Hippie e chique
As criações da estilista Rosa Bandeira são apreciadas por atrizes como Deborah Secco e Patrícia Pillar
Quando viu a echarpe feita com sobras de tecido, Patrícia Pillar não resistiu. Encomendou um exemplar. Vanessa Giácomo, sua colega nos corredores do Projac, teve o mesmo impulso. Depois que experimentou a peça feita de retalhos coloridos, deixou imediatamente a sua reservada. Capaz de seduzir duas atrizes globais conhecidas pelo bom gosto, o acessório em questão não estava à venda em nenhuma loja chique da cidade. Fazia parte do acervo da maquiadora, figurinista e cenógrafa Rosa Bandeira, de 60 anos, e havia sido confeccionado para um de seus trabalhos nos bastidores de filmes e novelas. Adepta da reciclagem orgânica, Rosa produz roupas e adereços costurando cascas de árvore em pedaços de pano, transformando folhas em decomposição em lindas rendas e usando frutos e sementes no lugar de pedrarias e miçangas. Em pouco tempo, suas criações ganharam fama nos corredores das emissoras de TV, e sua casa, localizada numa pacata comunidade hippie em Vargem Grande, transformou-se no endereço secreto onde famosas como Regiane Alves e Daniele Suzuki, além de Patrícia e Vanessa, encontram itens originais e com um quê diferenciado para compor o visual. “Uso materiais que encontro na natureza e os recolho de todos os lugares por onde passo, o que garante modelitos únicos”, explica.
Natural de Pelotas, no Rio Grande do Sul, Rosa chegou ao Rio aos 20 anos. Antes de fincar raízes no Sítio das Pedras, a tal comunidade alternativa de Vargem Grande, ela morou em Friburgo e depois em Búzios, onde teve um restaurante especializado em comida natural. O negócio não deu certo, mas ali Rosa pôde por à prova sua criatividade. No fim de 1987, quando começava o verão da lata, marcado pelo descarte de cerca de 15?000 latas de maconha no mar, ela inventou o arroz da lata, servido com uma folhinha de erva que decorava o prato. A história, contada até hoje pelos moradores mais antigos, virou uma espécie de lenda urbana da cidade. “Foi um tremendo sucesso. As pessoas nem olhavam mais o cardápio para escolher o que queriam comer”, relembra. Sua incursão pelo mundo da maquiagem e do figurino começaria só depois de ela passar pela France Bel, escola de estética fundada nos anos 50 em Copacabana. Ali aprendeu a mexer com produtos de beleza. Do primeiro trabalho, um bico como assistente de maquiadora durante as gravações da minissérie Bandidos da Falange, em 1983, até aqui, passaram-se quase trinta anos. Hoje, Rosa é uma das profissionais mais requisitadas do mercado de caracterização. Só no cinema, participou da equipe de produção de mais de dez filmes, incluindo Eu, Tu, Eles, Tropa de Elite e A Mulher Invisível, muitas vezes chamada para criar peças que foram usadas como figurino pelo elenco.
No mundo da moda, criações ecologicamente corretas, como as confeccionadas por Rosa, são uma tendência em alta. Durante o último Fashion Rio, a TNG levou para as passarelas uma calça jeans feita a partir de garrafas PET. Um moderno processo de reciclagem transformou o plástico em uma fibra. Misturada ao algodão orgânico, cultivado sem o uso de pesticidas e sem fertilizantes químicos, ela deu origem a um tecido forte e resistente, perfeito para esse tipo de peça. Antes disso, a Adidas já havia colocado à venda um tênis confeccionado com linho de cânhamo, e a Osklen usou o couro descartado pela indústria pesqueira na produção de acessórios e calçados.
Além do caráter sustentável, as peças da estilista gaúcha ainda têm agregado o valor da exclusividade, algo comum nos ateliês dos grandes profissionais da alta-costura, que produzem modelitos sob medida, de acordo com o gosto e as medidas de suas abastadas clientes. “Levo até quinze horas para finalizar um trabalho, porque faço tudo a mão, costurando folhinha por folhinha, pregando cada semente, uma a uma”, explica. Tanto esmero tem seu preço. A tal echarpe que encantou as atrizes globais custou 300 reais, enquanto um bustiê, que já foi usado por Deborah Secco e Regiane Alves, está avaliado em 500 reais. Esses nem são os itens mais caros. O vestido longo, feito com casca de palmeira-imperial, juta e folhas em decomposição, está à venda por 1?500 reais no ateliê da artista. É hippie, sim, mas o preço é de grife.