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Hackers do bem

Em um desafio digital, grupos criam programas e aplicativos que auxiliam na administração da cidade

Por Felipe Carneiro
Atualizado em 5 dez 2016, 14h10 - Publicado em 18 set 2013, 14h35

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Palácio da Cidade, em Botafogo, costuma ser palco de reuniões do primeiro escalão da administração municipal. No último dia de agosto, no entanto, um encontro que envolveu 78 pessoas mudou a rotina do casarão. Em vez da formalidade habitual, os salões receberam em sua maioria jovens de bermuda e camiseta, imbuídos da missão de conceber, em até trinta horas, soluções para os quatro maiores problemas citados pela população na ouvidoria da capital: árvores sem poda, estacionamento irregular, iluminação pública deficiente e má conservação das vias. Batizada de Hackathon (maratona de hackers), a iniciativa juntou 25 grupos de programadores, designers, engenheiros e publicitários. No fim da estirada, um júri escolheu os três melhores trabalhos, que dividiram uma premiação de 20?000 reais e nascem com a real perspectiva de ser postos em prática. Satisfeita com o nível das propostas, a prefeitura decidiu abraçar também outros concorrentes, que foram chamados na última semana para uma reunião na Casa Civil (veja os quadros). “O Hackathon foi um grande brainstorm no qual surgiram ideias boas e exequíveis. Seria um desperdício aproveitar só três projetos”, afirma o secretário da Casa Civil, Pedro Paulo Carvalho Teixeira.

Neste tempo em que a espionagem digital virou escândalo internacional em altíssimas esferas, os especialistas reunidos no Rio merecem ser chamados de hackers do bem. Eles criaram programas de computador e aplicativos para smartphones com ênfase na administração pública, que visam a melhorar o dia a dia do carioca. São grupos de formação heterogênea, como é o caso do Páprika, composto de dois produtores de conteúdo, três programadores e uma designer, todos entre 26 e 43 anos. Esse sexteto desenvolveu uma plataforma para fazer um censo arbóreo colaborativo na cidade. Funciona da seguinte maneira: a pessoa fotografa a árvore e manda a imagem para um banco de dados, com sua devida localização. O vegetal tem sua espécie identificada e é submetido a uma avaliação automática para ver se precisa ou não ser podado, dando rapidez ao serviço. Numa etapa seguinte, depois de concluído o levantamento, será possível obter todas as informações sobre a flora carioca, bastando para isso apontar o celular para as árvores. Outro grupo selecionado na segunda ronda, o Cidadão Vigilante foi formado em cima da hora, durante um cafezinho na empresa digital onde seus integrantes trabalham. Eles montaram um site que usa as redes sociais para hierarquizar as reclamações direcionadas à central de atendimento 1746, que concentra diversos órgãos municipais. O objetivo é identificar as queixas reincidentes e dar agilidade ao processo. Por sua vez, os dois programadores do Ecoding, que se conheceram na faculdade de computação e viraram parceiros na criação de aplicativos, também idealizaram um programa voltado para o serviço 1746. “Essa diversidade tornou o evento interessante, pois, se fossem grupos uniformes, as ideias provavelmente seriam parecidas e poderiam ter sido concebidas numa sala por meia dúzia de burocratas”, diz Felipe Teixeira, do Ecoding.

Em um momento político delicado, pressionada pelas manifestações nas ruas e objeto de críticas do Comitê Olímpico Internacional pela morosidade na preparação dos Jogos de 2016, a prefeitura se empenha para aproximar-se da população. Dentro dessa diretriz, as redes sociais são o melhor atalho entre as duas pontas. Recentemente, a admistração municipal encampou o site Rio Mais, comprometendo-se a bancar as doze melhores propostas sugeridas na plataforma, com até 100?000 reais para a execução de cada uma delas. Vale a ressalva de que esses movimentos não são uma invenção nativa. Na verdade, inspiram-se em uma experiência levada a cabo em São Francisco, na Califórnia. Vizinha do Vale do Silício, a cidade foi pioneira na organização de hackathons, iniciativa logo replicada em Nova York e Boston. Porém, o município da costa oeste americana foi mais longe e criou o programa Improve SF, que propõe desafios em um site e oferece prêmios às melhores sugestões. Foi assim que surgiram medidas simples e eficazes, como um projeto de recolhimento de sobras de legumes e verduras nos restaurantes para fazer sopa nas escolas. “São programas que não só têm um impacto positivo real no cotidiano, como atraem o cidadão para o seu lado, em vez de ele ficar apenas reclamando do governo nas redes sociais”, diz o prefeito local, Edwin Lee. Como recompensa, os proponentes podem ganhar uma aula de culinária, um passeio turístico ou um prêmio um tanto inusitado: a gravação de uma mensagem na secretária eletrônica feita pelo próprio prefeito. Melhor receber apenas os parabéns.

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