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Pedais de ouro

Cariocas aderem às bicicletas de alta performance, que chegam a custar o dobro do valor de um carro popular

Por Louise Peres
Atualizado em 2 jun 2017, 13h13 - Publicado em 5 fev 2014, 16h12

Da orla aos parques, passando pelas vias mais movimentadas, basta olhar ao redor para perceber que as bicicletas se tornaram um elemento onipresente na paisagem carioca. Embora o caminho para transformar o Rio numa capital amigável aos ciclistas seja longo e os cidadãos ainda se sintam temerosos diante dos riscos de encarar nosso trânsito caótico, há quem leve o esporte sobre duas rodas a sério. Diferentemente daqueles que usam o meio de transporte para passear ou ir ao trabalho, essa turma gasta como profissionais, investindo pesado nos equipamentos. Para se ter uma noção, alguns modelos de bicicleta à venda por aqui chegam a custar 50?000 reais. “Só não dormimos com elas porque não tem espaço na cama”, brinca a advogada Carolina Nunes, 36 anos, que se prepara para competir na Áustria, em agosto, ao lado do marido, Nuno Nunes, 40 anos. O casal é dono de quatro exemplares comprados por cerca de 15?000 reais cada um. E os gastos não param por aí. Nessa conta ainda é preciso incluir as despesas com os acessórios, que também não são nada baratos. Do capacete às sapatilhas, lá se vão mais uns 3?000 reais.

Não basta ter dinheiro para seguir o exemplo do casal Nunes. É preciso adotar ainda um estilo de vida quase militar e ter disposição de sobra. Esse pessoal costuma acordar todo dia de madrugada, ali por volta das 4 horas, para pedalar em lugares como a Vista Chinesa ou as Paineiras. Isso significa que eles não vão sair à noite no dia anterior e provavelmente não poderão comer nada pesado (muito menos beber). A opção pela saúde acaba restringindo a vida noturna e pode causar problemas ao namoro ? especialmente se o parceiro ou a parceira não pertencer à galera do pedal. “A solução é encontrar um namorado ciclista”, brinca a economista Michele Curvelo, de 41 anos, que, no ano passado, investiu 29?000 reais em um modelo mais moderno.

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A tecnologia é o principal fator responsável por elevar o que seriam meras bicicletas ao status de artigo de luxo. Em sua maioria, elas são constituídas de materiais modernos como a fibra de carbono, o que faz com que fiquem muito mais leves, com cerca de 6 quilos apenas, e com isso ganhem mais velocidade nas pistas. Do design aerodinâmico aos aparatos de última geração, tudo é desenvolvido com foco nos atletas de alta performance, mas aos poucos as inovações vão chegando à grande indústria e acabam adotadas pelos ciclistas mais apaixonados.

De olho nesse público, começam a surgir espaços superespecializados no assunto. Há dois meses, foi inaugurado um desses na Barra. Favorita dos atletas que disputam o Ironman, um dos principais circuitos de triatlo do mundo, a loja da marca americana Specialized ocupa uma área de 800 metros quadrados. São mais de 150 modelos expostos e há a possibilidade de personalizar todo o equipamento. Seria algo como uma alfaiataria das magrelas, onde o ciclista tem todas as suas medidas aferidas em aparelhos dignos dos laboratórios de ficção científica. De acordo com a força da pisada, por exemplo, escolhe-se o melhor pedal. Já com as medidas dos ossos dos quadris é possível obter o selim mais adequado. Evidentemente, isso sai caro. Com frequentadores do porte de Luciano Huck e do técnico Bernardinho, o local cobra preços que são quase o dobro do valor de um carro popular. Ainda falta muito para que, no trânsito, os cariocas encarem e respeitem as bicicletas como qualquer outro veículo. No que diz respeito às cifras, ao menos, elas já chegaram lá.

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