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Beirando os 79 anos, Domingos Oliveira não pensa em parar

Diretor, roteirista e ator lança Infância, com Fernanda Montenegro, finaliza um romance e está dirigindo um novo projeto no cinema

Por Lula Branco Martins
Atualizado em 2 jun 2017, 12h27 - Publicado em 12 set 2015, 01h00

Este mês de setembro não tem apenas quatro domingos, como informa a folhinha. Tem mais. Há o Domingos que está merecendo mostras de seus filmes tanto no Cine Odeon, no Centro, como no Oi Futuro, no Flamengo, e há também o Domingos que estreou, na quinta (10), um lon­ga-metragem nos cinemas, Infância. Isso sem dizer que, além de tudo, comemora 79 anos no dia 28 e ainda arranja tempo para escrever um romance, Antônio, o Primeiro Dia da Morte de um Homem (que a Editora Record finaliza daqui a duas semanas), e para dirigir Barata Ribeiro 716, filme sobre a juventude carioca da fase pré-golpe, em 1963, que chegará às telas no ano que vem. Estamos falando de Domingos Oliveira.

Fernanda e Domingos  à frente do elenco: foco nas mentiras  da burguesia
Fernanda e Domingos à frente do elenco: foco nas mentiras da burguesia ()

Seu currículo, obviamente, não cabe em um só parágrafo, mas aí vai um resumo: diretor de cinema, roteirista, autor de teatro, ator, poeta, colunista de jornal e, disso sabe-se menos, engenheiro elétrico — formou-se na antiga faculdade do Largo de São Francisco. É o nome por trás de uma de nossas comédias mais populares, Todas as Mulheres do Mundo,  lançada em 1966, com Leila Diniz, uma de suas cinco esposas. Da mesma forma, a companheira nas últimas três décadas, Priscilla Rozenbaum, está no filme que agora estreia, protagonizado por Fernanda Montenegro, o mais caprichado da carreira de Domingos e a produção mais cara que dirigiu.Ambientado na década de 50, o longa tem como figura central um garoto que não entende muito bem as engrenagens da própria família. Seu pai faz negócios imobiliários escusos. A mãe tem a vida completamente atrelada à da avó. Seu tio alcoólatra flerta com a empregada da bela casa de Botafogo, onde vive parte do clã. E o primo levado da breca fala um palavrão atrás do outro. Enquanto tudo acontece sem a câmera sair da mansão, o Rio de antigamente é revelado através dos diálogos. Nesse sentido, é curioso notar como imóveis no Andaraí, na Zona Norte, na época valiam mais do que terrenos no Leblon — o bairro da Zona Sul é considerado “fim de mundo” pelos personagens. E também diz muito sobre o país de então, a expectativa de todos, em volta de um enorme aparelho de rádio, aguardando os discursos inflamados do jornalista Carlos Lacerda, figura de destaque nos meandros da política daquele tempo.

Inografico
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“Infância tem esse título e meninos no elenco, mas não é um filme infantil. E, mesmo que haja roupas à moda antiga, não é um filme de época. Trata-se de uma história sobre uma burguesia mentirosa e decadente, ou seja, uma história absolutamente atual”, diz o diretor em entrevista a VEJA RIO concedida em seu apartamento, próximo à Praia do Leblon. Com sintomas da doença de Parkinson, hoje Domingos anda devagar e fala mais baixo — mas continua falador contumaz. Isso não o impede de interromper a conversa para dançar o Elvis Presley que toca no computador nem de cantar um samba, meio que de repente. Detalhe: antes da sessão de fotos pôs­-se a interpretar, exímio no teclado, música clássica. A cabeça anda a mil.

A verve de filósofo informal continua afiada — ele adora discorrer sobre o sentido da vida. Sente revolta contra a finitude e revela que nunca para de trabalhar: “Nas horas livres, trabalho também”. Tido como um Woody Allen à carioca pelos temas que aborda em seus textos, seja no teatro (em novembro, a série Terceiro Sinal, no canal GNT, vai enfocar seu modo de dirigir), seja no cinema, Domingos acha graça da comparação, mas ressalta: “Ele é quase um ano mais velho do que eu”. E gargalha ao recordar um diálogo que manteve com a estrela de seu novo filme. “Fernanda me disse assim: ‘Quando temos 40, devemos, urgentemente, fazer coisas importantes na vida. Aos 50, também. Aos 60, também. Aos 70, também. Aos 80, melhor ficar distraído’.” Pode até ter graça, e um fundo de razão. Mas distraído é o que Domingos menos está no momento.

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