10 filmes para conhecer a obra de Cacá Diegues, morto aos 84 anos
Um dos fundadores do movimento Cinema Novo e imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL), cineasta teve complicações de uma cirurgia na próstata

Morreu nesta sexta (14), aos 84 anos, no Rio de Janeiro, o cineasta Cacá Diegues, por complicações de uma cirurgia na próstata. Um dos fundadores do movimento Cinema Novo, ele era imortal da Academia Brasileira de Letras (ABL). Ainda não há informações sobre o velório e o funeral.
Nascido em 9 de maio de 1940, em Maceió, Carlos José Fontes Diegues se mudou para o Rio aos seis anos. Ele teve três filhos: a cineasta e editora Isabel Diegues e o produtor audiovisual Francisco Diegues, do casamento com a cantora Nara Leão (1942-1989), e Flora Diegues (1986-2019), da união com a produtora Renata Almeida Magalhães, com quem era casado desde 1981.
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Em seus quase vinte filmes, ele abordou temas como as grandes questões sociais do Brasil, da miséria à temática racial, passando pela redemocratização e a modernização do país. Desde 2022, Cacá Diegues estava produzindo seu vigésimo longa, previsto para ser lançado no segundo semestre de 2025,
Deus Ainda é Brasileiro tinha toda sua filmagem acontecendo em Alagoas, em uma homenagem ao estado natal do cineasta. Mas, segundo o jornal O Globo, a produção estava parada, pois ainda precisava arrecadar cerca de 700 000 para sua conclusão.
Veja dez produções marcantes de sua carreira:
Cinco Vezes Favela (1962)
Considerado um dos marcos inaugurais do Cinema Novo, o longa é formado por cinco episódios, cada um protagonizado por um personagem diferente no contexto das favelas e realizado por um cineasta diferente: além de Cacá, Marcos Farias, Miguel Borges, Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hirszman são os diretores. O episódio de Cacá é Escola de Samba, Alegria de Viver, sobre um jovem sambista que assume a direção da escola poucos meses antes do Carnaval, enfrentando problemas de dívidas, rixa com uma agremiação rival e conflitos com sua cobiçada esposa, que é envolvida com a luta sindical. O elenco tem Oduvaldo Viana Filho, Maria da Graça, Jorge Coutinho, Abdias do Nascimento, Creston Portilho e o próprio Cacá, que assinava Carlos Diegues.
Ganga Zumba (1963)
No Nordeste brasileiro, entre os séculos XVI e XVII, alguns escravizados de um engenho de cana-de-açúcar planejam uma fuga para o Quilombo dos Palmares, uma comunidade de negros fugidos da escravidão, na Serra da Barriga, em Alagoas. Entre eles, encontra-se o jovem Ganga Zumba (Antonio Pitanga), futuro líder daquela república revolucionária, a primeira de toda a América.
Os Herdeiros (1972)
O filme acompanha a história de uma família brasileira, de 1930 a 1964, ano do golpe militar. Jorge Ramos (Sérgio Cardoso) é um jornalista ambicioso que se casa por interesse com a filha de um arruinado fazendeiro de café. Com a volta da democracia (após a ditadura instaurada por Getúlio), em 1946, ele retorna à cidade e se transforma, aos poucos e graças a constantes traições, em um político poderoso. Até que seu próprio filho vinga suas vítimas, aliando-se aos militares e traindo o pai.
Joanna Francesa (1973)
Em 1930, Joanna (a atriz francesa Jeanne Moreau) é a dona de um prostíbulo em São Paulo que leva uma vida sofisticada ao lado do cônsul francês. Um cliente alagoano, apaixonado por ela, a leva para sua fazenda de cana-de-açúcar, onde Joanna entra em contato com costumes de um mundo até então desconhecido por ela. Fascinada por esse novo universo, acaba assumindo a liderança da família, que está em plena decadência.
