Cronista visual J. Carlos ganha exposição virtual com 84 obras
Além de grande observador da política brasileira, artista ajudou a estabelecer o design gráfico no país
Um dos grandes nomes do design gráfico brasileiro, o ilustrador J. Carlos (1884-1950) será homenageado numa mostra virtual que vai reunir 84 desenhos do artista visual. A exposição poderá ser visitada on-line pelo site da galeria Danielian a partir desde sábado (8). No mesmo dia, uma live no perfil do Instagram da galeria, com o curador Rafael Peixoto, às 17h, vai marcar a inauguração da mostra.
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Dividida em cinco segmentos – “As capas”, “A política”, “A sociedade”, “A revista” e “Les femmes” – a exposição está montada na galeria, que fica na Gávea, mas ainda está fechada ao público por causa da pandemia do novo coronavírus.
A exposição Além do Tempo cobre o período de 48 anos da produção de J. Carlos, como ficou conhecido José Carlos de Brito e Cunha.
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Para selecionar as obras da exposição, Rafael Peixoto mergulhou nas trezentas obras do acervo que pertenceu a Carlos Alberto de Brito e Cunha, neto do artista. “J. Carlos atuou como um cronista visual, traçando os jogos políticos, as dicotomias sociais, e as nuances dos primeiros cinquenta anos da República no Brasil, temperados por um senso de humor ácido, debochado e crítico”, conta o curador.
O projeto desta exposição foi idealizado há dez anos. Ao longo deste período as obras foram restauradas e podem ser vistas agora, ainda que virtualmente.
“A revisitação de sua obra não se limita tão somente ao aspecto histórico, como também permite ampliar o olhar sobre a qualidade formal, estética e poética da produção do artista. A liberdade criativa, impressa na fluidez precisa de suas linhas, instiga a repensar seu lugar no cenário artístico brasileiro, assim como na formação de um imaginário nacional que supera os limites do tempo”, destaca ainda o curador.
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As charges de J. Carlos revelam também a dicotomia experimentada pela mulher na sociedade no início do século 20, no que Peixoto define como “busca por independência dos padrões patriarcais em choque com uma visão sexualizada da figura feminina, que ainda hoje atravessa as nossas estruturas”.
A icônica figura da melindrosa na obra de J. Carlos “ao mesmo tempo em que insinua malícia e sensualidade também sugere uma libertação moral vanguardista em sua época”.
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Além de arguto observador do cenário político e do comportamento da sociedade brasileira, J. Carlos influenciou o design gráfico no Brasil. “Como diretor artístico, criou identidades visuais, e no âmbito da diagramação propunha soluções e recursos que ainda hoje surpreendem por seu caráter arrojado e dinâmico”, destaca Peixoto.