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O Rio na primeira classe

A chegada de grandes marcas de luxo, como Tiffany & Co., Prada, Gucci e Ferrari, muda o perfil de compras na cidade ao inaugurar um novo padrão de atendimento e serviços aos clientes

Por Carla Knoplech
Atualizado em 5 jun 2017, 14h16 - Publicado em 12 dez 2012, 17h49

Até alguns dias atrás, um carioca endinheirado que quisesse comprar um anel de diamante produzido pela joalheria americana Tiffany & Co., um dos ícones mundiais de sofisticação e requinte, ou simplesmente olhar suas vitrines, teria de se deslocar para São Paulo, Brasília ou qualquer outra cidade onde houvesse uma das 103 filiais da empresa espalhadas pelo mundo. O avião também era a única solução caso o objeto de cobiça fosse alguma peça da inglesa Burberry, as desejadas criações do estilista Michael Kors ou uma reluzente Ferrari zero-quilômetro de 1,7 milhão de reais. A situação mudou muito em apenas uma semana. Em um movimento sem precedentes, a constelação de marcas internacionais descrita acima fincou bandeira por aqui praticamente ao mesmo tempo. À exceção da Ferrari, que instalou sua loja no shopping Fashion Mall, em São Conrado, todas as demais ocupam um mesmo corredor no novíssimo VillageMall, empreendimento inaugurado na Barra da Tijuca na terça (4). Ali estão ainda outros nomes e sobrenomes coruscantes como as francesas Cartier e Louis Vuitton, além das italianas Gucci, Prada e Miu Miu, cujas portas serão abertas em janeiro. Assim, não é exagero dizer que 2012 será lembrado no futuro como o ano em que a poderosa indústria do luxo finalmente descobriu o Rio. Desde janeiro, aproximadamente duas dezenas de fabricantes de produtos de altíssimo padrão se instalaram entre os morros e o mar. “Percebemos que não podíamos ficar de fora de uma capital pulsante que, em pouco mais de três anos, ganhou tamanha visibilidade global”, diz Luciano Rodembusch, vice-presidente da Tiffany para a América Latina e o Caribe.

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[—FI—]

Embora mais propenso a deixar os ternos no armário e a achar chique calçar sandálias de dedo para sair à noite, o carioca não chega a estranhar conceitos como glamour e luxo. Até a década de 70, a cidade foi o centro dos grandes acontecimentos nessa área, tanto pela qualidade dos restaurantes e pelas festas da alta sociedade como pelo pujante circuito de moda. No Centro, nasceu a H.Stern, fabricante de joias com lojas pelo mundo inteiro cujas peças são exibidas por atrizes de Hollywood bem como pelas belas acompanhantes de bilionários russos. As paredes do Copacabana Palace foram testemunhas de bailes que encantavam nobres e plebeus afortunados. Pouco a pouco, porém, o esvaziamento econômico levou a liderança nesse campo para São Paulo, um movimento que coincidiu com a explosão do consumo de alto padrão no mundo. Apesar de uma ou outra exceção, o Rio parecia alheio a esse processo. Um estudo recente produzido pela consultoria MCF e pelo instituto de pesquisa GfK mostra exatamente a mudança de humor das grifes em relação à cidade. Em 2008, apenas 23% das empresas de marcas sofisticadas diziam ter interesse no mercado carioca, contra 73% que apostavam em São Paulo. Hoje, 62% planejam abrir uma filial na cidade, índice que praticamente empata com os 65% da capital paulista. “Seja pelos investimentos em grandes eventos internacionais, como a Copa do Mundo e a Olimpíada, seja pela estabilidade alcançada na área de segurança pública, trata-se de um novo status”, explica Carlos Ferreirinha, dono da MCF e o principal consultor de luxo do país.

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É evidente que o VillageMall desempenha um papel fundamental no renascimento do glamour carioca. Com pé-direito médio de 7 metros, cinemas com poltronas de primeira classe de avião e decorado com obras de arte, o centro de compras, em alguns momentos, lembra uma disneylândia do luxo. A loja que a Louis Vuitton opera ali, a segunda maior do Brasil, com 550 metros quadrados, é um exemplo. Entre as comodidades oferecidas estão um jardim de inverno e uma sala vip para compradores mais fiéis (e gastadores). Era nesse espaço que a empresária Elsaine von Blanckenhagen tomava conhecimento dos últimos lançamentos em meio a goles de champanhe e mordiscadas em petit-fours. “O espaço está no patamar das melhores do mundo, muito confortável e com estoque completo e atualizado”, elogiava a cliente, dona de uma coleção de mais de 150 bolsas com o monograma LV. Embora seja a mais recente novidade, o empreendimento da Barra vai enfrentar dura concorrência de outros shoppings que também disputam o mercado da alta renda. O Fashion Mall, por exemplo, renovou toda a sua fachada e investiu em serviços para clientes, com o objetivo de manter-se como referência. O Shopping Leblon, por sua vez, aposta em novos locatários, como a grife Valentino, do estilista italiano homônimo, e corteja marcas ainda não presentes no Rio, como a icônica Hermès. “Temos uma vantagem indiscutível: estamos no coração da Zona Sul. Isso é um ativo e tanto para as grandes marcas globais”, afirma Sandro Fernandes, superintendente do centro de compras da Rua Afrânio de Mello Franco.

