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Laranjas ainda verdes

Demora no atendimento, manutenção ineficiente, estações cheias: por enquanto, o grande número de usuários provoca falhas no novo sistema de aluguel de bicicletas

Por Anna Carolina Rodrigues
Atualizado em 5 jun 2017, 14h38 - Publicado em 24 fev 2012, 20h05

Elas estão por todos os lados. Basta reparar no vaivém da ciclovia, das avenidas ou ruas mais próximas. Desde que o novo programa de aluguel de bicicletas foi implantado no Rio, em outubro do ano passado, mais de 45?000 pessoas já se cadastraram para usar as laranjinhas, como foram carinhosamente apelidadas pelos cariocas. Não há dúvida de que o sistema é um tremendo sucesso de público. O grande número de adeptos, no entanto, superou a expectativa inicial, que era de 7?000 inscritos até os três primeiros meses. Com a rápida sobrecarga do serviço, que já conta com 520 unidades espalhadas em 52 estações, começaram a surgir os primeiros problemas para os usuários. ?A aceitação foi maior do que a gente previa?, reconhece Angelo Leite, presidente da Serttel, concessionária responsável pelo Bike Rio, encarnação bem-sucedida de uma iniciativa semelhante lançada em 2009 que fracassou devido ao alto índice de furtos.

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Desta vez, o programa foi abraçado por turistas e moradores da cidade. A média de uso diário no Rio supera os números do Vélib?, em Paris, modelo no qual se baseia a versão carioca. Lá, cada bicicleta realiza cerca de oito viagens no período de 24 horas. Aqui, são até dez trajetos diários. Embora se trate de um fenômeno de aceitação, alguns ajustes precisam ser realizados. De dez pessoas entrevistadas por VEJA RIO, nove já tinham enfrentado dificuldades ao tentar efetuar o aluguel, que só pode ser concluído via telefone ou aplicativo de smartphone. A reclamação mais comum diz respeito à lentidão no atendimento da central telefônica, a única opção para aqueles que não possuem celulares com acesso à internet. Embora a equipe tenha crescido recentemente – aumentou de quatro para nove atendentes -, é comum o interessado esperar mais de quinze minutos na linha. ?Além da demora, o português é a única língua disponível?, reclama a turista Mara de Sousa, que foi obrigada a auxiliar a amiga suíça Denitza Grantcharova ao telefone. Outra questão importante é o desleixo com a manutenção. Muitos ciclistas sofreram com bancos soltos, pneus vazios, freios e marchas avariadas.

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As falhas ficam mais evidentes nos horários de pico. No início da manhã e entre 17 e 20 horas, é difícil encontrar unidades disponíveis nas estações mais movimentadas, como as que ficam na Avenida Princesa Isabel, em Copacabana, e na Rua Aníbal de Mendonça, em Ipanema. Nos fins de semana e principalmente nas estações da orla, devolver a bicicleta torna-se uma missão quase impossível. Não raro, todas as vagas reservadas para esse fim estão ocupadas. Existe até um sistema de monitoramento sem fio, que envia alertas à central quando a ocupação fica muito baixa ou perto da lotação. Nesse momento, um dos quatro caminhões da empresa é acionado para redistribuir as laranjinhas. Esse recurso, porém, não tem dado vazão às necessidades. ?Cheguei a esperar mais de meia hora, desisti e pedi a minha mãe que viesse me buscar de carro?, conta a estudante Renata Canini, moradora do Leblon, que costuma usar o transporte às segundas e quartas para ir às aulas de francês em Ipanema.

Criado nos anos 60, o primeiro programa de compartilhamento surgiu em Amsterdã, na Holanda. As pessoas encontravam as bicicletas soltas pelas ruas, usavam-nas e depois as deixavam em qualquer lugar para que outros pudessem continuar pedalando. Não deu certo. Em 1995, foi implementado em Copenhague, na Dinamarca, um novo sistema. Nessa versão, passaram a ser adotados pontos específicos para a retirada e a devolução. Pelo fato de os clientes ficarem anônimos, o serviço também sofreu com roubos. A terceira tentativa veio logo depois e acabou se tornando um sucesso em 2005, com a inauguração do Vélo?v, em Lyon, na França. Contando com estações automatizadas e sistemas computadorizados, esse método de aluguel inspirou iniciativas semelhantes pelo mundo.

Hoje os maiores exemplos funcionam nas cidades chinesas de Wuhan e Hangzhou, com 70?000 e 65?600 bicicletas em cada uma. De acordo com dados do site Bike-Sharing World Map, a retirada nesses lugares acontece a cada dois segundos nos horários de pico. Logo em seguida está o parisiense Vélib?, o mais conhecido deles, com 23?900. Calcado no modelo francês, o objetivo do Bike Rio é servir como meio de transporte alternativo, oferecendo o passe diário, a 5 reais, e o mensal, a 10. Seus administradores acreditam que a expansão do projeto, com previsão de mais oito pontos de locação até o fim de março, ajudará a redistribuir melhor os usuários e a sanar as principais falhas. Tomara. Afinal de contas, as laranjinhas têm tudo para ser incorporadas de vez à rotina dos cariocas.

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