Girassóis da Rússia
Ambientação é o maior trunfo da montagem de A Gaivota, de Tchekov, no Teatro Gláucio Gil
AVALIAÇÃO ✪✪✪??
Inicialmente reconhecido pela qualidade de seus contos, o russo Anton Tchekov (1860-1904) por pouco não teve abreviada a sua carreira de dramaturgo. Em 1896, vaias ensurdecedoras ouvidas na estreia de A Gaivota o levaram a pensar em mudar de ramo. Dois anos depois, porém, nova montagem consagrou essa obra-prima do autor de Três Irmãs, Tio Vânia e O Jardim das Cerejeiras. A força do clássico não intimidou o diretor estreante Bruno Siniscalchi. Ele também é responsável pela adaptação do texto, ao lado de Marcela Oliveira, encenada no Teatro Gláucio Gill.
Na história, o jovem Trepliov (Gabriel Pardal) busca, em suas peças, romper com a velha tradição teatral de sua época, que ele vê representada pela própria mãe, a atriz Arkádina (Carla Ribas), e pelo namorado dela, o também autor Trigórin (Ricardo Gonçalves). Soma-se a isso uma reviravolta em sua relação com Nina (Julia Lund), moça aspirante aos palcos. A adaptação é pouco invasiva. Mesmo recorrendo a sutis citações de outros autores, como Hannah Arendt, Samuel Beckett e Martin Heidegger, preserva do original a hábil mescla de drama humano com reflexão sobre o fazer teatral.
Completado por Ivor Lancellotti, Karine Teles e Thales Coutinho, o elenco é nunca menos do que correto, apesar de um tanto desigual a ala feminina se destaca. O maior trunfo é mesmo a ousadia da ambientação: o teatro abriga sessenta espectadores no espaço destinado normalmente às coxias, enquanto 6000 girassóis artificiais ocupam as cadeiras da plateia e o chão do proscênio.
A Gaivota (110min). 16 anos. Estreou em 31/8/2012. Teatro Gláucio Gill (60 lugares). Praça Cardeal Arcoverde, s/nº, Copacabana, ☎ 2332-7904, ? Cardeal Arcoverde. Quinta a segunda, 20h30. R$ 20,00. Bilheteria: a partir das 16h (qui. a seg.). Até 1º de outubro.