Alice Mandou um Beijo

- Direção: Rodrigo Portella
- Duração: 70 minutos
- Recomendação: 16 anos
Resenha por Jefferson Lessa


Quando o espetáculo começa, os familiares da personagem-título estão voltando de seu enterro. Penduram casacos, abraçam-se, enxugam as últimas lágrimas. O silêncio compreensível é rompido por Jandira (Suzana Nascimento): a irmã do meio liga o toca-discos, provocando protestos do patriarca (José Eduardo Arcuri) e da filha mais velha (Vivian Sobrino). Jandira defende-se dizendo que a caçula gostaria de uma festa. Seu filho (Luan Vieira), que é autista, tira fotos dos parentes. Menos confortável, o viúvo (Tairone Vale), que mora ali de favor, mantém uma distância segura de todos. A cena inicial dá o tom da peça, escrita e dirigida por Rodrigo Portella: morta, Alice está mais presente do que nunca. Seu espectro desenterra lembranças, inspira acusações e reaviva ciúmes. Não, não se trata de um dramalhão. Momentos de humor, ácidos e politicamente incorretos (um viva a eles), não são poucos durante a sessão. O trunfo maior da montagem é sua honestidade. Baseada em memórias do diretor, também fundador da jovem Cia Cortejo, sediada em sua Três Rios natal, Alice Mandou um Beijo comove profundamente por compor um retrato de família ao mesmo tempo amoroso e crítico, irônico e naïf, acre e doce como a vida. Essa impressão é possível graças ao excelente trabalho dos atores, sem excessos fáceis. Também concorrem para o precioso resultado a luz correta, a trilha sonora sutilmente evocativa de outro tempo, a direção precisa e figurinos adequados.