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Na saúde ou na doença

Pesquisa baseada no check-up de 10 000 pessoas revela dados preocupantes sobre a situação dos cariocas. Mais da metade dos avaliados tem stress e colesterol alto

Por Felipe Carneiro
Atualizado em 5 jun 2017, 14h58 - Publicado em 1 jun 2011, 20h21

Poucas cidades do mundo são tão associadas ao bem-estar quanto o Rio de Janeiro. A imagem atribuída ao carioca é de uma pessoa saudável, esbelta e que se exercita com frequência, seja pedalando, correndo, caminhando ou jogando, em comunhão estreita com a natureza exuberante daqui. Somos tidos também como um povo bem-humorado e que não abre mão de se divertir. Em síntese, mestres na arte do saber viver. Aceito como verdade, o estereótipo acima anda muito desconectado da realidade. Segundo um levantamento feito pela clínica Med-Rio, ao qual VEJA RIO teve acesso exclusivo, o estado de saúde dos cariocas exige atenção. A pesquisa, ba­sea­da no check-up de 10?000 pacientes ao longo de trinta meses, elas com idade média de 42 anos e eles de 46, apresenta resultados preocupantes. Constatou-se que a maioria vive estressada, alimenta-se mal e tem colesterol alto (veja o quadro na página ao lado), uma combinação de alto risco para desencadear um infarto ou um acidente vascular cerebral.

Quem passa por um teste desses faz hemograma completo, radiografia pulmonar, teste de esforço, mamografia, além de exames clínicos, oftalmológicos e, no caso dos homens, de próstata. O resultado dessa batelada de avaliações pode sinalizar dois rumos a seguir. Aqueles que apresentam taxas dentro da normalidade simplesmente mantêm seus hábitos. Já os reprovados precisam dar uma guinada radical em sua vida, se planejam estendê-la por muitos e muitos anos. Essa foi a resolução tomada pela advogada e empresária Mariana Queima, 31 anos. Apesar da pouca idade e da aparência saudável, como demonstra a foto ao lado, ela ficou baqueada ao receber, há um mês, os resultados do check-up.

Suas taxas de açúcar e triglicerídeos estavam nas alturas. Decidiu, então, abandonar o grupo de 53% das pesquisadas que se declararam sedentárias e foi à luta. Começou a praticar duas vezes por semana o savate, uma modalidade de kickboxing que inclui chutes e socos. Como nem tudo é perfeito, Mariana não conseguiu ainda se desvencilhar da turma que come de maneira desregulada, um mal que acomete seis de cada dez participantes do levantamento. “Trabalho tanto que não tenho tempo para nada”, reconhece. “Acabo me alimentando em horários malucos e sem o cuidado de equilibrar o cardápio.”

Selmy Yassuda
Selmy Yassuda ()
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De fato, não é nada fácil mudar os hábitos diante de uma agenda profissional cada vez mais extensa, o que aflige indistintamente operários e executivos, homens e mulheres, jovens ou não. A falta de tempo, porém, torna-se um argumento frágil se, do outro lado da balança, está a saúde da pessoa. Para a nutricionista Nara Horst, diretora do Conselho Regional de Nutrição, a rotina não pode servir de desculpa para quem come mal reiteradas vezes. “A boa alimentação depende exclusivamente de cada um. No Rio há uma série de opções saudáveis”, afirma. É verdade. Além de restaurantes naturais e por quilo, que permitem montar um prato balanceado, existem diversas feiras na cidade onde se encontram produtos de ótimo paladar e baixo valor calórico.

Embora a malhação ajude o corpo a ficar esbelto, a questão das refeições é crucial para manter a saúde. Diversas mazelas reveladas pela pesquisa têm origem na alimentação descuidada. Ela contribui, por exemplo, para o diabetes, que é um dado negativo do levantamento, ao incidir sobre 7% dos pacientes, ante a média global de 3%, de acordo com estatísticas da Organização Mundial de Saúde (OMS). O excesso de glicose no sangue pode prejudicar a visão; e, no extremo, causar cegueira e amputações. Problema diagnosticado em 45% dos participantes da pesquisa, o peso acima do recomendável é um indicativo de problemas mais graves pela frente e frequentemente guarda uma relação direta com o colesterol alto e a hipertensão.

Seja por excesso de trabalho, falta de dinheiro, conflitos familiares ou qualquer outro tormento, salta aos olhos também a quantidade de gente com altos níveis de stress. As cifras assombram: nada menos que 62% das mulheres e 68% dos homens padecem do mal, de grande prejuízo não só para a saúde como para os relacionamentos. “Esse é o mal do século, pois é o gatilho para uma série de distúrbios, como a insônia, a baixa imunidade, o recurso da automedicação para dormir e, em último grau, o câncer”, afirma o médico Gilberto Ururahy, dono da Med-Rio e autor do livro O Cérebro Emocional – As Emoções e o Estresse do Cotidiano.

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O mercado altamente competitivo, o trânsito caótico e a falta de boas maneiras no dia a dia das ruas são fatores que podem contribuir para o destempero. No rastro de tantas pressões, invariavelmente aparecem doenças. O economista Luiz Fernando Parente, 57 anos, diretor do banco Brascan, sofre com alguns dos desdobramentos do stress. Está com sobrepeso, hipertensão e infiltração de gordura no fígado. “É o trânsito, a violência, o medo de ver os filhos sofrer, a briga com o vizinho, o celular que toca sem parar…”, relata o executivo. Diante da sobrecarga, uma das formas que muitos encontram para atenuar o problema é consumir bebida alcoólica regularmente, um hábito assumido por mais da metade dos pesquisados. Num levantamento semelhante feito pelo Ministério da Saúde com pessoas acima dos 18 anos em todas as capitais do país, o índice brasileiro foi bem menor: 26% dos homens e 10% das mulheres. Outro efeito colateral é a insônia, que deixa um em cada quatro cariocas rolando na cama de madrugada. “O Rio está longe de ser uma cidade de enfermos, mas os registros crescentes de obesidade, diabetes e insônia preocupam”, alerta Alberto Barcelo, diretor do escritório da Organização Mundial de Saúde para as Américas.

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Um alento em meio a tantas verificações negativas é o fato de morarmos numa cidade convidativa ao bem-estar e à prática de exercícios. Temos à disposição uma verdadeira academia a céu aberto, com mais de 35 quilômetros de praias e 200 quilômetros de ciclovias. Há ainda lojas de suco em cada esquina, que podem perfeitamente ocupar um lugar cativo no nosso paladar, sem a necessidade, no entanto, de abdicarmos do sagrado chope e de salgadinhos altamente calóricos. Basta dosar corretamente. “O carioca tem todas as condições para ficar saradão”, afirma o economista Parente. “Ele só não pode se deixar dominar pela preguiça ou pela pressão do trabalho”, completa o raciocínio. E então? Está esperando o que para começar a se mexer e adquirir hábitos mais saudáveis?

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