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Uma coleção fora do comum

Guiado só pelo gosto pessoal, Sylvio Perlstein reuniu um conjunto de trabalhos tão abrangente quanto relevante, que é atração no MAM

Por Rafael Teixeira
Atualizado em 5 dez 2016, 13h46 - Publicado em 26 mar 2014, 17h55

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As escolhas dos grandes colecionadores têm o poder de mudar a dinâmica do mercado de arte, supervalorizando um autor ou movimento no qual investem rios de dinheiro. Alguns desses apaixonados, no entanto, passam completamente ao largo desse tipo de interesse, dedicando sua vida a construir um acervo que tem como base tão somente o gosto pessoal, livre de motivações financeiras, apego a modismos ou conselhos de especialistas. Dono de uma dessas notáveis coleções, o carioca de origem belga Sylvio Perlstein terá uma fração de suas aproximadamente 1?000 obras apresentada ao público a partir de quarta (26), no MAM. São 150 trabalhos, incluindo alguns dos mais destacados artistas do último século, cujas peças ele adquiriu sem ligar a mínima para tendências. Orientado apenas pelo próprio olhar, amealhou preciosidades frequentemente cedidas a mostras importantes e capas de catálogos. Mesmo assim, Perlstein rechaça o epíteto de grande colecionador. “Uma vez, disse que tenho coisas esquisitas. Ainda acho isso. São obras que admiro quando vejo, não tem muita explicação”, resume, em português com leve sotaque, resultado de décadas vivendo fora do país.

Apropriadamente batizada de A Inusitada Coleção de Sylvio Perlstein, a coletiva, com curadoria de Luiz Camillo Osorio e Teixeira Coelho, reúne variados suportes e movimentos: do surrealismo à pop art, da arte conceitual ao minimalismo, da ­o­p art à fotografia vintage. É uma oportunidade rara de ver juntas figuras do quilate de Dalí, Warhol, Duchamp, Magritte, Kandinsky, Basquiat, Miró, Cartier-Bresson e Picasso (veja alguns destaques no quadro ao lado). Entre os vivos e ainda em plena atividade, reluzem nomes como a fotógrafa Nan Goldin e o escultor Richard Serra. Somente dois brasileiros integram a lista: Tunga e Vik Muniz. Criadores da ousada cenografia da exposição dedicada ao colecionador Jean Boghici, que ocupou o Museu de Arte do Rio no ano passado, Daniela Thomas e Felipe Tassara conceberam para esta mostra uma ambientação que evoca a disposição dos trabalhos na casa de Perlstein, em Paris. “Será como se ela, menos entulhada de objetos do que é, se expandisse pelas paredes do MAM”, diz Leonel Kaz, idealizador da exposição.

Ótimo papo quando o assunto é arte, Perlstein, entretanto, se retrai ao falar de si mesmo. Nem a idade revela. “Tenho menos de 80, mas escreve que aparento ter 25”, sugere ao repórter, em ligação de Nova York, onde também mantém uma residência. Ele viveu no Brasil até os 20, quando se mudou para a Bélgica, onde seguiu a carreira do pai e do avô, donos de uma lapidadora de diamantes. Ali, adquiriu suas primeiras obras ? exemplares de arte abstrata. Em Nova York, cidade que visitava com regularidade nos anos 60, gostava de flanar por galerias, bares e boates. Assim conheceu uma série de artistas dos quais se tornou amigo, passando a frequentar suas casas e ateliês, entre eles o fotógrafo Man Ray e o expoente da pop art Roy Lichtenstein. Tal contato permitiu a Perl­stein comprar peças diretamente na fonte, sem passar por marchands ? algo improvável atualmente. Ele é nostálgico em relação a esse passado. “Hoje é uma loucura. Os preços estão cada vez mais altos”, diz. “E qualquer jovem artista tem um representante e três secretárias. Você precisa marcar um encontro com um ano de antecedência.” Nos dias de hoje, saber se vender também é considerado arte.

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