz. Em 2006, a dupla atuou no filme Irma Vap — O Retorno (2006), dirigido por Carla Camurati.
7) TV Pirata (1988 a 1992)

No humorístico, Neyla, como era chamado por amigos, interpretou Barbosa, um dos personagens mais marcantes do programa. O idoso era “tarado” e contava histórias de forma confusa, que sempre tinham o mesmo final: “E morreu…”. Barbosa também repetia a última palavra das frases alheias.
8) Vamp (1991 a 1992)
Como o vampiro Vlad, na novela Vamp (1991), fez enorme sucesso. Na trama, ele é o conde Vladymir Polanski, chefe dos vampiros, a quem a cantora Natasha vendeu sua alma para conquistar o estrelato. Eles vão gravar um clipe da artista na fictícia cidade de Armação dos Anjos e, lá, Natasha descobre que, em uma encarnação passada, foi Eugênia, por quem Vlad era apaixonado, mas que preferiu ficar com Rocha, a outra vida do capitão reformado Jonas Rocha, um viúvo que vive com seus seis filhos. O conde passa, então, a perseguir Natasha e a família do capitão. Ney contou que quase recusou o papel. “Eu não queria fazer Vamp. Na verdade, o Victor Fasano é que faria o Vlad. Eu estava em cartaz com O Mistério de Irma Vap, em São Paulo, e achava que seria puxado”, revelou ele em entrevista a VEJA em 2017. Sua mãe o convenceu a fazer ao menos uma participação na trama, que inicialmente seria de nove capítulos. Porém, como se sabe, ele acabou ficando a novela inteira. “Fiz a primeira cena em frente ao teatro em São Paulo, era uma cena em que eu levantava os óculos. Na hora senti que não iriam ser só nove capítulos, aquilo ia dar certo. Consegui conciliar os dois e foi quando começou a entrar dinheiro mesmo na minha vida”, disse. Em 2019, Ney voltou a interpretar Vlad, na série Cine Holliúdy.
9) Zazá (1997)

Ney havia perdido a mãe em 1994 e estava muito mal. Seu primeiro papel na TV depois disso foi na novela Zazá, de Lauro César Muniz. Ele interpretou o vilão Silas, advogado da família da excêntrica milionária Marisa Dumont, a Zazá, que busca sabotar os planos da matriarca para seus sete filhos e tomar as empresas para si. “Fui muito bem tratado pela imprensa, diziam que era a volta de Latorraca. Acho que era uma maneira de me agradar, porque sabiam que eu estava muito mal”, disse Ney.
10) Alexandre e Outros Heróis (2013)

O especial de humor foi baseado no livro homônimo de Graciliano Ramos, com adaptação de Luís Alberto de Abreu e Luiz Fernando Carvalho, que também dirigiu a trama. A comédia gira em torno das histórias de Alexandre (Ney Latorraca), um mentiroso do sertão. À noite, o idoso recebe os amigos para contar aventuras como a vez em que ficou com o olho torto depois de montar uma onça. Sua amada, Cesária (Luci Pereira), por quem se encantou quando eram crianças, sempre confirma os causos mirabolantes do marido.
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