A Santa Joana dos Matadouros
- Duração: 120 minutos
- Recomendação: 16 anos
Resenha por Rafael Teixeira
Integrando um grupo de missionários, a ingênua Joana Dark (Luisa Arraes) se dedica a aliviar como pode a miséria dos operários da indústria de carne enlatada de Chicago, assolados pelo frio e pela crise econômica. Conforme se embrenha nesse universo, porém, sua inocência e sua fé serão dolorosamente postas à prova ante as tramoias dos patrões, liderados por Mauler (João Velho), proprietário dos matadouros de onde sai a matéria-prima para as fábricas. Inspirado pelos efeitos devastadores da quebra da bolsa de Nova York, em 1929, o drama de Bertolt Brecht (1898-1956) consolida as teses políticas de esquerda do autor, fincadas na ideia de luta de classes, resultado da dinâmica perversa de exploração dos pobres pelos ricos. O texto caminha no fio da navalha, entre um aparente proselitismo ideológico e as matizes humanas dos personagens — a começar pela protagonista, evocativa da heroína francesa Joana D’Arc. Dirigida por Marina Vianna e Diogo Liberano, a montagem espana a poeira eventualmente depositada sobre o enredo e acentua a incômoda atualidade de suas reflexões sociais. A direção de arte de Bia Junqueira é um atestado de coautoria representado pelo uso de camisas triviais que adquirem força simbólica nos figurinos e no cenário (atenção para a cena inicial, quando as peças de roupa sugerem a neve). Formado ainda por Leandro Santanna, Leonardo Netto, Gunnar Borges, Adassa Martins, Sávio Moll e Vilma Melo, o elenco revela uma interessante heterogeneidade, que se converte a favor do coletivo.