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A despedida do anfitrião

Responsável por trazer o glamour de volta ao Copacabana Palace, o inglês Philip Carruthers deixa o hotel que comandou por mais de vinte anos

Por Carla Knoplech
Atualizado em 5 jun 2017, 14h22 - Publicado em 3 out 2012, 17h40

As recentes transformações que vêm ocorrendo no Copacabana Palace não se restringem ao lobby nem à reforma da fachada e de um punhado de quartos do hotel mais emblemático do Rio. Movimentações importantes também têm acontecido nos bastidores. O diretor-superintendente Philip Carruthers, que durante 23 anos exerceu o cargo mais alto na hierarquia, deixará o imponente complexo da Avenida Atlântica. Na segunda-feira (1º), ele entrega as chaves da suíte onde morou, no 11° andar do prédio anexo. Como é habituado a ver a Praia de Copacabana pela janela da sala e ter a suntuosa piscina do Copa como quintal, é de estranhar que o destino escolhido por Carruthers para viver com a mulher tenha sido a Barra. Mas quem o conhece sabe que, afora o fato de ser flamenguista fanático, ele é um exímio jogador de golfe, esporte que pratica toda quarta-feira pela manhã em um clube no Itanhangá. “Além de abrir uma consultoria, uma de minhas metas nessa nova fase é melhorar meu desempenho nos campos. Agora, terei mais tempo e também estarei mais perto”, diz, em tom jocoso.

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Brincadeiras à parte, não há dúvida de que deixar o Copa foi uma decisão difícil para Carruthers, que tem 66 anos. O inglês, que chegou ao Brasil ainda criança, entrega à Orient Express, companhia inglesa dona do hotel e administradora de mais quarenta empreendimentos turísticos de luxo, uma empresa financeiramente saudável. Bem diferente daquela que encontrou no outono de 1989, quando atravessou pela primeira vez a porta giratória de freijó e vidros curvos. Naquela ocasião, deparou com uma situação alarmante. Vendido pela família Guinle ao empresário James Sherwood, o cinco-estrelas já não ostentava o charme da época em que Ava Gardner, Marlene Dietrich e Rita Hayworth circulavam por ali. Estava perdendo clientes para estabelecimentos mais modernos, como o Rio Palace (atual Sofitel) e o Le Méridien, enquanto afundava em dívidas e sérios conflitos entre funcionários. “No hotel, as pessoas não tinham carteira assinada e viviam basicamente de gorjeta, o que provocava uma tremenda disputa interna”, recorda Carruthers. Sua primeira providência foi regularizar a situação trabalhista, alinhar a base salarial de cada função e acabar com a remuneração informal. “Com a disciplina inglesa do Philip, o Copacabana Palace voltou a figurar entre os hotéis mais desejados do mundo. E, se hoje o faturamento com eventos supera o da hospedagem, também é mérito dos investimentos coordenados por ele”, atesta o empresário Ricardo Amaral, frequentador do hotel há cinco décadas.

A trajetória profissional de Carruthers é uma das razões do sucesso de sua gestão. No blog em que escreve as memórias de sua carreira, e que um dia pretende transformar em livro, ele conta detalhes desse percurso. Aos 18 anos, morando no Leblon e sem experiência no ramo, conseguiu emprego na cozinha do hotel Othon. Ali, era uma espécie de faxineiro, responsável por lavar o chão e a louça suja. Rapidamente, tornou-se amigo dos cozinheiros, ajudantes e garçons. “Peguei muito trem na Central do Brasil para jogar pelada em Mesquita e frequentei várias sinucas da Lapa com meus colegas”, conta. Hoje, acostumado a ciceronear chefes de estado, reis e rainhas, astros do cinema e da música no Copa, não esconde a emoção que sentiu na primeira vez em que conheceu uma celebridade, em 1966. Garçom do serviço de quarto no Leme Palace, foi designado para trabalhar na suíte onde estava hospedada a atriz italiana Claudia Cardinale. “Durante vários dias, tive o prazer de servir-lhe o café”, orgulha-se.

Sua saída encerra um ciclo de ouro para o hotel, só comparado ao período em que Octávio Guinle geria com mão de ferro o empreendimento construído por sua família na década de 20. Ele se afasta do posto ao fim da sexta reforma sob sua gestão. Parte de suas funções será assumida por Andrea Natal, gerente-geral, que se reportará à matriz, em Londres. A aposentadoria do comandante coincide com uma série de rumores de que o negócio mais lucrativo do grupo Orient Express estaria à venda. “Não teríamos iniciado tantas obras se fosse para passá-lo adiante”, desmente Cláudia Fialho, responsável pela área de comunicação. O retrato do ex-chefe agora figura na galeria de fotos do 2º andar, no canto esquerdo, bem ao lado da imagem do ex-beatle Paul McCartney, de quem Carruthers é um antigo fã. Além de deixar saudade, o distinto anfitrião será lembrado entre as estrelas que iluminam o Copa.

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