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Rir é o melhor negócio

Com sua fama de controladora, Mariza Leão, a produtora dos bem-sucedidos Meu Passado Me Condena e De Pernas pro Ar, se notabiliza no ramo das comédias populares

Por Rafael Teixeira
Atualizado em 2 jun 2017, 13h16 - Publicado em 18 dez 2013, 19h41

Em cartaz desde 25 de outubro, o filme Meu Passado Me Condena superou a expressiva marca de 3 milhões de espectadores, tornando-se o terceiro longa nacional mais visto neste ano. Não é só o público que está rindo à toa com a trama do jovem casal em lua de mel vivido por Fábio Porchat e Miá Mello. Com a obra, a produtora carioca Mariza Leão contabiliza o seu terceiro grande êxito no ramo do humor. Ela também é responsável por De Pernas pro Ar (2010) e sua sequência (lançada no ano passado), que levaram quase 9 milhões de pessoas aos cinemas. No período que se convencionou chamar de retomada do cinema brasileiro, a partir do ano 2000, De Pernas pro Ar 2 é a segunda maior bilheteria, atrás apenas de Tropa de Elite 2, o campeoníssimo de todos os tempos. “Quando resolvi fazer o primeiro filme da série, imaginava conseguir pouco mais de 1 milhão de espectadores. Tive uma enorme surpresa”, admite. Com afiado tato para atender à demanda do público, Mariza se consolida como bem-sucedida realizadora de comédias populares, um gênero que, apesar de ser visto com desconfiança pela crítica, vem demonstrando fôlego inesgotável.

Com mais da metade de seus 60 anos dedicada ao cinema, Mariza chegou a se formar em jornalismo e trabalhou em redação por um tempo. Convencida pelo marido, o cineasta Sérgio Rezende, decidiu dar uma guinada na vida e se arriscou, a princípio, na direção. Executou também as funções de figurinista e montadora, mas nada em definitivo. Ao frequentar o meio de câmeras e sets, constatou uma lacuna na área da produção e se dispôs a preenchê-la. “Havia uma geração de cineastas que não sabia por onde começar para viabilizar um filme”, lembra. Ao contrário do que sugere seu passado recente, sua trajetória foi construída com base em títulos ditos sérios, daqueles que outorgam prestígio aos envolvidos. Fazem parte de seu currículo O Homem da Capa Preta (1985), eleito o melhor filme no Festival de Gramado e dirigido por Rezende, e Meu Nome Não É Johnny, o mais visto na temporada de 2007. Sua transição para as sátiras ocorreu há apenas quatro anos, quando foi procurada pelo diretor Roberto Santucci, que buscava um produtor para levar às telas a trama sobre uma workaholic envolvida com a indústria de brinquedos eróticos. Mesmo ressabiada, ela abraçou a ideia. “Foi o trabalho que me deu mais pânico, porque eu nunca havia feito nada parecido. Mas o desconhecido me atraiu”, diz. Apesar da inexperiência com o gênero, ela pôs em prática o seu tentacular estilo de trabalho, que se caracteriza por atenção a cada detalhe. “Ela participa de tudo: roteiro, escolha do elenco, figurino, maquiagem, montagem, trilha ? até da confecção do trailer”, atesta Santucci. “Não vou negar que sou controladora. É que eu me sinto incapaz de fazer algo impessoal”, afirma ela, que teve ainda uma breve experiência de gabinete, entre 1992 e 1994, quando foi nomeada a primeira presidente da Riofilme, órgão municipal de fomento a essa indústria. “No Brasil, até pouco tempo atrás, o produtor existia só para levantar dinheiro e viabilizar a visão do diretor”, diz Pedro Butcher, editor do site Filme B, especializado no mercado da sétima arte. “Apesar de ter começado sua carreira no modelo antigo, Mariza conseguiu se modernizar. Ela procura entender qual é o espectador que está indo aos cinemas.”

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Desde as chanchadas da Atlântida, cujo auge se deu na década de 50, as comédias representam uma grande fatia do faturamento do mercado cinematográfico no país. Tanto é que treze dos vinte filmes no topo do ranking nacional são de humor. Nesta temporada, os quatro primeiros também se enquadram nessa categoria. Na chamada neochanchada, como ficou conhecida essa tendência mais recente nas telas, há ingredientes fixos na receita para atrair o grande público. O principal deles é o uso de atores com grande exposição na TV, como é o caso de Tony Ramos e Glória Pires, protagonistas da franquia Se Eu Fosse Você, e de Ingrid Guimarães, estrela de De Pernas pro Ar. Mais extremo ainda é o caso de Crô, que explora o divertido mordomo interpretado por Marcelo Serrado na novela Fina Estampa. Outro item fundamental na receita de sucesso são os roteiros, que desfiam enredos simples e se escoram em um humor acessível a espectadores de diferentes níveis de instrução. Mariza nega, no entanto, que exista uma fórmula infalível e destaca como exemplo o fiasco da comédia Vendo ou Alugo, com elenco encabeçado por Marieta Severo. “Apesar de ter conquistado diversos prêmios, o filme só atraiu pouco mais de 140?000 pessoas”, diz. Em nome de uma pluralidade, os próximos filmes de Mariza são o thriller Em Nome da Lei, com direção do marido, e o drama romântico Ponte Aérea, de Julia Rezende, sua filha e diretora também de Meu Passado Me Condena. Ironicamente, ambos serão viabilizados com recursos provenientes das comédias que Mariza produziu. É o riso fácil dando origem a coisa séria.

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