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Na batida do rock

Autêntica instituição carioca, a Rádio Cidade volta ao ar após pressão nas redes sociais e oito anos fora do dial

Por Louise Peres
Atualizado em 5 dez 2016, 13h46 - Publicado em 19 mar 2014, 19h32

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Pouco antes das 7 da manhã na última segunda (10), batimentos car­día­cos começaram a ribombar nas caixas de som. Cuidadosamente escolhida, a sonoplastia reproduzia a expectativa dos cariocas naquele momento. Após oito anos de ausência, a Rádio Cidade retornava oficialmente ao dial, ocupando a mesma faixa da época de seu lançamento, em maio de 1977. Tal qual o biscoito Globo, o mate de galão e a grife Company, em voga na década de 80, a fre­quên­cia 102,9 tornou-se uma marca altamente identificada com a cidade (o trocadilho aqui é inevitável). Ao apostar numa programação com ênfase no binômio rock e pop, ela foi líder de audiência na virada dos anos 70 para os 80, e viveu períodos de altos e baixos até sair do ar, em 2006 (veja o quadro), quando passou a existir somente na internet. Desde então, aquela faixa de FM pertencente ao Sistema Jornal do Brasil foi ocupada por outras emissoras. A última delas, uma afiliada da rede Jovem Pan, interrompeu suas atividades em outubro do ano passado. “Fizemos inúmeros estudos de viabilidade, e todos apontaram para a volta da Cidade. O movimento nas redes sociais foi enorme”, diz Alexandre Hovoruski, diretor artístico do Sistema JB.

A decisão de resgatá-la ocorreu no fim de janeiro. Portanto, foram quarenta dias para formular toda a estratégia de programação em busca de recuperar o prestígio de outrora. Ficou definido que a rádio apostará novamente no bom e velho rock, dos Beatles ao Nirvana, com brechas ainda para novas bandas brasileiras e representantes do metal e do indie, tudo isso com o intuito de atrair o ouvinte entre 18 e 34 anos. “A rádio retoma o perfil que nunca deveria ter abandonado”, comemora Mônika Venerabile, uma das vozes marcantes da emissora no passado e que foi uma das atrações da reestreia de agora. Outro direcionamento é no sentido de intensificar a interatividade via redes sociais. Com base nos pedidos de admiradores, antigos sucessos da grade estão de volta, como Hora dos Perdidos e Cidade do Rock, e um vasto material de arquivo será reprisado. No primeiro dia foi ao ar um show do Legião Urbana dentro de um programa Invasão da Cidade gravado em 1992. A próxima homenageada seria a banda Mamonas Assassinas.

A onda nostálgica tem razão de ser e faz justiça a uma estação que balançou as estruturas da radiodifusão no país, promovendo mudanças que vieram para ficar. Até a chegada da Cidade, as FMs na prática se limitavam a emitir a chamada música de elevador, com blocos de canções entremeados com uma narração monocórdia. Na direção oposta, a novata no dial investia em um repertório popular, alternando hits americanos com cantores brasileiros consagrados: Milton, Caetano, Bethânia, Gil, Chico. Como principal inovação, porém, a Cidade introduziu a descontração e o bom humor no estúdio. A equipe inesquecível de locutores, formada por Jaguar (não confundir com o cartunista), Fernando Mansur, Eládio Sandoval, Romilson Luiz e Ivan Romero, instituiu um novo jeito de se relacionar com o ouvinte. “Tínhamos liberdade para improvisar, brincar, fazer piadas. Cada um foi criando a própria personalidade no ar, e esse estilo se alastrou pelas emissoras do país”, recorda Mansur, que relata a trajetória da rádio no livro No Ar, o Sucesso da Cidade. Nessa linha cômica, foram marcantes as paródias feitas na emissora que viraram discos de sucesso. Um carioca de 40 anos há de se lembrar do hit Eu Hoje Vou Me Dar Bem, também conhecido pelo refrão “o nome dela é Waldemar”, impagável versão de Você Não Soube Me Amar, da Blitz, na voz de Sandoval e Romilson Luiz. Outro desdobramento do sucesso foram os shows promovidos pela rádio, que lotavam espaços como o Arpoador e o Maracanãzinho.

O grande desafio agora é tornar o negócio viável comercialmente. Um complicador é o próprio mercado das comunicações, em que a internet surge como mais um elemento na disputa pelas fatias publicitárias. Diante desse funil, um passo fundamental é conquistar uma audiência fiel e com perfil bem definido. “O êxito de uma rádio depende da segmentação”, receita Luiz Calainho, sócio da Dial Brasil, controladora da Mix FM e da Sulamérica Paradiso. “É isso que traz o ouvinte e atrai o setor publicitário”, completa. “A Cidade chega com uma vantagem imensa: está na alma do carioca que tem mais de 30 anos. É uma marca poderosa, um ativo do Rio e do país”, diz o empresário. Não à toa, nesse retorno, foi lançado o slogan “O que é bom é pra sempre”. O tempo dirá.

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