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Apartamento em obras

Ergueram uma casa de 90 metros quadrados só para a arte. É o Solo Projects

Por Da Redação
Atualizado em 5 jun 2017, 14h51 - Publicado em 5 set 2011, 17h57

Imagine que você entre numa casa onde cada cômodo tem apenas uma ou, no máximo, duas obras de arte, e mais nada. Que sensação terá? Quadros no lugar dos móveis? Fotografias onde deveria haver janelas? Misturar o conceito das peças com o espaço de ambientes que fazem parte do dia a dia de todos é a proposta do chamado Solo Projects, que vai funcionar dentro de um apartamento montado no fim do armazém 3, com a expectativa de ser um dos pontos altos da feira. Com cerca de 90 metros quadrados, a estrutura tem salão, corredores, quartos, banheiros e até um quintal. Nela não serão instaladas peças de acervos de galerias, mas obras de artistas especialmente convidados, uma de cada um, daí o nome do projeto. Uma dezena de estrangeiros e um brasileiro ocupam a área (nas páginas 10 e 11, os destaques).

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As divisórias do imóvel foram feitas com gesso acartonado (dry-wall), tudo em branco, para valorizar ainda mais o que estiver exposto. Que não se espere ver telas tradicionais por aqui, ou esculturas de cantinho de sala, e sim ousadas e criativas instalações, algumas quase convidando os espectadores a participar. É o caso de Coco na Machadinha. Inédita, criada especialmente para a feira pelo carioca Ernesto Neto, ela só será montada na véspera da abertura do evento. Consiste em cocos pendurados em redes, que por sua vez estarão presas num teto decorado com círculos ? a ideia é o visitante passar por baixo da instalação, vislumbrando a seu lado, bem de perto, as frutas suspensas.

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Naquele que seria o espaço equivalente ao lavabo do imóvel, estará em exibição outra obra de impacto: cascos de refrigerantes e latas de energético, pintados de forma inusitada (um deles com a conhecida imagem do guerrilheiro Che Guevara), de autoria do argentino Runo Lagomarsino. Uma torneira de feltro, da qual evidentemente não sai água, mato com livros jogados e outras experimentações desse tipo também ajudam a compor o percurso do passeio pelo Solo Projects, que teve curadoria da venezuelana Julieta Gonzalez, da galeria inglesa Tate Modern, e do arquiteto mexicano Pablo León de La Barra, cujo escritório londrino é um dos mais importantes do mercado de artes daquele país.

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Alguns artistas do Solo Projects

Os países de onde eles vêm e como são suas obras

Alberto Baraya

Colombiano que mistura fotografia, vídeo e escultura, representado na feira pela Galeria Nara Roesler, de São Paulo. Na sala estará sua obra Intervenção na Paisagem, em que aparece a Catedral de Brasília.

Carla Zaccagnini

A artista argentina, trazida pela galeria paulistana Vermelho, mostra a série Evidências de uma Farsa, em que reúne elementos, como revistas, para contrapor momentos diversos da história do Brasil.

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Dominique Gonzalez-Foerster

As obras da francesa, que vive entre o

Rio e Paris (vinda pela Jan Mot, da Bélgica), costumam atiçar o questionamento do espaço. Num cantinho haverá terra, plantas e livros jogados.

Ernesto Neto

Esse carioca de 47 anos, da Gentil Carioca, mostra na ArtRio a instalação Coco na Machadinha, exposta na parte externa do apartamento do Solo Projects. A ideia é o visitante passar no meio da obra.

Felipe Mujica

Nascido no Chile, residente em Nova York, ele faz parte do time da galeria Christinger de Mayo, da Suíça. Apresenta um papel de parede customizado, com design moderno, “onde não há centro ou periferia”.

Iván Candeo

Artista venezuelano da galeria Oficina 1, de seu país, ele vai mostrar a obra Inércia, de 2009, cuja figura central é um ciclista “parado” no espaço. O vídeo exibe imagens recorrentes em discursos políticos.

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Jesús Bubu Negrón

Uma homenagem a uma esquina de seu país, Porto Rico, é a proposta do artista. A escultura reproduz o design e os ícones das ruas de um conjunto habitacional. Obra da galeria porto-riquenha Roberto Paradise.

Johanna Unzueta

Tubos de feltro são a especialidade desta chilena, representada pela galeria suíça Christinger de Mayo. Sua obra se chama Situação Azul. A artista mexe com o caráter simbólico da arquitetura e dos objetos.

Pablo Helguera

O mexicano mostrará um projeto inusitado: uma novela construída com uma coleção de slides de autoria desconhecida, achada numa feira de antiguidades. Sua galeria é a Enrique Guerrero, do México.

Pia Camil

A jovem mexicana é conhecida por explorar a relação possível entre espaço público

e arte. Sua obra agrega também elementos auditivos. Está na mostra trazida

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pela galeria La Central, da Colômbia.

Runo Lagomarsino

Artista nascido em 1971, na Argentina, hoje em dia se revezando entre São Paulo e Suécia (de onde é sua galeria, a Elastic), ele trouxe à ArtRio objetos que questionam comunismo, consumismo e slogans.

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A pegada latina de Pablo e Julieta

Curadores do projeto abriram espaço para artistas da América do Sul e priorizaram obras politizadas

Para chegar à seleção final do grupo de artistas que se instalariam no apartamento do Solo Projects, a dupla de curadores Pablo León de La Barra e Julieta Gonzalez se guiou, como eles próprios dizem, por um “desejo de ancorar a exibição em um conjunto de referências alusivas à modernidade, à arquitetura e à utopia, junto à construção de narrativas históricas”. A estrutura da casa, assinada pelo venezuelano Mauricio Lupini, faz referência a um típico apartamento de condomínios populares muito em voga na Caracas da década de 50. Segundo Pablo e Julieta, outros conjuntos habitacionais erguidos naquela época em diferentes países do continente também faziam parte de uma certa “agenda de progresso e modernização” que acabou mudando a configuração urbana das principais capitais ? outros exemplos seriam os prédios do Tlatelolco, na Cidade do México, e as unidades habitacionais do curvilíneo edifício Pedregulho, em São Cristóvão, no Rio, projeto de Affonso Reidy. Dessa forma, boa parte das obras incluídas no Solo Projects trata do processo histórico e dos sonhos da América Latina naquele momento. No catálogo oficial da ArtRio, os dois curadores assinam um texto em que abordam o florescimento de uma “iconografia tropical”, que teria se desenvolvido durante os anos em que o Terceiro Mundo era visto como parte da chamada “política de quintal” dos Estados Unidos, e por isso enfrentado também os reflexos da Guerra Fria, contra o bloco liderado pela antiga União Soviética.

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