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Hippie e chique

As criações da estilista Rosa Bandeira são apreciadas por atrizes como Deborah Secco e Patrícia Pillar

Por Bruna Talarico
Atualizado em 5 jun 2017, 14h27 - Publicado em 1 ago 2012, 17h56
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Quando viu a echarpe feita com sobras de tecido, Patrícia Pillar não resistiu. Encomendou um exemplar. Vanessa Giácomo, sua colega nos corredores do Projac, teve o mesmo impulso. Depois que experimentou a peça feita de retalhos coloridos, deixou imediatamente a sua reservada. Capaz de seduzir duas atrizes globais conhecidas pelo bom gosto, o acessório em questão não estava à venda em nenhuma loja chique da cidade. Fazia parte do acervo da maquiadora, figurinista e cenógrafa Rosa Bandeira, de 60 anos, e havia sido confeccionado para um de seus trabalhos nos bastidores de filmes e novelas. Adepta da reciclagem orgânica, Rosa produz roupas e adereços costurando cascas de árvore em pedaços de pano, transformando folhas em decomposição em lindas rendas e usando frutos e sementes no lugar de pedrarias e miçangas. Em pouco tempo, suas criações ganharam fama nos corredores das emissoras de TV, e sua casa, localizada numa pacata comunidade hippie em Vargem Grande, transformou-se no endereço secreto onde famosas como Regiane Alves e Daniele Suzuki, além de Patrícia e Vanessa, encontram itens originais e com um quê diferenciado para compor o visual. “Uso materiais que encontro na natureza e os recolho de todos os lugares por onde passo, o que garante modelitos únicos”, explica.

Natural de Pelotas, no Rio Grande do Sul, Rosa chegou ao Rio aos 20 anos. Antes de fincar raízes no Sítio das Pedras, a tal comunidade alternativa de Vargem Grande, ela morou em Friburgo e depois em Búzios, onde teve um restaurante especializado em comida natural. O negócio não deu certo, mas ali Rosa pôde por à prova sua criatividade. No fim de 1987, quando começava o verão da lata, marcado pelo descarte de cerca de 15?000 latas de maconha no mar, ela inventou o arroz da lata, servido com uma folhinha de erva que decorava o prato. A história, contada até hoje pelos moradores mais antigos, virou uma espécie de lenda urbana da cidade. “Foi um tremendo sucesso. As pessoas nem olhavam mais o cardápio para escolher o que queriam comer”, relembra. Sua incursão pelo mundo da maquiagem e do figurino começaria só depois de ela passar pela France Bel, escola de estética fundada nos anos 50 em Copacabana. Ali aprendeu a mexer com produtos de beleza. Do primeiro trabalho, um bico como assistente de maquiadora durante as gravações da minissérie Bandidos da Falange, em 1983, até aqui, passaram-se quase trinta anos. Hoje, Rosa é uma das profissionais mais requisitadas do mercado de caracterização. Só no cinema, participou da equipe de produção de mais de dez filmes, incluindo Eu, Tu, Eles, Tropa de Elite e A Mulher Invisível, muitas vezes chamada para criar peças que foram usadas como figurino pelo elenco.

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No mundo da moda, criações ecologicamente corretas, como as confeccionadas por Rosa, são uma tendência em alta. Durante o último Fashion Rio, a TNG levou para as passarelas uma calça jeans feita a partir de garrafas PET. Um moderno processo de reciclagem transformou o plástico em uma fibra. Misturada ao algodão orgânico, cultivado sem o uso de pesticidas e sem fertilizantes químicos, ela deu origem a um tecido forte e resistente, perfeito para esse tipo de peça. Antes disso, a Adidas já havia colocado à venda um tênis confeccionado com linho de cânhamo, e a Osklen usou o couro descartado pela indústria pesqueira na produção de acessórios e calçados.

Além do caráter sustentável, as peças da estilista gaúcha ainda têm agregado o valor da exclusividade, algo comum nos ateliês dos grandes profissionais da alta-costura, que produzem modelitos sob medida, de acordo com o gosto e as medidas de suas abastadas clientes. “Levo até quinze horas para finalizar um trabalho, porque faço tudo a mão, costurando folhinha por folhinha, pregando cada semente, uma a uma”, explica. Tanto esmero tem seu preço. A tal echarpe que encantou as atrizes globais custou 300 reais, enquanto um bustiê, que já foi usado por Deborah Secco e Regiane Alves, está avaliado em 500 reais. Esses nem são os itens mais caros. O vestido longo, feito com casca de palmeira-imperial, juta e folhas em decomposição, está à venda por 1?500 reais no ateliê da artista. É hippie, sim, mas o preço é de grife.

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