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Por amor ao Rio

O embaixador Joaquim Monteiro de Carvalho é um dos fundadores do movimento para conscientizar a população carioca de que pequenos gestos de cidadania fazem a diferença na vida cidade

Por Da Redação
Atualizado em 5 dez 2016, 13h58 - Publicado em 13 dez 2013, 13h15

Na última lua cheia, Joaquim Monteiro de Carvalho reuniu um grupo de amigos aventureiros para um passeio de stand-up paddle noturno. Eles saíram de Copacabana e remaram quase três quilômetros até a Praia Vermelha, do outro lado da Pedra do Leme, sempre com a lua ao alcance da vista. Chegando lá, alugaram as bicicletas laranjinhas do programa Bike Rio e pedalaram até o Bar Urca. Sentaram na mureta e beberam algumas cervejas, encerrando a noite.

Esse é Joaquim, um sujeito alto e de sorriso fácil, carioca nascido e criado na mansão dos Monteiro de Carvalho, em Santa Teresa, um apaixonado pelo Rio. Com entusiasmo de sobra, o administrador ajudou a fundar o movimento Rio Eu Amo Eu Cuido em 2010. O grupo realiza mutirões regulares de limpeza nas praias da cidade e iniciativas que buscam conscientizar a população sobre a importância dos pequenos gestos, como não avançar o sinal vermelho e não jogar lixo no chão. “Não basta amar, é preciso, acima de tudo, cuidar”, afirma. “Todos dizem que amam o Rio, mas se não botamos a mão na massa, de que serve esse amor?”

Formado na PUC-Rio e com especialização em marketing e entretenimento na Universidade de Nova York, Joaquim passou a trabalhar na Prefeitura há três anos. Passou pelas secretarias de Conservação, Transportes e hoje é braço-direito do prefeito em assuntos ligados à marca do Rio de Janeiro. “Toda grande cidade tem uma identidade. Paris é a terra do amor. Nova York, a capital mais cosmopolita do mundo. No Rio, temos a economia criativa em nosso DNA, realizamos o Carnaval, que é a maior festa a céu aberto do planeta. Sabemos encantar o mundo como ninguém”, orgulha-se.

Por ser um dos embaixadores do movimento De Braços Abertos, Joaquim é o nosso primeiro entrevistado. No dia do encontro com a equipe do projeto, ele acordou às 5 da manhã para pedalar até o Cristo, no alto do Corcovado, antes de ir para o trabalho. “Ninguém aprende nada dormindo”, ensina.

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[—V—]

Estamos recebendo os grandes eventos do mundo. Qual é nosso grande desafio nesse momento?

O grande desafio do Rio será a partir de 2017, depois da Olimpíada. Como vamos absorver isso tudo que está acontecendo é a questão principal. O carioca tem a criatividade na veia. Nosso jeito de ser é realmente encantador, mas confundimos muito essa espontaneidade com falta de regras. Os maiores eventos do planeta estão chegando. Faz sentido termos o mesmo comportamento de sempre, muitas vezes irresponsável? O Rio não é mais uma cidade de veraneio. Agora somos uma cidade olímpica. Temos o grande desafio de nos portarmos como tal.

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O que significa isso na prática?

Bem, quem faz a cidade é o cidadão. Acontece que nosso comportamento aqui, no Rio, é totalmente diferente de como nos comportamos no exterior. Lá fora, os cariocas são cidadãos de primeiro mundo. Aqui, estamos longe disso. Somos patriotas de quatro em quatro anos, durante a Copa do Mundo. Nos intervalos, estamos acostumados a criticar, mas sentados no sofá. É muito cômodo portar-se dessa maneira. Problema no Rio é o que não falta. O que falta é gente que coloca a mão na massa.

Como o carioca pode mudar isso e ser mais participativo?

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JMC: Sendo gentil com o gari, para começar. E com o guarda de trânsito, com o policial, com o motorista de ônibus. Podemos começar dando bom dia na rua, em vez de se nivelar por baixo alegando que, se os outros não são assim, também não devemos ser. É o papelzinho que se joga no chão, a guimba de cigarro, o avanço de sinal vermelho. Quem adota essa postura descompromissada é a mesma pessoa que reclama da corrupção. Em vez de reclamar do trânsito, ofereça carona, ou vá de carona, ou use o transporte público. São maneiras de ajudar a reduzir o trânsito. Acho que um bom começo é parar de reclamar e se perguntar: o que posso fazer para melhorar a minha cidade, ou meu bairro, ou minha rua? O símbolo da cidade são os braços abertos do Cristo. Mas a imensa maioria continua de braços cruzados, apenas apontando problema, sem fazer parte da solução. Normalmente, as críticas da população são voltadas para as questões macro. Mas já estamos cuidando do macro. E o micro? Depende de cada um de nós.

Onde o carioca é menos civilizado?

No trânsito, sem dúvida. Se você está dirigindo e precisa mudar de faixa, não basta dar a seta. É preciso reverenciar o sujeito, fazendo um sinal de OK, praticamente implorando para ele permitir a sua passagem. Do contrário, ele é capaz de acelerar apenas para não dar a vez. É a velha cultura de querer levar vantagem. Os cariocas podem ser muito gentis na praia, no Baixo Gávea, mas não no trânsito.

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Você percebe alguma evolução nos últimos anos?

Sim, no cocô do cachorro, por exemplo. As pessoas não deixam mais o cocô largado porque sabem que alguém vai chamar a atenção delas. A cidade ideal é aquela em que os cidadãos cuidam dela e se policiam. Na Praça Paris, isso já é uma realidade. As pessoas cuidam do lugar, ninguém joga lixo no chão. Já é um avanço. Temos a tendência de pensar que as coisas vão mudar para melhor no futuro. Mas o amanhã só é melhor para quem se movimenta. No futuro, estaremos mais velhos. O corpo envelhece, da mesma forma a cidade também envelhece. O futuro nunca é melhor para quem fica parado.

Você já conseguiu, trabalhando na Prefeitura, adotar o conceito dos pequenos gestos?

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No meu terceiro dia de trabalho, picharam o Cristo. Aquilo mexeu comigo, senti raiva, precisava fazer algo. Eu e meus amigos do Move Rio conseguimos levantar, em um dia, 8 mil reais. Colocamos anúncios na imprensa, tentando achar os dois pichadores com ajuda do Disque-denúncia. Em três dias, eles foram descobertos. Tive a ideia de usá-los como exemplo: o prefeito concordou que os dois limpassem uma parte do túnel do Leme, que há anos estava completamente pichada. O Shopping Rio Sul se animou e resolveu ajudar na limpeza de toda aquela área, vizinha à entrada principal do complexo, usando a mesma tecnologia utilizada para limpar a Muralha da China. Fizemos isso dos dois lados do túnel. Depois o Hotel Windsor, na Avenida Atlântica, também topou ajudar e recuperou o chafariz da Avenida Princesa Isabel. Nunca mais picharam ali e hoje a população usa aquele espaço como área de lazer. A beleza educa, ninguém quer sujar o que está limpo e bonito. E o mais interessante é que conseguimos recuperar o túnel e o chafariz sem ter orçamento para aquilo, com apoio da iniciativa privada. