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Revelações de um gênio

Criada há 53 anos por Alvin Ailey, a coreografia Revelations, à qual os cariocas poderão assistir a partir de quarta (11), é um clássico do balé moderno

Por Peter Rosenwald*
Atualizado em 5 jun 2017, 13h50 - Publicado em 11 set 2013, 19h09

“As pessoas ficarão loucas se não apresentarmos Revelations”, diz Jamar Roberts, um dos primeiros bailarinos da Alvin Ailey American Dance Theater, que vai encerrar com esse icônico trabalho cada uma de suas sete performances no Rio, de quarta (11) a domingo (15), na Cidade das Artes (mais informações na pág. 82). Com sua riqueza teatral, Revelations nunca falhou em deixar as plateias de pé, clamando por bis. Uma das mais reverenciadas coreografias americanas, já foi vista por cerca de 23 milhões de pessoas em 71 países, mais do que qualquer outra peça de dança moderna. O fim da primeira performance, em 1960, foi recebido pelo público em total silêncio, seguido por uma ensurdecedora ovação de pé. Quando o grupo esteve no Brasil pela primeira vez, há cinquenta anos, uma reportagem descreveu a recepção do público de maneira semelhante.

A companhia, que dançou pela última vez por aqui em 1998, tem trabalhado duro para preservar seu estilo singular, além de sua popularidade, depois da morte de Ailey, em 1989. Recentemente alçado ao cargo de diretor artístico da trupe, Robert Battle equilibra delicadamente a qualidade única atribuída ao fundador, enquanto alimenta a necessidade do grupo de mudar e crescer. O resultado será visto aqui em uma mistura de trabalhos antigos e novos, incluindo dois criados por Battle, divididos em dois programas distintos (um no primeiro e no último dia da temporada, o outro nos demais). Sempre, porém, terminando com a obra-assinatura de Ailey.

Zoe Dominic/divulgação
Zoe Dominic/divulgação ()

Como todos os grandes clássicos, Revelations transcendeu o gênio de seu criador e ganhou vida própria. Inspirada pelo gospel afro-americano e pelo blues, não é apenas para ser vista e apreciada, mas uma inesquecível experiência espiritual. “Todos os meus balés são sobre transição”, disse-me Ailey em 1977, em uma entrevista. “Se um dançarino consegue revelar através da coreografia algo de si, é disso que se trata.” A primeira bailarina Linda Celeste Sims afirma que, toda vez que dança o emocionante segmento “Wading in the water”, que evoca um batismo, ela se purifica, se transforma e se torna melhor. “Posso sentir o espírito de Alvin. Ele nos ensinou que a dança vem das pessoas e deve ser devolvida às pessoas.”

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Tremendamente influenciado pela cultura negra e sua expressão nos spirituals (canções de tom religioso, entoadas por escravos) do seu Texas natal, Ailey criou um trabalho em três partes ? “Pilgrims of sorrow”, “Take me to the water” e “Move members, move” ?, com coreografia construída a partir das emoções daquelas músicas. As cortinas se abrem revelando uma massa de homens e mulheres com roupas casuais, simbolizando toda a humanidade. A partir daí, cada um dos segmentos dentro das três partes ? do atormentado e esfuziante trio de “Sinner man”, passando pela oração elegíaca e comovente de “Fix me Jesus”, pela espiritualizada e bela “Wading in the water”, até, finalmente, “Rocka my soul in the bosom of Abraham” ? foi criado com um vocabulário complexo de padrões e movimentos, cheios de inteligência e significados pungentes. Do primeiro e solene grupo, de braços estendidos em súplica e ombros curvados sob o peso da tristeza, às vibrantes e alegres expressões de fé em uma terra prometida no final, Revelations é um testemunho do espírito humano. Embora o grupo seja frequentemente descrito como uma “companhia negra”, Ailey dizia que sua intenção era ser “inconsciente de cor”. Seu sonho era reunir dançarinos como ele, que pudessem exibir seu talento no contexto de suas próprias experiências e herança cultural, uma trupe em que bailarinos de todas as raças e origens seriam bem-vindos.

Mesmo críticos puristas, que desprezam qualquer coisa “popular” e frequentemente acusam Ailey de usar uma teatralidade da Broadway, não conseguem repudiar Revelations. É um sucesso, algo que não se pode dizer de mais do que um punhado de clássicos da dança, como O Quebra-Nozes ou A Bela Adormecida. Ímpar, ela segue praticamente sozinha como uma obra-prima americana, graças à sua habilidade de tocar cada espectador, enchê-lo de alegria e de um sentido de movimento comum, como uma expressão de beleza e amor.

*Peter Rosenwald foi crítico de dança do The Wall Street Journal por dezessete anos

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