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O shopping das obras-primas

Com quadros de Picasso, Warhol e Miró à venda, a segunda edição da ArtRio se firma no seleto grupo das grandes feiras internacionais e deve levar 60 000 visitantes à Zona Portuária

Por Rafael Teixeira
Atualizado em 5 jun 2017, 14h23 - Publicado em 12 set 2012, 16h08

Há várias formas de avaliar o êxito de uma feira internacional de arte. Se o critério é subjetivo, pode-se recorrer à opinião de galeristas, colecionadores e artistas, além do público que vai apenas para olhar. Outra possibilidade é levar em conta a relevância dos negociantes e das obras nos estandes. Dados quantificáveis, como total de dinheiro investido, número de marchands e artistas participantes, metragem de espaço expositivo, total de visitantes e, principalmente, vendas, dão a medida do sucesso. Sob qualquer ponto de vista exposto acima, a ArtRio, que abre sua segunda edição ao público na quinta (13), no Píer Mauá, já exibe credenciais que a posicionam entre os eventos do gênero mais importantes do mundo, daqueles obrigatórios na agenda de um apreciador. “Em um ano, chegamos a um patamar que esperávamos alcançar apenas em 2016”, afirma Brenda Valansi, uma das idealizadoras, junto com a sócia Elisangela Valadares.

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Basta comparar as duas edições para ter uma ideia da evolução. Mil artistas terão seus trabalhos expostos – e comercializados – durante o evento, 300 a mais do que no ano passado. Há nomes canônicos: Pablo Picasso (1881-1973), Andy Warhol (1928-1987), Marc Chagall (1887-1985) e Alberto Giacometti (1901-1966), entre outros. Misturam-se a eles figuras de proa no Brasil, desde aqueles que já morreram, como Candido Portinari (1903-1962) e Hélio Oiticica (1937-1980), até os que estão na ativa, a exemplo de Adriana Varejão, Beatriz Milhazes, Cildo Meireles, Nuno Ramos, Ernesto Neto, Nelson Leirner e Miguel Rio Branco. Entre as estrelas da arte contemporânea internacional, comparecem Takashi Murakami, Jeff Koons e o celebrado Damien Hirst. Foram selecionadas 120 galerias, contra 83 no ano anterior. A participação de marchands estrangeiros também aumentou consideravelmente: contam-se sessenta galeristas de fora do país, quase o dobro da primeira edição. Na mesma proporção ampliou-se o espaço destinado aos estandes, hoje totalizando 7?500 metros quadrados, distribuídos em quatro galpões e um anexo. A estimativa conservadora é que sejam negociados 150 milhões de reais em obras, 30 milhões a mais do que em 2011.

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Apontada como a mais importante galeria de arte do mundo, com doze endereços espalhados em sete países, a americana Gagosian escolheu a ArtRio para sua estreia no Hemisfério Sul (antes só havia participado de feiras em Nova York, Miami, Paris, Londres, Basileia e Hong Kong). Seu dono, Larry Gagosian, representa um sem-número de artistas do mais alto quilate e tem fama de midas no mercado internacional. Em 2005, ele foi o intermediário de uma venda inacreditável: um tubarão-tigre embalsamado, de 5 metros de comprimento e 2 toneladas, em um tanque de vidro, compondo uma escultura criada por Damien Hirst – e adquirida por 12 milhões de dólares. A história rendeu um livro, O Tubarão de 12 Milhões de Dólares – A Curiosa Economia da Arte Contemporânea, de Don Thompson, publicado no Brasil pela Be1 Editora. As negociações para a vinda da galeria começaram antes mesmo da primeira edição, quando Victoria Gelfand-Magalhaes, diretora da Gagosian, esteve no Rio a convite das organizadoras do evento. “Desde então percebíamos que havia um grande potencial na feira. Nos últimos anos, houve uma demanda crescente de brasileiros por nossos artistas”, diz Victoria. Entre as peças trazidas de Nova York, estarão à venda trabalhos de Robert Rauschenberg (1925-2008), Jean-Michel Basquiat (1960-1988) e Roy Lichtenstein (1923-1997). No total, serão aproximadamente 130 milhões de dólares em trabalhos de arte. O item mais valioso do lote é a pintura Marie-Thérèse à la Guirlande (1937), de Picasso, que retrata uma amante do pintor, com quem teve uma filha – tela cujo preço pode chegar a 15 milhões de dólares.

A dimensão que a ArtRio alcançou surpreende quem acompanhou os primeiros passos da empreitada, em 2009. Na ocasião, as amigas Brenda, ex-veterinária e então artista plástica, e Elisangela, jornalista com formação em história da arte e na época diretora da galeria Toulouse, na Gávea, decidiram fazer uma feira aqui na capital. Naturalmente, houve muita desconfiança. “Não me empolguei de imediato. Achava que o Rio estava longe de ter um mercado comprador forte como o de São Paulo. Mas, depois que as conheci, eu me impressionei com seu entusiasmo e preparo”, recorda a galerista Silvia Cintra, que nesta edição participa com dois estandes. Para estruturarem o evento, elas tiveram inúmeras reuniões com marchands, colecionadores e leiloeiros. Cientes de que precisavam de profissionais com experiência nas áreas de negócios e marketing, associaram-se aos empresários Alexandre Accioly e Luiz Calainho. No âmbito internacional, intensificaram as viagens que costumavam fazer para visitar feiras, observando até mesmo detalhes que seriam adotados aqui, como o uso de divisórias de madeira e de iluminação halógena nos estandes. “O impulso que faltava veio com o bom momento que a cidade vive e a exposição positiva do Rio no cenário internacional nos últimos dois anos”, afirma Brenda.

