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Charme de capital

Por longo tempo no centro das decisões políticas, Niterói tem um índio famoso, tragédias no currículo e uma classe média exigente

Por Paulo Vasconcellos
Atualizado em 5 jun 2017, 14h36 - Publicado em 28 mar 2012, 20h49
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Não passa de mito a repetida história de que Niterói teria sido fundada pelo índio Arariboia. Liderando várias tribos, esse cacique tamoio realmente ajudou Estácio de Sá a expulsar, em 1567, invasores franceses que estavam em busca de riqueza nos trópicos. Pelo feito, ele e seu povo ganharam nacos de terra à direita da Baía de Guanabara, fixando-se na encosta do Morro de São Lourenço. Mas daí a atribuir ao guerreiro de tanga a criação da cidade vai longa distância, versão que os livros escolares nem sempre colaboram para esclarecer, e que o nome indígena Niterói contribui para difundir.

“Índio não faz cidade”, diz Paulo Knauss, professor do departamento de história da Universidade Federal Fluminense (UFF) e diretor do Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro. “Niterói, como município, só vai surgir em 1819, com a fundação da Vila Real da Praia Grande, por dom João VI.” Dois anos depois, a vila já contava com 747 moradias e 5?000 habitantes (cerca de 2?700 escravos e 2?300 homens livres). Em 1835, com o Rio de Janeiro já elevado pelo Império à condição de província, a Vila Real passa a se chamar Niterói, ganhando autonomia administrativa e se tornando capital por longo perío­do, com direito a um breve hiato: de 1893 a 1903, por causa da Revolta da Armada – que provocou destruição de monumentos, mortes e êxodo da população -, a sede do poder foi transferida, em caráter provisório, para Petrópolis.

Nos primeiros anos do século XX, a cidade experimentaria novo ciclo de progresso. Ruas e avenidas foram alargadas, houve obras de saneamento, importantes fábricas ali se instalaram e parte da Praia Grande foi aterrada, para a construção da estação das barcas. “Niterói tem uma história muito densa nos anos 50 e 60”, conta o historiador Knauss. “Era uma época de mudanças políticas, e ela estava no centro dos acontecimentos.”

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Uma famosa manifestação popular e uma tragédia também muito conhecida marcaram essa época. Em 1959, usuários demonstraram sua insatisfação com o grupo Carreteiro, que administrava as barcas. Houve quebra-quebra. Manifestantes puseram fogo em edifícios e bens da empresa. Resultado: seis mortos, 118 feridos e a polêmica estatização do serviço. A tragédia, uma das maiores do país, foi o incêndio do Gran Circo Norte-Americano, recontada em detalhes pelo jornalista Mauro Ventura no recém-lançado livro O Espetáculo Mais Triste da Terra, da Companhia das Letras. No episódio, mais de 500 pessoas, na maioria crianças, morreram. Era uma matinê lotada, naquele 17 de dezembro de 1961.

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A década seguinte seria de transformações. Em 1974, inaugurava-se a Ponte Rio-Niterói, marco de uma nova era. Um ano depois, como parte do processo de fusão dos estados do Rio de Janeiro e da Guanabara, Niterói deixava de ser a capital fluminense, passando a compor a região metropolitana do Rio. Mesmo assim, continuava sem votar em seu prefeito pela via direta, porque o regime militar a enxergava como área de segurança nacional. Só em 1989 pôde eleger, pela primeira vez, seu administrador: Jorge Roberto Silveira, de uma família de tradição na política local, seria o escolhido das urnas, e depois voltaria ao cargo outras três vezes.

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Um dos principais centros financeiros, comerciais e industriais do estado, Niterói se desenvolve a uma velocidade que acompanha não só o ritmo do crescimento da economia brasileira como também de indicadores que levam muita gente a morar na cidade, em busca de qualidade de vida. De acordo com os dados do censo de 2010 do IBGE, o município tem a maior renda per capita domiciliar do Brasil, com média de 2?000 reais por mês. A contrapartida desse processo tem sido a favelização acentuada, consequência de uma perigosa falta de planejamento urbano.

Os desafios do futuro vêm principalmente, sob formas distintas, quase opostas, de dois municípios vizinhos. Certamente Niterói se beneficiará com o desenvolvimento de Itaboraí, onde está sendo instalado o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro, mas ao mesmo tempo se preocupa com o gigantismo de São Gonçalo, o segundo maior município do estado em população, mas com baixo dinamismo econômico. Além disso, a alta concentração de classe média – maior do que em todas as outras cidades brasileiras – tende a provocar demandas específicas. “Niterói é uma cidade prazerosa de administrar, mas com uma população muito bairrista e de elevado nível cultural”, diz o prefeito Silveira. “Por isso, as exigências também são altíssimas.”

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