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Ginástica digital

Aplicativos desenvolvidos para celulares ajudam esportistas amadores a monitorar a performance em tempo real e a alcançar melhores resultados na guerra travada contra a balança e o sedentarismo

Por Carla Knoplech
Atualizado em 5 jun 2017, 14h48 - Publicado em 5 out 2011, 16h11

CAROLINA SENRA, blogueira

Adepta do Yoga Stretch, usa o celular como um manual eletrônico para sessões da prática oriental

Toda primavera, um alerta vermelho dispara. Faltando três meses para a chegada do verão, os calçadões, as ciclovias e as academias de ginástica lotam de cariocas afoitos para eliminar os quilos extras acumulados durante o inverno. A meta é encerrar o ano com o corpo sarado, duro desafio que exige altas doses de disciplina e perseverança. Para enfrentá-lo, os esportistas amadores descobriram recentemente um poderoso aliado: o telefone celular. Aparelhos que possuem conexão com a internet e GPS transformaram-se em uma espécie de personal trainer eletrônico. São equipados com programas que valem por treinamentos completos arquivados na memória. Tais dispositivos monitoram a performance, a velocidade e a queima de calorias durante os exercícios. Produzem ainda relatórios com gráficos a partir dos dados coletados, que podem ser compartilhados nas redes sociais. Dependendo do software utilizado, cada vez que o esportista atinge uma marca notável, a engenhoca dispara uma salva de palmas. “Eu estava cansado de correr na esteira, mas sempre que treinava ao ar livre sentia falta de recursos que ajudassem a mensurar meu desempenho”, diz o administrador Raphael Salviano. Adepto do Nike + GPS, desenvolvido pelo gigante dos artigos esportivos em parceria com a Apple, ele abandonou a academia e passou a correr no condomínio onde mora. Dobrou a distância percorrida em seus treinos (de 2,5 para 5 quilômetros em vinte minutos) e calcula ter perdido 5 quilos nos últimos três meses.

Fernando Frazão
Fernando Frazão (Divulgação)

FÁBIO SEIXAS,empresário

Viciado em esportes, usa o programa RunKeeper até quando anda de skate pelo Parque do Flamengo

Os programas que agora começam a se tornar populares por aqui são uma evolução de aparelhos já conhecidos dos esportistas, como os relógios sincronizados com sensores que medem a frequência cardíaca e os chips adaptados a tênis para contabilizar a quantidade e o ritmo de passadas. A grande diferença diz respeito ao fato de estarem acondicionados dentro do celular ? um artefato tecnológico onipresente na rotina diária. Para usufruir a novidade, basta correr ou pedalar com o aparelho no bolso ou preso ao braço por uma tira elástica. Outra vantagem está na crescente capacidade de coleta e processamento de informações. Se no passado era necessário transferir os dados obtidos para um computador conectado à internet, hoje em dia isso é feito automaticamente pelo próprio telefone. “Assim que adotei o smartphone para a prática de esportes, o resto da parafernália eletrônica ficou completamente obsoleto”, conta o empresário Fábio Seixas, 36 anos, que trocou o relógio com medidor de frequência cardíaca por um software chamado RunKeeper, com mais de 6 milhões de usuários em todo o mundo. Projetado a princípio para corredores, o dispositivo é suficientemente versátil para ser aplicado a outras atividades. Seixas, por exemplo, começou a usá-lo há quatro meses para andar de skate. “Meus deslocamentos hoje são bem mais rápidos”, garante.

Fernando Frazão
Fernando Frazão (Divulgação)

NATHALIA DELORENZI, jornalista

Ciclista, descobriu no aplicativo Cardio Trainer uma ferramenta para monitorar seus treinos

O mecanismo básico de funcionamento desses artefatos é simples. O interessado precisa de um celular dotado de um sistema operacional compatível, como o iOS, da Apple, ou o Android, do Google. A instalação do programa (ou aplicativo, como é chamado entre os iniciados) é feita por meio de uma conexão sem fio com lojas virtuais. Com o auxílio do localizador por satélite do telefone, o aparelho mede a distância percorrida e calcula a velocidade do deslocamento. É quando entra em ação uma bateria de algoritmos que mensuram o grau de esforço envolvido na atividade e as calorias dispendidas. Por fim, monta gráficos, tabelas e planilhas em tempo real que deliciam os maníacos por desempenho. “Já na primeira vez que usei fiquei impressionada com os resultados”, diz a jornalista Nathalia Delorenzi, 27 anos, que adotou o Cardio Trainer para a prática do ciclismo. “É fantástico poder se exercitar e ver na hora quanto queimou. Já rea­lizei treinos em que saía liberada para comer cinco fatias de pizza. Também fiz outros em que não podia passar de três morangos.”

Fernando Frazão
Fernando Frazão (Divulgação)

CARLA DOMINGUES,produtora

Perdeu 3 quilos com

a ajuda de um programa

de corridas e outro de contagem de calorias

Quem experimentou exaustivas (e para alguns às vezes aborrecidas) sessões de treinamento em academias sabe quanto é difícil se manter firme no caminho que leva à boa forma. O progresso costuma ser lento e, dependendo de cada caso, dolorido. Nesse sentido, os aplicativos com seus números e planilhas comparativas ajudam a diminuir a ansiedade e funcionam como um poderoso aliado ao quantificar a evolução, passo a passo. As próprias redes, alertas para o potencial de crescimento dos programas, avaliam a necessidade de desenvolver plataformas específicas para seus alunos. “Estamos fazendo nosso dever de casa, prestando muita atenção nos aplicativos e estudando como podemos reagir a eles”, afirma Eduar­do Net­to, diretor técnico da rede BodyTech.

