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Colecionadores de estrelas

Em busca de refeições memoráveis, um grupo de cariocas com paladar apurado traça roteiros de viagens para conhecer os melhores restaurantes do mundo

Por Bruna Talarico
Atualizado em 5 jun 2017, 14h29 - Publicado em 27 jun 2012, 12h19

Existem vários grupos de viajantes. Há aqueles que invadem os outlets atrás de promoções, os que preferem levar a família aos parques da Disney e os ansiosos por conhecer as grandes atrações culturais de Paris, Londres e Nova York. Mas há outro, bem mais seleto, que se guia pelo mundo com um objetivo, digamos, muito saboroso: saciar a alma e o estômago. Cariocas de paladar apurado viajam pelo planeta em busca de refeições memoráveis. Não são numerosos, mas alguns estão à altura de Andy Hayler, um inglês que acumulou 255 estrelas em 2010 depois de comer em todos os endereços com as três máximas do Guia Michelin. Marcelo Torres, dono do Grupo Best Fork, é um deles. Com a invejável marca de 250 estrelas, ele ganhou quarenta delas em uma única passagem pela França. Durante um mês, fez todas as refeições em locais premiados. “Minha mulher é vegetariana e não bebe. Ela queria me matar quando mostrei as reservas”, recorda o restaurateur. Na hora de voltar ao Rio, ele pôs na bagagem todos os cardápios impressos. Em sua casa, uma caixa, pesando quase 10 quilos, guarda centenas deles.

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Os gourmets de estrelinhas têm hábitos e costumes próprios. Primeiro, são profundos conhecedores do assunto, capazes de citar de cabeça os novos restaurantes da moda ou de decifrar o nome de verduras pouco usuais em diversas línguas. Invariavelmente, levam um caderninho de anotações a tiracolo e também uma máquina digital para registrar, prato a prato, todo o menu. As imagens ganham os álbuns de retratos nas redes sociais e são acompanhadas por descrições esfuziantes. De tanto ouvir um amigo narrar suas experiências pelos templos mundiais da gastronomia, o editor da Sextante, Marcos da Veiga Pereira, decidiu fazer sua primeira refeição com a chancela do Michelin há cinco anos, durante um passeio pela Borgonha. “O serviço era extremamente atencioso, sem que você se sentisse intimidado por ele”, lembra-se. Com 57 estrelas conquistadas desde então, ele já tem até um preferido: o L?Ambroisie, em Paris. De lá, guarda um presente dos proprietários: os rótulos dos vinhos que bebeu e o cardápio autografado pelo chef. Tratados com status de obra de arte, eles ganharam moldura e local de destaque na decoração de sua casa.

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Do ambiente aos pratos servidos, fazer uma refeição em um restaurante estrelado é uma experiência cercada de expectativas. A começar pela reserva, que pode levar meses para ser confirmada nos endereços mais disputados. É o caso do Daniel, em Nova York, no qual a tarefa de conseguir uma mesa requer persistência e muitos e-mails. Vanda Klabin já esteve lá em oito ocasiões e garante que, em todas elas, valeu o esforço. “Não tem uma vez que eu não saia de lá suspirando. Pode até parecer exagero, mas não vejo a hora de voltar novamente”, diz. Depois de meses de espera, a visita impressiona não só pela elegância dos salões e pelo serviço impecável, como, claro, pela comida preparada. Há quatro anos, no Alinea de Chicago, as sócias do Cooking Buffet Adriana Mattar e Ana Cecília Gros passaram seis horas degustando um menu com dezoito pratos em sequência. Suspiraram com a surpreendente combinação de maracujá, caranguejo e palmito. Empenhadas em descobrir novos ingredientes, modos de preparo e harmonizações, elas partiram na quarta (20) rumo a Londres, Paris e Copenhague. Durante duas semanas, farão todas as refeições em estabelecimentos premiados. Para darem conta do roteiro e manterem a boa forma, as felizes proprietárias de 246 estrelas, 123 de cada uma, garantem que o segredo está no café da manhã: nada de queijos nem de croissants, apenas uma xícara de chá até o almoço.

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Não há dúvida de que frequentar restaurantes de alta gastronomia é um hobby saborosíssimo. Mas as cifras cobradas não permitem que essa seja uma experiência acessível à maioria dos turistas. O menu degustação no L?Atelier de Paris, do chef francês Joël Robuchon, custa 200 euros por pessoa, sem incluir a bebida nem o serviço. No dinamarquês Noma, a experiência de 22 pratos e vinhos harmonizados custa 400 dólares por cabeça. “Há quem invista em ações, nós preferimos a gastronomia”, brinca Ana Zingone, que divide com o marido, Mu Carvalho, o gosto pela boa mesa. Todo ano eles participam de um festival de música brasileira na França. É a deixa perfeita para esticarem a viagem e conhecerem templos culinários da Europa. O currículo do casal já soma 120 estrelas, sessenta de cada um. Nem todas, no entanto, vieram acompanhadas de boas recordações. “No L?Arpège, em Paris, era muita pompa e circunstância para pratos completamente desinteressantes”, critica Ana. Nada que apague da lembrança o gostinho da sobremesa com que fecharam o jantar no Le Jardin des Sens, em Montpellier, no ano passado. “Nunca comi nada igual”, resume Mu, suspirando de prazer.

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