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Pesquisa inédita desmistifica tabus e revela o alto índice de conectividade dos jovens de favelas

Por Bruna Talarico
Atualizado em 2 jun 2017, 13h10 - Publicado em 2 abr 2014, 22h08

De sua laje, no topo do Morro dos Prazeres, o fotógrafo e estudante Kelvin Fernandes de Almeida tem visão privilegiada de uma vasta extensão do Rio. Lá do alto pode contemplar a Baía de Guanabara, o Pão de Açúcar, a Enseada de Botafogo e até boa parte do centro histórico. Seu horizonte, porém, vai muito adiante. Ligado à internet por dois computadores domésticos e um smartphone, o adolescente de 18 anos vislumbra também as numerosas oportunidades que essa conectividade proporciona. Ele pode até ser um exemplo extremo, mas definitivamente não é um caso isolado. Levantamento feito pelo Instituto Pereira Passos (IPP) com 6 000 jovens de 14 a 24 anos de dez favelas pacificadas chegou a conclusões surpreendentes que, ao menos nesse terreno circunscrito, desmistificam o apartheid digital. Entre as revelações que merecem destaque, nove em cada dez jovens estão conectados à internet, sendo que 70% dos entrevistados ficam on-line diariamente (veja o quadro abaixo). Publicado com exclusividade por VEJA RIO, o estudo questiona ainda outros tabus. Por exemplo: o índice de gente conectada supera com boa margem o de quem disse frequentar shoppings ou bailes funk. “Para essa juventude de baixa renda, a internet representa a chamada integração horizontal”, avalia Rodrigo Baggio, criador do Comitê para Democratização da Informática, ONG fundada em 1995. “O adolescente interage com o mundo sem o estigma de ser da favela.”

Embora englobe regiões díspares, como a Cidade de Deus, uma imensa favela na Baixada de Jacarepaguá com cerca de 50?000 habitantes, e o Morro da Formiga, um pequeno povoado no Maciço da Tijuca reunindo pouco menos de 5?000 moradores, a pesquisa revela que, na média, as variações nas áreas abordadas não são gritantes. Salta aos olhos que quase a totalidade dos entrevistados possui celular e que a turma tem predileção pelas redes sociais, em especial o Facebook. Ele é um canal no qual os jovens fazem amizades, batem papo e se exibem para o mundo externo. “Só coloco crédito no celular para usar as redes sociais”, reconhece a estudante Tamara de Souza, de 18 anos, que se diz viciada em Facebook e no aplicativo WhatsApp. Com ensino médio completo e em dúvida se cursa direito ou enfermagem, a jovem moradora da Ladeira dos Tabajaras, em Copacabana, usa esses meios para se comunicar com a família, os amigos e professores. “Agora existe a possibilidade de contar a vida real da favela pelo ângulo de seu morador”, aponta Luiz Moncau, do Centro de Tecnologia e Sociedade da Fundação Getulio Vargas.

Felipe Fittipaldi
Felipe Fittipaldi ()

É inegável que o uso desse tipo de ferramenta abre novas perspectivas de socialização e, no tocante à vida profissional, pode ajudar a alavancar uma carreira. “Saber usar a internet acelera o processo de empregabilidade e melhora o posicionamento no mercado de trabalho”, afirma Rodrigo Baggio. “Superconectada”, como ela própria diz, Vitória Cristina da Silva, de 16 anos, residente no Morro dos Prazeres, sonha em frequentar uma universidade, desejo que é compartilhado por um quarto dos entrevistados. Ela já concluiu um curso técnico de iniciação em administração de empresas e está no 1º ano do ensino médio. “Quero fazer faculdade e ter uma vida melhor”, diz.

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Aplicada por 100 jovens das próprias favelas, treinados pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional da UFRJ, a pesquisa de campo foi feita de setembro a novembro do ano passado. Os resultados serão apresentados em seminário no fim de abril, e a ideia é que os dados sirvam de base para políticas públicas direcionadas àqueles espaços. “Agora a prefeitura tem um norte para atuar”, afirma a economista Eduarda La Rocque, presidente do IPP. “Poderemos casar demanda com oferta, seja de cursos, projetos sociais ou programação cultural.” Com passagem pelo programa UPP Social em seus primórdios, o arquiteto de políticas públicas Pedro Henrique de Cristo, radicado no Vidigal, faz um alerta. “Uma pesquisa como essa precisa ser feita com rigoroso critério estatístico e pegar gente de diversos pontos das comunidades”, diz ele. “Uma análise malfeita pode comprometer as ações.” Não há dúvida, porém, de que radiografar os jovens para saber seus anseios e demandas é um passo importante para um futuro melhor.

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