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Um ano fora do comum

As obras que darão nova feição ao Rio começam a ser entregues, mas o carioca ainda conviverá com o sufoco no trânsito e muita quebradeira nos próximos meses 

Por Ernesto Neves
Atualizado em 2 jun 2017, 12h49 - Publicado em 2 jan 2015, 23h59

 

Em meio a uma quantidade de intervenções urbanas que não encontra paralelo em nossa história, o carioca tem vivido dias difíceis. Da demolição do Elevado da Perimetral até a profusão de escavações no trajeto do metrô para a Barra, a cidade tornou-se um canteiro de obras sem fim. Mas o ano que se inicia traz promessas alvissareiras. Ao longo de 2015 vamos começar a ver o resultado de tamanha quebradeira, num calendário extenso de inaugurações. Esse período em que ficam prontas as principais obras previstas é considerado crucial na preparação da cidade para a Olimpíada. O montante de investimentos dá uma dimensão do que estamos passando. Somente no pacote olímpico, estão sendo injetados na infraestrutura do Rio 36 bilhões de reais. Espera-se que o chamado legado olímpico revigore regiões antes em franca decadência, como o Caju, e integre os principais bairros por meio de transporte público de qualidade. O ano que chega traz também a realização de 45 eventos-teste para os Jogos. Além de colocarem em funcionamento as instalações esportivas, as atividades preparatórias dão uma ideia do que enfrentaremos em agosto de 2016, quando um número estimado em 500 000 turistas e 11 000 atletas deverá desembarcar por aqui. “Vamos chegar ao ápice das grandes intervenções na cidade”, diz Alexandre Pinto, secretário municipal de Obras. “Sem dúvida, será um período de intensa transformação”, avalia. 

Se 2014 começou sob tensão, com atrasos e reclamações do Comitê Olímpico Internacional, o panorama agora é mais confortável. Já em janeiro será entregue o Estádio do Engenhão, que passa por reforma desde 2013 para correção de problemas estruturais. Seu entorno, uma área estimada em 35 000 metros quadrados, estará revitalizado e foi batizado como Praça do Trem. A área de lazer será a maior do Grande Méier, e faz alusão aos antigos pátios ferroviários da região. Em março, começará a operar o Túnel 450 Anos, uma via expressa que se estende por 1,5 quilômetro sob o solo do Centro, conectando a Rua Primeiro de Março à Gamboa. E o primeiro semestre se encerrará com a promessa de abertura do Museu da Imagem e do Som, em Copacabana, e do modernoso Museu do Amanhã, na região portuária. O Centro, aliás, reserva grandes novidades. Até dezembro ficará pronta parte da malha do veículo leve sobre trilhos (VLT). Trata-se da volta dos bondes elétricos, o principal sistema de transporte público carioca até os anos 60. Desta vez, no entanto, eles têm visual futurista e tecnologia avançada, semelhante ao que se vê em cidades da Europa. Serão 28 quilômetros de trilhos pontuados por 42 estações, que irão do Aeroporto Santos Dumont à rodoviária. Próximo à Praça XV, ficará pronto um trecho do calçadão que vai compor a orla do porto, na parte em que atravessa o Distrito Naval da Marinha. O passeio público vai revelar aos olhos do visitante ângulos até então escondidos da Baía. 

No outro extremo da cidade, na Barra, será entregue a monumental Vila dos Atletas, formada por 31 prédios de dezessete andares, que vão abrigar todos os atletas envolvidos na competição. Devem estar tinindo o campo de golfe e as arenas poliesportivas do Parque Olímpico. O avanço prossegue no Complexo Esportivo de Deodoro, outro empreendimento dos Jogos que precisa ser entregue em doze meses. Apesar do atraso, que chegou a ser calculado em quinze meses pelo Tribunal de Contas da União, Deodoro deslanchou em 2014. Atualmente, os organizadores calculam que estejam finalizadas 60% das intervenções necessárias ali. Sem dúvida, é um alívio para as entidades esportivas, já que o local será o palco de onze modalidades, entre elas mountain bike, pentatlo moderno e rúgbi. Lá também está aquela que é considerada a mais complexa obra olímpica, o circuito de canoagem slalom. Em fase de concretagem do solo, a construção teve início em agosto e tem de estar finalizada a tempo de receber o ev­ento-teste, marcado para novembro deste ano. Quando entrar em operação, vai contar com um lago formado pela captação de 26 000 metros cúbicos de água. “No ano passado, lançamos a matriz de responsabilidades, que aponta quem são os encarregados por cada intervenção, assim como as fontes de financiamento”, diz Fernando Azevedo e Silva, comandante da Autoridade Pública Olímpica. “Esse documento foi responsável por alavancar as obras. Principalmente a de Deodoro, até então a mais atrasada”, afirma. 

