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A volta do chefão

Histórias de Guto Graça Mello, poderoso diretor de TV nos anos 70, que reaparece integrando a equipe de espetáculo musical

Por Lula Branco Martins
Atualizado em 2 jun 2017, 13h11 - Publicado em 19 mar 2014, 19h55

Entre nomes bem conhecidos e outros não tão famosos, listados no cartaz da peça Se Eu Fosse Você, surge na quarta linha um certo Guto. Parece apelido de menino, talvez seja um Augusto, quem sabe um Gustavo de 20 e poucos anos. Não. Tem 65, e trata-se de um dos mais poderosos executivos que a Rede Globo já manteve em seus quadros. Especialmente nas décadas de 70 e 80, era o produtor Guto ? sim, de Augusto ? Graça Mello quem batia o martelo no assunto “botar música em novela”. Para um cantor, isso significava sucesso nas rádios, venda de discos, upgrade na carreira. Pois é esse bambambã do meio fonográfico que assina a direção musical do espetáculo (com supervisão artística de outro big boss consagrado, Daniel Filho), que estreia na sexta (21) no Oi Casa Grande, no Leblon.

Baseado no filme homônimo, com Tony Ramos e Glória Pires, em que ele fica no corpo dela e ela assume o corpo dele, o musical (produção da Aventura Entretenimento, de Aniela Jordan, Fernando Campos e Luiz Calainho) terá trinta canções de Rita Lee. Justamente por isso Guto foi convocado. É que ele promoveu, com sua estética pop, a grande virada na trajetória da roqueira. Expulsa dos Mutantes em 1972, ela formaria em seguida o grupo Tutti Frutti, que cantava pérolas como Ovelha Negra e Agora Só Falta Você. Elogiada pela crítica, Rita não tinha, porém, retorno comercial. Guto então entrou na jogada, valorizando a porção bolerista da compositora. Incentivou sua parceria com o marido, Roberto de Carvalho, e emplacou álbuns, entre 1979 e 1982, que tocaram por inteiro, com hits como Mania de Você, Lança Perfume e Baila Comigo. Os três enriqueceram. Mas, ali, Guto começava, falando numa gíria que entrega a idade, a “pirar”.

Àquela altura, era o principal diretor da Som Livre, gravadora ligada à emissora na qual batia ponto. Desse modo, durante um bom tempo viveu a seguinte situação: ele sugeria para ele próprio, e ele próprio aprovava a própria sugestão sobre canções, temas e trilhas que embalariam ou não os programas globais. “Eu era ao mesmo tempo o fornecedor e o cliente”, diz. O poder extremo vinha acompanhado de excesso de trabalho. Foi quando mandou construir um chuveiro no escritório, com o claro objetivo de morar na sala de reuniões. Realmente passou a dormir lá, e, até aí, tudo mais ou menos normal. Os colegas só começaram a achar esquisito além da conta quando o chefe resolveu despachar vestindo apenas uma toalha de banho.

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Andava estranho. Drogou-se, no fim da década de 80 abandonou os superempregos que tinha, e, a partir daí, viu-se desprezado pelo mercado. “Levei um gelo das gravadoras, ninguém me chamava para nada”, conta. Exilou-se nos Estados Unidos, e só na década seguinte ganharia nova chance por aqui, ao produzir o disco As Canções que Você Fez pra Mim, de Maria Bethânia, com repertório de Roberto Carlos, este, aliás, um de seus amigos mais próximos.

Nas lembranças do produtor musical, é justamente esse contato com os artistas mais importantes do Brasil que o deixa feliz. Notório conversador, adora contar histórias e se recorda, por exemplo, da noite em que pediu a Paulinho da Viola que compusesse, em 24 horas, o tema de Pecado Capital. E o sambista fez o clássico. “Era uma novela no subúrbio, e, pela primeira vez, a direção da Globo topou botar um samba como tema de abertura”, revela. Gosta ainda de falar do dia em que, nos ensaios de uma gravação, João Gilberto quase lhe roubou o Di Giorgio: “Dei o flagra e uma bronca. Depois fizemos as pazes. Mas hoje mantenho esse violão bem guardadinho comigo”. E também se diverte quando lembra a época em que tinha como “consultores de loucuras” Ezequiel Neves e Lulu Santos, isso nos anos 70, antes da fama dos dois.

Duas filhas, dois enteados, onze stents nas artérias, casado com a atriz Sylvia Massari desde 1999, Guto mora numa mansão na Barra. Fã de Stevie Wonder, Michael Jackson, Debussy e Ravel, mantém em casa um estúdio com teclados e, principalmente, violões, seu instrumento de formação ? no qual bolou com Boni, em 1972, o tema do Fantástico. Ainda faz projetos eventuais para a Globo, como o Som Brasil e os especiais de Roberto. Além do atual envolvimento com Se Eu Fosse Você, produz o ator-cantor Daniel Boaventura e aposta muito no padre Fábio de Melo, tanto que passará um tempo fora, em Israel, gravando seu DVD. “Estou com mil projetos”, vibra, como se 20 anos tivesse. Retorna em agosto, e nossos ouvidos já podem esperar novas surpresas vindas desse Midas do som, cada vez mais de volta à ativa.

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