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Minha casa, meu hotel

Cariocas abrem sua residência para o aluguel de temporada, negócio propício para uma cidade que tem visitantes de mais e quartos de menos

Por Carla Knoplech
Atualizado em 5 jun 2017, 14h43 - Publicado em 28 dez 2011, 14h44

Basta pôr os pés na rua para ver que o Rio de Janeiro está apinhado de gente. Praias lotadas, cartões-postais superconcorridos e o intenso vaivém pela orla são as faces mais visíveis dessa invasão de visitantes. Com vocação flagrante para o turismo, setor responsável por uma fatia de 15% do PIB estadual, nossa cidade recebe cerca de 2 milhões de estrangeiros ao longo do ano. Se a hospitalidade e as paisagens cariocas são aprovadas por unanimidade, em contrapartida há reclamações sobre outras áreas, como aeroportos, transporte público e sujeira nas ruas. Na lista de itens carentes de melhora, pode-se incluir também a rede hoteleira, que nem sempre consegue dar vazão à demanda superaquecida nesta época do ano. Como ocorre nesses casos em que a procura supera a oferta, a tendência é os preços dispararem. De acordo com um levantamento feito em 2010 pelo site Hoteis.com, especializado em reservas on-line, o Rio tem a quinta diária mais cara do mundo, atrás apenas de Nova York, Londres, Paris e Veneza. Nesse lapso de infraestrutura, um tipo de negócio ganha corpo por aqui: os aluguéis de temporada. Proprietários aproveitam para faturar um troco oferecendo a quem vem de fora um ou mais quartos de sua residência. Há até aqueles que radicalizam e saem de casa para disponibilizá-la inteiramente. ?Conheço gente que já se comprometeu com hóspedes até a Copa do Mundo?, conta Laudmiro Cavalcanti, representante do Conselho Regional de Corretores de Imóveis do Rio de Janeiro.

A atriz Malu Lopes, que recebe turistas em Ipanema: uma forma de ganhar dinheiro e conhecer gente
A atriz Malu Lopes, que recebe turistas em Ipanema: uma forma de ganhar dinheiro e conhecer gente ()

Para o locador, essa é uma forma de ganhar dinheiro, mas também de fazer amizades e se aproximar de outras culturas. Há dois anos a atriz e artista plástica Malu Lopes reforça seu orçamento alugando um quarto de seu apartamento na Rua Vinicius de Moraes, em Ipanema. Nesse período, já acolheu mais de 100 pessoas de diversos países: Argentina, Romênia, República Checa e Dinamarca, entre outros. Ela analisa as preferências de cada visitante antes de sugerir as melhores praias, restaurantes e passeios ao gosto do freguês. Malu tem experiência no assunto. Nos anos 70, quando ainda atuava como aeromoça, teve o primeiro contato com esse tipo de hospedagem lá fora. ?O esquema existe na Europa há muito tempo?, diz. ?Como não gosto de hotel, acabei virando fã e rodei o mundo dormindo em casas de família.? Além de ter um caráter menos impessoal, esse tipo de locação leva vantagem sobre as hospedarias convencionais no que diz respeito ao bolso. Em seu perfil no site Airbnb, uma das principais redes sociais sobre o tema, com 3?000 imóveis brasileiros cadastrados, Malu anuncia o quarto a 95 dólares a diária, café da manhã incluído. O valor equivale a cerca de metade do preço cobrado por um duas-estrelas do bairro.

Embora vista com ressalvas por muita gente que acha arriscado receber em casa eventualmente um desconhecido, a prática vem de longa data. Na Europa, ela cresceu após a II Guerra e ganhou até um termo para identificar esse modelo de acomodação: bed and breakfast. Ele resume bem a simplicidade dos lugares e o desejo do cliente de ter apenas um pouso para dormir e fazer o desjejum. A expressão, inclusive, batiza um site que reúne endereços de mais de cinquenta países. Nessa mesma linha há o nacional Cama e Café, que, em termos de Rio, limita sua lista de opções a Santa Teresa. A internet tem sido mesmo decisiva para impulsionar o negócio, que, diga-se, prima pela informalidade. Ela se tornou a principal aliada tanto do locador quanto do cliente no que tange à segurança. Tempos atrás, o acordo era como um voo no escuro: o dono do imóvel tinha poucas informações sobre o hóspede a caminho, que, por sua vez, quase nada sabia sobre o apartamento ao qual se destinava. A despeito das facilidades de comunicação atuais, Alexandre Sampaio, presidente da Federação Brasileira de Hospedagem e Alimentação, avisa: ?É preciso que o consumidor fique alerta, pois esses sites não dão garantias?.

Por aqui, o movimento está em expansão, porém ainda é acanhado se comparado ao do exterior. Em Paris, 25% dos leitos disponíveis para visitantes são provenientes de aluguel de temporada. Esse número despenca para 5% no Rio. Com a aproximação da Copa do Mundo e da Olimpíada, a tendência, no entanto, é de crescimento do setor hoteleiro em todas as suas vertentes. Atento às oportunidades, o advogado Luiz Fernando Barreto vem alugando a turistas um imóvel de dois quartos em Botafogo. ?Em vez de botar na mão de uma corretora, preferi oferecê-lo na internet?, diz ele. ?Agora, virei um anfitrião.? Visitantes e dinheiro, ambos são bem-vindos.

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