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A tarefa de percorrer o mundo conhecendo feiras de arte, por mais agradável que possa parecer, é bastante árdua. Hoje, existem cerca de 200 eventos do gênero relativamente importantes, contra 55 dez anos atrás. Mesmo com toda essa quantidade, apenas quatro feiras são consideradas realmente imperdíveis pelos grandes marchands e colecionadores. Três ficam no Velho Mundo – a Tefaf, da European Fine Art Foundation, realizada em Maastricht, na Holanda, a Art Basel, na Basileia, Suíça, e a Frieze, em Londres. A quarta é a versão americana da Art Basel, sediada em Miami Beach. O acervo de obras à disposição de potenciais compradores nessas feiras se equipara ao que oferecem as melhores casas de leilões do mundo em uma temporada inteira. Participar de apenas uma delas pode significar para um galerista mais da metade de suas vendas anuais. Há quem aposte que a ArtRio rapidamente vai se juntar ao grupo das grandes. “Com os eventos internacionais que estão por vir ao Rio e a revitalização da Zona Portuária, temos potencial para ultrapassar em importância a Frieze e a Art Basel de Miami”, acredita o colecionador carioca Guilherme Magalhães Pinto Gonçalves, sócio da Nau Consultoria de Arte.

[—FI—]

Em linhas gerais, o funcionamento da ArtRio se assemelha ao de suas correlatas estrangeiras. Primeiro, um comitê de especialistas faz uma curadoria. Os marchands interessados têm de enviar à organização um formulário com informações detalhadas, que incluam as obras que estarão expostas. Trata-se de uma disputa tão acirrada que, nesta edição, cerca de 200 postulantes ficaram de fora da seleção final. Segue-se então um ritual. Na véspera da abertura para o público, os participantes exibem suas melhores obras para convidados muito especiais, divididos em três grupos, com visitação distribuída ao longo do dia. O primeiro é formado por 2?000 pessoas escolhidas entre a nata dos colecionadores ? gente que frequenta tanto as galerias como a lista das maiores fortunas do país, a exemplo de Alfredo Setúbal e Milu Vilella, acionistas do banco Itaú, Ricardo Steinbruch, da família que controla a Companhia Siderúrgica Nacional, e Pedro Moreira Salles, do antigo Unibanco, entre outros. Da lista fazem parte ainda representantes de instituições de arte do Brasil e do exterior, como Inhotim, de Minas Gerais, Museu de Arte Moderna do Rio, Pinacoteca do Estado de São Paulo, MoMA, de Nova York, Tate Gallery, de Londres, e Centre Pompidou, de Paris. Uma segunda leva de 6?000 pessoas entra às 14 horas, e outra, de 10?000, às 16. “Tem gente que liga implorando por uma credencial super vip”, conta Elisangela. Há uma certa tensão na visita do primeiro grupo, e não à toa: estima-se que um quarto das melhores obras seja vendido nos quinze minutos iniciais (assim, nem sempre o público comum consegue ver os trabalhos mais famosos). “No ano passado, tão logo se abriram as portas, uma peça da minha galeria foi negociada. Em seguida, vieram mais dois colecionadores querendo exatamente a mesma obra, mas era tarde”, lembra a marchande Anita Schwartz.

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Mesmo quem não faz parte das categorias vip 1, 2 e 3 tem motivos de sobra para ir à ArtRio. Com disposição para o garimpo e uma dose de sorte, garantem os organizadores, é possível encontrar peças interessantes por preços mais em conta do que se imagina. “Uma gravura ou um múltiplo pode sair por 1?000 reais”, diz Brenda. Para quem não quer desembolsar nada além dos 30 reais do ingresso, a feira funciona como uma gigantesca coletiva de arte. Os puristas costumam dizer que a disposição aleatória das obras, a iluminação excessiva, o movimento contínuo e o barulho das conversas tornam impossível a experiência da contemplação. Mas as organizadoras rebatem: “É uma chance única de ver tantas preciosidades em um só lugar. Esperamos que o contato com todas essas obras sirva de estímulo para que as pessoas se interessem mais pelo assunto e passem a frequentar exposições”, afirma Elisangela. Além disso, há um amplo leque de atividades paralelas – restaurantes, pocket shows, visitas guiadas, exibição de vídeos, palestras, oficinas para crianças, passeios a ateliês e a pontos turísticos e históricos do porto. Tudo para que o carioca respire arte.

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