Xica da Silva (1976)
Inspirado em uma personagem que realmente existiu, o filme foi a maior bilheteria da carreira de Cacá Diegues, tendo sido visto por 3 183 493 de espectadores. Na segunda metade do século XVIII, Xica da Silva (Zezé Motta), uma mulher negra escravizada, torna-se o centro das atenções no Distrito Diamantino, onde estão as minas mais ricas do país. João Fernandes (Walmor Chagas), representante da Coroa Portuguesa, apaixona-se por ela e, após alforriá-la, a transforma na Rainha do Diamante, satisfazendo todos os seus desejos extravagantes. Alertado pelos inimigos do casal, o rei de Portugal manda um emissário a fim de impedir que o poder de Xica na colônia cresça.
Bye Bye Brasil (1979)
Lançado no ano da Anistia, o filme conta da Caravana Rolidei, uma trupe de artistas formada por Salomé (Betty Faria), Lorde Cigano (José Wilker) e Andorinha que cruza o Nordeste do Brasil fazendo espetáculos para camponeses, cortadores de cana e indígenas, sempre fugindo da concorrência da televisão. A eles se juntam o sanfoneiro Ciço (Fábio Jr.) e sua mulher, Dasdô (Zaira Zambelli), com os quais a caravana atravessa a Amazônia até chegar a Brasília, vivendo diversas aventuras pelas estradas do país. Aparentemente uma comédia, o filme aborda temas como o sonho da redemocratização, o genocídio indígena, a crescente industrialização do país e a popularização da televisão.
Quilombo (1984)
Em torno de 1650, um grupo de escravizados se rebela em um engenho de Pernambuco e ruma ao Quilombo dos Palmares, no estado vizinho de Alagoas, onde uma nação de ex-escravizados fugidos resiste ao cerco colonial. Entre eles, está Ganga Zumba (Tony Tornado), príncipe africano e futuro líder de Palmares. Mais tarde, seu herdeiro e afilhado, Zumbi (Antônio Pompêo), contestará as ideias conciliatórias de Ganga Zumba, enfrentando o maior exército jamais visto na história colonial brasileira.
Tieta do Agreste (1996)
Baseado no livro homônimo de Jorge Amado, o longa conta a história de Tieta (Patrícia França), que, aos 17 anos, é expulsa pelo pai de Santana do Agreste, cidade fictícia na Bahia, por falta de decoro. Vinte e seis anos depois, Tieta (Sônia Braga) volta de São Paulo rica e famosa e é recebida como heroína em sua cidade natal. Seu pai, Zé Esteves (Chico Anysio), e sua irmã, Perpétua (Marília Pêra), tentam explorá-la ao máximo, mas uma repentina paixão pelo sobrinho, Ricardo (Heitor Martinez), e a revelação da verdadeira origem de seu dinheiro acabam gerando um novo e definitivo escândalo.
Deus é Brasileiro (2003)
Segunda maior bilheteria da carreira do cineasta, com 1,6 milhão de ingressos vendidos, o longa é uma livre adaptação do conto O Santo que Não Acreditava em Deus, de João Ubaldo Ribeiro. Na trama, Deus (Antonio Fagundes), cansado de tantos erros cometidos pela humanidade, resolve tirar férias dela e descansar em alguma estrela distante. Antes, Ele precisa encontrar um substituto para ficar em Seu lugar e decide procurá-lo no Brasil. Seu guia na busca será o pescador Taoca (Wagner Moura). Juntos, eles rodarão o país em busca do suplente ideal.
O Grande Circo Místico (2018)
Última produção lançada pelo diretor, é baseado no poema homônimo de Jorge de Lima, que originou as músicas escritas por Edu Lobo e Chico Buarque para um balé. O filme conta a história de cinco gerações de uma mesma família circense desde a sua inauguração em 1910 aos dias de hoje. Conduzidos por Celavi (Jesuíta Barbosa), o mestre de cerimônias do Grande Circo Knieps que nunca envelhece, acompanhamos as aventuras e amores dos Knieps, do apogeu à decadência, até o surpreendente final, onde a realidade e a fantasia se encontram num universo místico.
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