As principais obras da cidade
As principais obras da cidade ()
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Ao custo de 8,5 bilhões de reais, e tida como a mais crucial ação em andamento, a construção da Linha 4 do metrô entra em sua fase crítica. Isso porque toda a malha de 16 quilômetros e seis estações deve ser concluída até dezembro. Quem vai à Zona Oeste já nota uma significativa mudança na paisagem. Há um acelerado avanço da ponte estaiada, que liga a Estação Jardim Oceânico aos túneis que passam pelo Morro do Focinho do Cavalo, na Barrinha. Debaixo da terra, faltam cerca de 500 metros de escavação para o túnel entre o Leblon e a Zona Oeste terminar de ser aberto. Próximo à Estação São Conrado, o consórcio responsável pela obra iniciou a instalação dos trilhos. Mas a paralisação do tatuzão que perfura o solo da Zona Sul por mais de sessenta dias deixou o cronograma apertado. A medida foi necessária após um afundamento do solo na Rua Barão da Torre, em Ipanema. Para entrar em operação a tempo da Olimpíada, o trajeto que separa a Praça General Osório, em Ipanema, da Estação Jardim Oceânico, na Barra, precisa ser concluído até dezembro deste ano. Em seguida, serão necessários mais seis meses de testes. O primeiro dos quinze trens fabricados na China já foi entregue, e deverá chegar ao Rio no próximo mês. Quando entrar em operação, a tão sonhada ligação subterrânea tornará possível ir da Barra ao Centro em pouco mais de trinta minutos. 

A perspectiva de tantas novidades e inaugurações não deixa de ser animadora, mas os cariocas continuarão a viver dias de sufoco nas ruas. A profusão de canteiros de obras nos elevou à condição de uma das metrópoles mais congestionadas do planeta, superando até mesmo São Paulo. A demolição do Elevado da Perimetral tornou um martírio a vida de quem precisa atravessar os túneis Rebouças e Santa Bárbara. Ir ao Centro hoje é uma aventura, que inclui tanto desviar dos buracos quanto descobrir qual é o novo trajeto percorrido pelos ônibus. Por ora, a quebradeira ainda continua provocando muita dor de cabeça. Somente na região central contabilizam-se 25 frentes simultâneas de obras. Para que sejam colocados os trilhos do VLT, em breve serão interditadas partes das ruas da Constituição e Sete de Setembro, assim como da Avenida Marechal Floriano. No mês que vem, a prefeitura iniciará o fechamento diário do Elevado do Joá, devido à construção do trecho em paralelo para aumentar a capacidade de tráfego. Já o avanço do BRT Transbrasil, que vai ligar Deodoro ao Centro, deverá piorar a notoriamente caótica Avenida Brasil. “Será um ano mais difícil que 2014”, diz o prefeito Eduardo Paes. “Mas valerá a pena. Com a conclusão das obras, vamos herdar uma cidade justa e integrada, que usará a Olimpíada para se desenvolver”, aposta ele, citando o exemplo de Barcelona, sede dos Jogos em 1992. A cidade espanhola até hoje é apontada por urbanistas como a que melhor aproveitou os Jogos para se reinventar. “Um ano antes, tudo também estava um caos por lá”, relembra.

Parque Olímpico de Londres: obras também tumultuaram o centro da cidade
Parque Olímpico de Londres: obras também tumultuaram o centro da cidade ()

O mesmo aconteceu em Londres, que sofreu intervenções não apenas na área do parque olímpico, no leste, como também nas áreas centrais, a exemplo de Oxford Street e Leicester Square. Não é a primeira vez que atravessamos uma reforma tão radical. Em 1903, o então prefeito, Pereira Passos, decidiu dar características europeias ao Rio. Vias apertadas e trechos insalubres cederam espaço a ruas largas e de traçado afrancesado. São dessa época as avenidas Rio Branco, Maracanã e Francisco Bicalho. O prefeito Carlos Lacerda apostou na remoção de favelas e na criação do Aterro do Flamengo nos anos 60. Na década seguinte, foi a vez da construção da Linha 1 do metrô. O período que compreende os últimos trinta anos, entretanto, caracterizou-se pela decadência. Afundada em dívidas e sem recursos, a prefeitura deixou de investir. Por isso, a atual onda de mudanças é tão importante. Ela vem consolidar a retomada econômica e, espera-se, vai resultar num ciclo virtuoso de novos investimentos. Se o ano que se inicia exige paciência, o prognóstico futuro é o melhor possível. ■

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