Três perguntas para Aderbal Freire-Filho
Em cartaz com Incêndios, o diretor também comanda Deixa que Eu Te Ame, de Alcione Araújo (1945-2012), no Teatro Eva Herz
Você já dirigiu uma obra de Alcione Araújo, Bente-Altas: Licença para Dois, em 1976. Que lembranças tem dessa experiência? Três jovens atores mineiros assistiram a uma peça que dirigi e me convidaram para montar, em Belo Horizonte, esse texto do Alcione. Eram o José Mayer, a Vera Fajardo e o Antônio Grassi. Lembro dos meus papos com o Alcione, no teatro, na casa dele, nas ladeiras de Minas.
O Alcione era muito participativo nos ensaios? Ele ia a muitos e ficava sentado na última fila, calado. Era um autor com plena consciência de que o texto precisa do palco para ser uma obra completa, e de que a escrita da cena tem sua própria poética. Um espetáculo é mais claro para o autor do que para qualquer espectador ou crítico. Por isso, desde o Alcione, e ao contrário da maioria dos diretores, passei a preferir montar autores vivos. Fico arrasado de saber que Shakespeare não vai ver meu Hamlet.
Que traços da obra do Alcione sobressaem em Deixa que Eu Te Ame, um texto inédito? A beleza da arte, presente nos seus títulos e na poesia de suas palavras, a miséria da condição humana, o humor mordaz e a fé no teatro.