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[—FI—]

Desenvolvido com o auxílio de atletas como a corredora britânica de longa distância Paula Radcliff e o campeão de ciclismo americano Lance Armstrong, o Nike + GPS é um dos mais populares programas desse tipo. Lançado na versão para iPhone no ano passado, traz recursos como a visualização do percurso em mapa, avisos sonoros que informam sobre a performance e avaliações dos trechos com melhor rendimento. A ferramenta, derivada de um sistema mais antigo, composto de chips e sensores instalados nos tênis, tem 4 milhões de usuários cadastrados e possibilita o compartilhamento dos resultados em redes como o Facebook. Funciona como um estímulo a mais para atletas de fim de semana interessados em exibir suas façanhas aos amigos. É comum, nas maratonas e corridas organizadas pela marca, que os adeptos do software realizem disputas on-line entre si. “Aplicativos assim têm um fator motivacional muito importante”, diz Waldyr Mendes, diretor da Escola de Educação Física e Desportos da UFRJ. “O praticante só precisa tomar cuidado para que o excesso de empolgação não leve a algum tipo de lesão.”

fernando frazão
fernando frazão (Divulgação)

RAPHAEL SALVIANO, administrador

Cansado da rotina da academia, passou a usar o celular para avaliar os treinos ao ar livre

Como em toda atividade física praticada sem supervisão, os programas de treinamento por celular devem ser evitados por iniciantes. Outra providência, comum a quem debuta em qualquer esporte, é fazer uma avaliação médica prévia. Hipertensos, portadores de doenças cardíacas e pessoas muito acima do peso, por exemplo, nunca devem se exercitar sem acompanhamento. Explica Daniel Kopiler, diretor da Sociedade Brasileira de Medicina do Exercício e do Esporte: “Esse recurso é para aqueles que já praticam exercícios e têm familiaridade com o assunto. Quem sai por aí correndo ou pedalando sem preparo ou avaliação de um profissional pode vir a desenvolver diversos problemas, como, por exemplo, danos nos ossos e articulações”.

Stefano Martini/divulgação Nike
Stefano Martini/divulgação Nike (Divulgação)

Depois de tomar os cuidados necessários, o atleta tem à disposição um vasto leque de ofertas. Uma rápida pesquisa no maior site de venda de aplicativos que existe, a AppStore, mantida pela Apple, mostra que há mais de 2?000 programas do gênero. Eles incluem desde os best-sellers oferecidos por grandes empresas esportivas, como o miCoach, da Adidas, até itens de interesse específico, como treinamentos do esquadrão de elite da Marinha americana (aplicativo chamado Navy Seal Fitness), os exercícios utilizados pelos lutadores de jiu-jítsu da família Gracie (o Gracie360) e o programa de ginástica da rede francesa de resorts Club Med. Há ainda dispositivos que funcionam como guia de apoio e orientação para praticantes de atividades como ioga, pilates ou meditação. “Dá até para escolher a música de fundo, entre uma trilha mais oriental e outra new age”, descobriu a blogueira Carolina Senra, praticante de ioga na modalidade ashtanga vinyasa e fã do aplicativo Yoga Stretch.

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Se os atuais programas de exercícios desenvolvidos para celulares impressionam pela variedade de recursos e formatos disponíveis, as possibilidades tornam-se ainda mais atraentes quando dois ou mais dispositivos são combinados entre si. A produtora Carla Domingues, gaúcha de 27 anos que há onze mora no Rio, adotou a corrida como esporte preferencial em setembro do ano passado. Desde janeiro usa o aplicativo da Nike para monitorar seu desempenho. Apesar disso, a melhora no condicionamento físico não veio acompanhada de benefícios na balança. Há três meses, ela decidiu adotar um segundo programa, o Contador de Calorias. Entre outros destaques, o software aponta o valor energético de pratos das redes de restaurantes e fast-food, além de centenas de produtos industrializados. Um dos charmes é o leitor do código de barras das embalagens ? basta focalizá-lo com a câmera para a quantidade de calorias aparecer na tela do celular. Com esse recurso, Carla percebeu que alguns de seus pratos prediletos, caso de determinadas receitas do restaurante Outback, simplesmente estouravam qualquer dieta pretensamente equilibrada. “Só a porção de batatas com queijo e bacon corresponde à metade de tudo o que eu posso comer em um dia”, diz ela, que perdeu 3 quilos desde que começou a prestar atenção no valor calórico dos alimentos.

O campo da tecnologia é, por definição, espaço aberto para ideias de todo tipo, factíveis ou não. Cientistas que inventaram vários dos programas citados nesta reportagem anteveem perspectivas brilhantes para suas criações. O americano Jason Jacobs, pai do RunKeeper, imagina um futuro em que seu filhote virtual se tornará uma espécie de Facebook do bem-estar, com todas as informações relativas à saúde, como variação da pressão arterial, taxa de batimentos cardíacos, colesterol, ingestão calórica e diversos indicadores semelhantes, constantemente atualizados por medições como as feitas pelos celulares. Outros vão além e sonham com o dia em que poderemos adicionar a essa base dados relativos à nossa predisposição genética para engordar, emagrecer, ganhar músculos ou mesmo desenvolver doenças vinculadas à obesidade e ao sedentarismo. Por mais mirabolante que pareça, não deixa de ser plausível. Quem sabe não estamos diante de algo muito maior do que um modismo efêmero para perder peso?

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