Ensaio sobre a solidão
Drama de Marcelo Rubens Paiva aborda com delicadeza algumas aflições contemporâneas
AVALIAÇÃO ✪✪✪
Eficiente instrumento de apoio às ações dos órgãos de segurança pública, o Disque-Denúncia recebe, no Rio, cerca de 12?000 telefonemas por mês. Protegidos pelo anonimato, cidadãos passam informações importantes para o combate à criminalidade. Alvo de pesquisas feitas pela atriz Esther Jablonski, a instituição inspirou a montagem de C?est la Vie, em cartaz no Sesc Rio Casa da Gávea. No texto de Marcelo Rubens Paiva, esse ponto de partida real leva a um drama curioso.
A sessão traz pitadas de humor, delicadeza e surrealismo ? referências sutis à obra do artista francês Marcel Duchamp (1887-1968) são sugeridas pelos diretores Gilberto Gawronski e Luis Fernando Philbert. Esther interpreta Olga, professora de francês aposentada, solitária e alheia ao mundo à sua volta. Sob o pseudônimo Andorinha, ela liga todas as tardes para o Disque-Denúncia. Oferece revelações bombásticas ? entraram em sua casa, roubaram suas memórias e tudo o mais que havia em sua cabeça ? e conta sonhos. Do outro lado da linha, Homero (Adriano Garib) acaba aproximando-se dela, apesar dos avisos do chefe Lúcio (Zemanuel Piñero) para tomar cuidado. No papel da personagem carente e doida, a atriz se destaca. No cenário de Nello Marrese, detalhes como o piso em preto e branco e um telefone antigo contribuem para o bom andamento de uma peça que, por trás dos devaneios, aborda questões como carência, solidão e lacunas de comunicação na era virtual.
C?est la Vie (80min). 12 anos. Estreou em 21/10/2011. Sesc Rio Casa da Gávea (80 lugares). Praça Santos Dumont, 116, Gávea, ☎ 2239-3511. Sexta e sábado, 21h30; domingo, 20h. R$ 30,00 (sex.) e R$ 60,00 (sáb. e dom.). Bilheteria: a partir das 17h30 (sex. a dom.). Até 18 de dezembro.