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Ainda há muito a ser feito até a Paralimpíada

Em pesquisa para um guia de turismo sobre acessibilidade no Rio, consultora britânica constata que o caminho será longo

Por Felipe Carneiro
Atualizado em 2 jun 2017, 13h15 - Publicado em 15 jan 2014, 15h35

Referência em acessibilidade nos Jogos de Londres, a britânica Emily Yates se viu numa via-crúcis com sua cadeira de rodas durante a passagem pelo Rio, no mês passado. Para sair dos hotéis onde se hospedou, invariavelmente contou com a ajuda de funcionários, que colocavam uma rampa nos degraus de entrada e ainda a auxiliavam na descida. Pegar táxi foi outra dificuldade frequente. Em geral, os motoristas recusavam a corrida porque o porta-malas do veículo era ocupado com o tanque de gás e não havia espaço para carregar a cadeira de rodas. Na avaliação de Emily, que está escrevendo um guia de turismo acessível sobre o Rio com vistas ao ciclo olímpico de 2016, ainda há muito por fazer nesse terreno. “A cidade tem muito a melhorar em acessibilidade. Mesmo quando há rampas, elas são terríveis”, afirma ela, para depois atenuar: “Mas é impressionante a amabilidade do carioca, sempre com um sorriso oferecendo ajuda. Não fiquei desamparada em nenhuma situação”.

Rodando pela cidade
Rodando pela cidade ()

 

Paraplégica desde a infância em decorrência de um problema no cérebro, Emily ganhou notoriedade ao se tornar voluntária na Paralimpíada de Londres. Inicialmente, sua ideia era disputar o torneio de basquete, mas não foi convocada para a seleção e decidiu participar da competição de outra forma. Acabou virando uma porta-voz sobre o tema da acessibilidade. Para seu espanto, o presidente do Comitê Organizador londrino, Sebastian Coe, citou em seu discurso na cerimônia de encerramento um diálogo que teve com Emily, ressaltando que o torneio serviu para “dissipar a nuvem de limitação” das pessoas com necessidades especiais. A referência a encorajou a procurá-lo semanas mais tarde com a ideia de escrever um guia de turismo com ênfase na acessibilidade para quem vem à competição em 2016, que deve trazer ao Rio mais de 4?000 atletas paralímpicos, boa parte deles com problemas de locomoção. Coe aprovou a ideia e viabilizou patrocinadores para o projeto, que já tem garantida a publicação em e-book na Inglaterra pela tradicional editora Rough Guide. O objetivo agora é conseguir financiadores para editar o livro em papel e traduzi-lo para outras línguas, entre elas o português.

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Na primeira etapa da tarefa, em dezembro, Emily fez uma visita de vinte dias ao Rio e pôde avaliar determinados lugares (veja o quadro ao lado). Além das praias, criticou a falta de infraestrutura para o cadeirante no Aeroporto Santos Dumont e no Trem do Corcovado. Em contrapartida, elogiou os acessos ao Pão de Açúcar. Para ter uma noção mais ampla da cidade, ela não limitou seu roteiro aos pontos turísticos óbvios. Ficou empolgada com a Embaixadores da Alegria, escola de samba formada por pessoas com deficiência, e saiu de lá convidada para voltar no Carnaval. Conheceu também a orla da Barra, onde fez uma aula no projeto AdaptSurf, voltado para pessoas com deficiência, e adorou deslizar pelas ondas do Pepê. “Fui à Praia da Barra e só. Cadeirantes como eu não têm estrutura nenhuma para ir às outras praias, o que é uma pena”, disse ela, que em seguida viajou para a cidade russa de Sochi, onde será disputada no próximo mês a Olimpíada de Inverno.

A Olimpíada é uma oportunidade de ouro para desencadear uma série de mudanças na cidade, da infraestrutura ao comportamento do cidadão. Assim ocorreu na capital inglesa, que revitalizou uma área urbana degradada e incrementou seu transporte público, entre outras benfeitorias. “Londres melhorou depois da Paralimpíada. Hoje entro e saio sozinha de qualquer estação do metrô”, diz Emily. Aqui, ela participou de reuniões no Comitê Rio 2016, na Autoridade Pública Olímpica e no Congresso Nacional. Ouviu promessas de melhorias. Fez ainda um tour pelo metrô do Rio e recebeu um convite da concessionária do sistema para tornar-se consultora em acessibilidade, setor que, por sinal, deixa muito a desejar. Ela planeja voltar depois da Copa do Mundo para dar sequência a sua pesquisa e checar se houve algum avanço. “É uma pena que seja preciso uma estrangeira vir aqui apontar os problemas para que algo seja feito”, diz. “Mas é melhor do que nada acontecer.”

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