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O todo-poderoso na avenida

Não basta ser enredo. O empresário Boni é ativo na preparação do desfile inteiro da Beija-Flor

Por Sofia Cerqueira
Atualizado em 2 jun 2017, 13h19 - Publicado em 30 out 2013, 20h06

Em meio aos 6?000 presentes à escolha do samba da Beija-Flor, que varou a madrugada de sexta (18), na quadra de Nilópolis, um tipo bonachão de cabelo acaju era alvo de mesuras por onde passava. A por­ta-bandeira Selminha Sorriso o abordou para mostrar o vestido com o rosto do homenageado realçado por lantejoulas, e o intérprete Neguinho da Beija-Flor fez questão de descer do palco especialmente para saudá-lo, enquanto seu interlocutor posava para uma série de fotos ao lado de admiradores. Sempre reverenciado nos bastidores em seus trinta anos como plenipotenciário da Rede Globo, José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, recebe agora uma grande homenagem popular. Enredo da Beija-Flor, ele só deixou a quadra às 4 da manhã, depois de ouvir os quatro sambas concorrentes. “Achava que um paulista de Osasco não dava samba e por isso relutei em aceitar o convite. Mas acabei envolvidíssimo com tudo”, diz o empresário, bem acomodado no camarote do presidente de honra da escola, o notório contraventor Aniz Abraão David, onde foi recepcionado com garrafas de um sofisticado vinho produzido pela família Rothschild.

O superlativo que ele usa para descrever sua participação no Carnaval da Beija-Flor ? “envolvidíssimo” ? não é uma hipérbole. Desde que aceitou o convite para se tornar enredo, no mês de março, ele vem se imiscuindo em todos os estágios da confecção de um desfile. Participa semanalmente de reuniões no barracão da Cidade do Samba. Ainda envia e-mails e telefona ao menos uma vez por dia para a comissão de Carnaval. Quer saber de cada detalhe e ajuda, sobretudo, na parte tecnológica dos carros alegóricos. Vai também com frequência aos ensaios em Nilópolis, sempre que possível de helicóptero. Uma exceção foi na noite da escolha do samba, em que o mau tempo impediu a aeronave de levantar voo. Então, Boni reuniu parentes e amigos ? entre eles a mulher, Lou de Oliveira, os filhos Diogo e Bruno, o empresário Ricardo Amaral e a socialite Narcisa Tamborindeguy ? no restaurante Antiquarius, no Leblon, e de lá partiram numa van para a Baixada Fluminense. Incansável, três dias depois ele acompanhou a gravação do samba vencedor, que exalta “o astro da televisão” em seu refrão. “Embora esteja acostumado a mandar, aqui não há atritos. Ele opina muito, mas respeita nossas decisões”, conta Ubiratan Silva, um dos carnavalescos da agremiação. Se depender apenas de sua vontade, Boni quer atravessar a avenida no chão, de preferência tocando tamborim perto da bateria, em vez de passar encarapitado em uma alegoria, como é praxe com os grandes homenageados.

Oscar Cabral
Oscar Cabral ()

Enredos personalistas são um expediente frequente das escolas, e bem-sucedidos nos últimos Carnavais. Em 2012, a Unidos da Tijuca foi campeã ao cantar Luiz Gonzaga. Na temporada anterior, a própria Beija-Flor ficou com o título ao homenagear Roberto Carlos. Aos 77 anos de idade e com mais de meio século dedicado ao rádio e à TV, Boni tem uma trajetória que dá mesmo samba. Foi na Globo que virou “o astro iluminado”, como é descrito no enredo. Entrou na emissora em 1967 e tornou-se peça-chave para alçá-la a uma das maiores potências mundiais da televisão. Foi responsável por uma série de inovações introduzidas na transmissão dos desfiles de Carnaval. Também vem do fim da década de 60 sua paixão por esse universo, após ter sido levado a um barracão por Arlindo Rodrigues, carnavalesco e cenógrafo que morreu em 1987.

Há mais de quarenta anos Boni não passa um Carnaval longe do Rio, sempre saindo na Mocidade Independente, sua escola do coração, e na Beija-Flor. Ao longo de todo esse tempo estreitou o relacionamento com alguns dos patronos do samba integrantes da cúpula do jogo do bicho. É amigo próximo de Aniz Abraão David, que foi condenado a 48 anos de reclusão em 2012 por formação de quadrilha. Na década de 90, Boni já vivera uma situação embaraçosa ao ser fotografado deixando o presídio onde estava trancafiado o contraventor Castor de Andrade (1926-1997). “O doutor Roberto (Marinho, dono da emissora) reclamou, mas argumentei que o Castor era um amigo pessoal e o que ele fazia não me dizia respeito”, lembra. Com jogo de corpo, o todo-poderoso pede passagem.

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