Miguel Rio Branco
Resenha por Rafael Teixeira
Galerias de arte costumam ser lugares impessoais, algo como câmaras gélidas, silenciosas e imaculadamente brancas. Subverter essa imagem tão recorrente é, de saída, uma virtude de Mécanique des Femmes — La Suíte, individual do fotógrafo Miguel Rio Branco na Silvia Cintra + Box 4. Para recebê-la, o espaço expositivo passou por total transformação: paredes foram pintadas de cinza, o chão ganhou placas de MDF em diversos tons de vermelho, a iluminação foi reduzida, objetos pessoais do artista se espalham e trilha sonora de jazz suave domina o ambiente. O clima ao mesmo tempo uterino e sensual se estende apropriadamente às obras — como o nome da mostra entrega, evocativas da feminilidade. Trata-se de uma sequência da exposição que o artista realizou na mesma galeria, há dois anos. Agora, catorze trabalhos foram reunidos, naturalmente com o predomínio de fotografias. A maioria está arrumada em dípticos e trípticos, caso do belíssimo Hotel Mónaco (2014) e de Água Verde (2015), este exibido sobre uma caixa de luz. Dezenas de imagens dispostas de maneira aleatória numa grande placa de zinco em uma das paredes sugerem o processo criativo através do qual Rio Branco chega a essas combinações de fotos. Igualmente curiosas são três obras sem relação com fotografia, técnica pela qual o artista se consagrou: uma pintura abstrata, uma série de aquarelas sobre papel e uma espécie de instalação formada por uma enorme caixa de vidro cheia de objetos em uma mesa.