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Efeitos da paz

Moradores estão mais tranquilos após as UPPs. Quem ficou nervoso foi o mercado imobiliário

Por Fernando Rosenthal
Atualizado em 5 jun 2017, 14h55 - Publicado em 18 jul 2011, 17h42

Uma sensação de recomeço permeia o pensamento dos tijucanos desde julho do ano passado, quando começaram a ser pacificadas as favelas do bairro. Territórios até então sob o jugo de traficantes, como os morros do Salgueiro, do Borel, do Turano e da Formiga, hoje estão livres da ação de bandos armados. Em seu lugar, centenas de agentes guarnecem as áreas ocupadas pelas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). Depois de um ano da iniciativa, as notícias são realmente animadoras. A UPP é apontada como a principal responsável pela redução de uma série de delitos ocorridos no bairro, como mostra um levantamento da Secretaria de Segurança do estado (veja o quadro na página ao lado). O total de roubos, por exemplo, despencou 34% no último trimestre de 2010 em relação ao mesmo período do ano anterior.

A redução nos índices de violência se reflete no hábito dos moradores, que aos poucos voltam a caminhar relaxados pelas ruas, como ocorria em um passado distante. ?Eu costumava ir para a academia com carteira e celular escondidos no fundo da bolsa, mas hoje levo tudo na mão?, conta Ana Beatriz Castellar, estudante de 20 anos nascida e criada na Tijuca. Não sem razão. Na última década, o bairro foi palco de episódios marcantes de violência urbana, como o assalto em que o cantor Marcelo Yuka, do Rappa, ficou paraplégico e a morte do menino João Roberto Soares ao ser metralhado por PMs dentro do carro dirigido por sua mãe. Outro caso de grande repercussão foi o de Gabriela Prado, que morreu aos 14 anos, vítima de uma bala perdida na escadaria da Estação São Francisco Xavier do metrô. ?Minha filha nasceu e perdeu a vida aqui, mas isso não faz da Tijuca um lugar ruim?, afirma o psicólogo Carlos Santiago, pai da adolescente, cuja morte motivou a criação do movimento Sou da Paz e que virou nome de rua no bairro: Avenida Gabriela Prado Maia Ribeiro. Santiago faz um alerta de que é necessário dar um passo à frente na política de pacificação. ?É preciso tirar as pessoas da miséria e oferecer a elas assistência social. Senão, até mesmo os policiais das UPPs vão acabar ficando desmotivados.?

Tomás Rangel
Tomás Rangel ()

A torcida pelo sucesso dessas unidades une os moradores do bairro, mundialmente famoso por abrigar o Estádio do Maracanã, que em 2014 será palco, pela segunda vez, de uma final de Copa do Mundo. ?Nossos filhos não veem mais os traficantes armados, e isso é uma vitória?, afirma a balconista Alessandra Melo, 34 anos de idade e de Morro do Salgueiro, mãe de dois filhos. Subcomandante da UPP instalada naquela favela, o tenente Jan Creveld procura aproximar sua tropa dos habitantes locais, a fim de acabar com a desconfiança recíproca. ?Esta população, recém-saída do trauma da influência do tráfico, agora lida com um novo tipo de policial militar, que atua como um agente comunitário?, diz o oficial, que dispõe de 140 homens para trabalhar na favela, divididos em três grupamentos. A julgar pelas ocorrências ali registradas, a iniciativa deve ser comemorada. Nestes últimos meses, os fatos mais graves que aconteceram foram conflitos de natureza doméstica. Nada que um bom papo não resolvesse.

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A muito bem-vinda sensação de sossego que paira sobre tijucanos tanto do morro quanto do asfalto acabou por aquecer o mercado imobiliário. Sem tiroteios e com os indicadores de criminalidade em queda, o preço dos imóveis da região deu um salto como havia muito não se via. Em levantamento feito a pedido de VEJA RIO, o Sindicato de Habitação do Rio de Janeiro (Secovi) registrou que, entre março de 2009 e março de 2011, o preço do metro quadrado de um apartamento de dois quartos mais do que duplicou. É uma valorização que o vice-presidente da entidade, Leonardo Schneider, atribui fundamentalmente à chegada das UPPs. ?Os moradores passaram muito tempo apavorados com o crime, mas agora isso vem mudando?, afirma. Todo mundo ganhou ? a começar pela Tijuca, é claro.

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