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Quem dá mais?

Superaquecido, o mercado carioca abriga seu primeiro grande leilão de obras contemporâneas

Por Carlos Henrique Braz
Atualizado em 5 jun 2017, 14h58 - Publicado em 1 jun 2011, 16h31

Boa parte dos mais badalados artistas plásticos brasileiros tem ateliê no Rio. A exemplo do que acontece em outras atividades, porém, a maior fatia do que é produzido por eles toma outros rumos e poucas vezes fica nas mãos de colecionadores e instituições cariocas. Boa notícia: como a economia daqui tem pulsado com mais vigor, esse fluxo começa a dar sinais de mudança. Na próxima terça (31), será realizado no hotel Sofitel o 1º Leilão de Arte Contemporânea do Rio de Janeiro, cujo ineditismo, destacado pelos organizadores, está em reunir exclusivamente obras do gênero. Até então, a praxe nesse tipo de evento era juntar um cardápio variado, que abrangia não só os trabalhos mais recentes bem como quadros modernistas, pinturas acadêmicas, peças sacras e pratarias. Desta vez, irão a pregão 130 obras de alguns dos criadores mais valorizados do momento: Vik Muniz, Adriana Varejão e Beatriz Milhazes. Entre outros destaques, o maior lance inicial, de 146?000 reais, cabe a uma escultura de madeira chamada Sombra, de Frans Krajcberg. Em seu encalço vem uma tapeçaria de Beatriz Milhazes, cotada a 128?000 reais. “É uma raridade, a única peça desse tipo feita pela artista e disponível no mercado”, destaca Rodrigo Brant, sócio da galeria Canvas e um dos promotores do leilão.

O setor da arte contemporânea nacional vive um aquecimento sem precedentes na história, movimentando cifras cada vez mais vultosas. Em fevereiro, Adriana Varejão quebrou o recorde de preço obtido por um artista brasileiro vivo. Sua pintura Parede com Incisões a la Fontana II foi arrematada em um leilão da Christie?s, em Londres, por algo em torno de 3 milhões de reais. Desbancou do topo do ranking a tela O Mágico, de Beatriz Milhazes, vendida em 2008 por 1,8 milhão de reais, em um pregão da Sotheby?s de Nova York. Na avaliação da marchande Soraia Calls, a cotação de 3 milhões de reais obtida por Adriana só encontraria paralelo hoje em trabalhos de Di Cavalcanti ou Candido Portinari feitos nos anos 20.

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Curiosamente, a cobiça internacional por artistas brasileiros se intensificou após a crise mundial em 2008. A partir da quebra do banco Lehmann Brothers, as cotações dos quadros lá fora chegaram a cair cerca de 30%. No Brasil, em um movimento até certo ponto surpreendente, os preços continuaram subindo. A explicação para o fenômeno foi a descoberta de diversos talentos, a exemplo de Vik e Varejão, que tinham uma produção de qualidade, com potencial de valorização e já eram conhecidos no exterior.

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Além da forcinha externa, os endinheirados brasileiros formam hoje outro importante fator de propulsão do mercado. Nesse perfil se encaixa o empresário Alexandre Accioly. Colecionador noviço, ele busca um equilíbrio entre peças de nomes consagrados e de candidatos a expoentes. Sem quantificar seu acervo, Accioly enfileira de cabeça Amílcar de Castro, Beatriz Milhazes e várias peças de Vik Muniz. Suas aquisições mais recentes são uma tela de Mariana Palma e uma escultura de Iran do Espírito Santo. “Mergulhei no assunto de três anos para cá”, conta. “É parecido com degustação de vinhos. A teoria se aprende no curso, mas o gosto a gente apura quando bebe”, compara ele, que, para afinar o olho, percorreu no ano passado as principais feiras de arte do mundo.

A profissionalização é outra consequência do aquecimento no setor. Nos últimos tempos, têm surgido alguns fundos de investidores dedicados exclusivamente às artes plásticas, a exemplo do Brazil Golden Art (BGA). Formado por três executivos do Banco Pactual e por Hélio Reis, conselheiro do MAM, o BGA começou a adquirir sua coleção há dois meses, com o aporte inicial de 40 milhões de reais. Como a ideia é comprar peças de qualidade e com alto potencial de valorização, o portfólio se concentra em jovens promessas. Mas a tarefa está longe de ser simples. “A questão é identificar quem vai virar o herói Aquiles e quem será mais um soldado morto na Guerra de Troia”, opina o especialista Guilherme Magalhães Pinto, sócio da consultoria Nau.

Confiantes no ímpeto de investidores como Accioly e o fundo BGA, os organizadores esperam arrecadar cerca de 4,5 milhões de reais com o leilão. Para uma primeira vez, já seria uma cifra respeitável. Em se tratando de um mercado que não para de trazer surpresas, sempre com mais zeros, o número final pode ser bem maior.

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