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Vender no nosso mercado produtos de altíssima qualidade a preços estratosféricos exige habilidades sensivelmente diferentes das que vigoram em Paris, Milão ou Nova York. As empresas que desembarcam precisam entender sutilezas locais, como a paixão por compras parceladas (hábito comum mesmo entre os mais ricos) e pelo atendimento totalmente personalizado, beirando a subserviência. Brindes da grife e convites para demonstrações de novidades são imprescindíveis. Para fazer frente a tantas exigências, os vendedores, que têm metas mensais na casa das centenas de milhares de reais, acabam desenvolvendo uma sutil destreza em agradar aos compradores. Boa memória, por exemplo, é fundamental. Conhecimento dos produtos da loja e da concorrência, de coleções atuais e anteriores, idem. “Eu lembro o nome de todas as minhas clientes, detalhes das últimas compras, e sei até as outras peças que elas têm no closet. Isso é muito importante para poder sugerir artigos que combinem”, conta Beto Silva, vendedor da NK Store, multimarca paulista instalada na Rua Garcia D?Ávila. Aos 41 anos e nascido em Duque de Caxias, ele é um craque das vendas de luxo. Discreto, não fala de salário ou comissões, mas uma boa amostra de seu talento pode ser comprovada no assédio que sofreu nos últimos meses. Nada menos do que seis das marcas recém-chegadas ao VillageMall tentaram contratá-lo. “Preferi ficar em Ipanema. Eu moro em Botafogo e a Barra é muito longe”, desconversa.

Eis um erro comum cometido por neó­fitos que se aventuram pelo mundo do luxo: acreditar que se trata de um mercado movido apenas por consumidores encastelados no topo da pirâmide social. Há, é obvio, uma vasta lista de cariocas bem-nascidos, que sabem o que é bom, bonito e desejável praticamente desde o berço. A estudante de direito e socialite Dandynha Barbosa, 22 anos, por exemplo, usa um colar de ouro com peróla da Tiffany desde os 15 anos de idade (ela tem outras duas joias da marca, um pingente de chave e uma pulseira de coração). “O que mais me agrada é o brilho das peças, incomparável”, diz. No entanto, o contingente que busca prestígio e reconhecimento ao consumir produtos de primeira linha é bem mais amplo. Há subcelebridades que procuram nas bolsas e acessórios mais baratos da Louis Vuitton (artigos na casa dos 3?000 reais) uma espécie de atestado de ascensão social. Até nas favelas há espaço para marcas de prestígio. Nos bailes funk, por exemplo, é de bom-tom abastecer o copo com vodca francesa Grey Goose, uma das mais caras à venda no país e que sai por cerca de 150 reais a garrafa. “Nosso investimento de construção da imagem da marca vai para a classe A, mas é natural que outros grupos sociais sintam interesse em consumir”, explica Roberta Farina, gerente de marketing das marcas premium do grupo Bacardi, o fabricante da vodca.

Em um mercado tão diverso, há espaço até para aquilo que se convencionou chamar de “luxo democrático”, uma vertente em plena expansão também no Rio. Como a própria expressão diz, significa ter acesso a produtos de primeira linha que não provoquem um rombo nas finanças. Por isso, atingem uma parcela maior de consumidores, e não apenas aqueles da classe A. Um exemplo dessa modalidade é o bar que a importadora Cavist, revendedora da marca Veuve Clicquot na cidade, abriu no fim de novembro no Shopping Leblon. Até o fim do verão, em meio a uma profusão de garrafas e embalagens na cor amarela característica da marca, podem-se bebericar taças do vinho espumante produzido em Reims, na França, a 55 reais cada uma (a segunda passa a valer 42 reais). É uma experiência associada a um estilo de vida de alto padrão, mas que sai pelo preço de duas entradas de cinema. “O conceito de luxo tornou-se muito elástico, principalmente no Rio, onde a descontração dá o tom. Para muitos, é simplesmente sair de bermuda e camiseta”, comenta Ângela Hall, consultora de varejo e sócia da Boutique B. Desde que tenham, é claro, uma grife poderosa e bem cara gravada na etiqueta.

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