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Inflação na sala de aula

O aumento da mensalidade dos dez colégios cariocas mais bem colocados no ranking do Enem, embora legal, chegou a ser o dobro da inflação. Resta aos pais aceitar e pagar, ou, numa alternativa radical, e muitas vezes dolorosa, mudar o filho de escola

Por Felipe Carneiro
Atualizado em 5 jun 2017, 14h10 - Publicado em 20 fev 2013, 19h45
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Gerentes de banco já sabem que no início do ano é preciso ter um pouco mais de compreensão com as contas no vermelho. É tempo de pagar IPTU, IPVA, viagem de férias e presentes de Natal comprados com cartão de crédito, entre outras faturas que não param de chegar. Mas há também outro grande vilão do orçamento em janeiro. Trata-se de uma despesa que chega para ficar e vai pesar no bolso dos pais mensalmente até o fim do ano: o aumento da mensalidade escolar. Um levantamento feito por VEJA RIO com as dez instituições de ensino mais bem colocadas no ranking do Enem mostra que os colégios aumentaram o valor do carnê em até 12%, um porcentual duas vezes maior que o da inflação oficial registrada em 2012, que foi de 5,84%. “A gente faz o maior sacrifício para dar a melhor educação aos filhos, mas todo ano tem aumento de preço, e nosso salário não acompanha. E não é um caso isolado, todos os colégios são assim”, lamenta o advogado Leonardo Castro, que tirou o filho do Santo Agostinho do Leblon para matriculá-lo no Zaccaria.

Não dá para cravar qual é a instituição que detona o processo. Na verdade, as majorações ocorrem simultaneamente e com margens bem parecidas. O inchaço dos carnês pesquisados orbitou em volta de 9%. No alto da tabela dos que mais aumentaram figura o Liceu Franco-Brasileiro, em Laranjeiras, com 12% (veja o quadro ao lado). Logo abaixo ficou a unidade do Santo Agostinho no Leblon, com pouco mais de 10%. Esse aumento que tanto preocupa os pais tem amparo legal. Não existe nenhuma legislação que limite as variações de cobrança de um ano para o outro. A única exigência é que sejam justificadas para os consumidores, no caso, os pais. Vale qualquer explicação, desde o aluguel mais caro até a compra de lousas eletrônicas ou a construção de um ginásio na temporada anterior. “Boa educação realmente não é barato, são inúmeras as variáveis de custo”, afirma Victor Notrica, presidente do Sindicato dos Estabelecimentos de Educação do Rio de Janeiro (Sinepe), que enumera alguns desses itens responsáveis pela majoração: gastos com manutenção, salários e cursos extracurriculares, como esportes e línguas.

Até o início dos anos 90, antes de o Plano Real botar ordem na economia brasileira e acabar com a hiperinflação que infernizava a vida do consumidor, o Procon fiscalizava as contas das instituições privadas de ensino para evitar abusos. Todas as planilhas de custos eram monitoradas, e qualquer desvio se tornava motivo para sanções. Os parâmetros daquela época dão uma boa ideia de como se calcula o valor da mensalidade. Ontem, como hoje, a maior despesa dos colégios é o que os diretores chamam de “cuspe e giz”: os professores, grandes responsáveis pelo nível de ensino de cada estabelecimento, que, por isso mesmo, precisam ser bem pagos. É para eles que vai 70% da receita das escolas ? com a parte de impostos que cabe ao estado, é claro. Para as contas correntes, como luz, gás, telefone e material de almoxarifado, são destinados em média 12%. O aluguel do imóvel leva até 8% da receita, e os 10% restantes ficam de lucro para os donos, no caso das empresas limitadas, ou para reinvestimento na própria estrutura escolar, em instituições filantrópicas (como boa parte dos colégios religiosos) ou sem fins lucrativos. “Hoje não há mais obrigatoriedade de seguir esse balanço a ferro e fogo, mas ele continua como um parâmetro importante, uma receita de bolo para ser seguida”, diz Antonio Carlos Almeida, coordenador administrativo do Andrews.

Os pais de alunos ficam de mãos atadas diante dessa situação, já que não há muita alternativa além de migrar para uma instituição de ensino mais em conta ou, num movimento mais radical, transferir os filhos para a escola pública. Uma mudança quase sempre dolorosa, pois a criança ou o adolescente já formou seu ciclo de amizades e criou vínculo com a instituição. O panorama poderia ser diferente caso os consumidores conseguissem se unir e firmar uma posição contrária aos aumentos abusivos, mas isso dificilmente ocorre. “Infelizmente, os pais não se mobilizam para negociar, e as escolas fazem o que podem para que continue assim”, afirma Neusa Machado, conselheira da Confederação Nacional de Pais de Alunos (Confenapa). “O resultado são aumentos para os quais se dá qualquer justificativa.” E isso é só no que diz respeito às mensalidades, para não falar dos custos de material escolar, transporte, merenda… A boa educação do filho é o melhor investimento que os pais podem fazer. Mas, como mostram as aulas de matemática, a conta tem de caber no bolso.

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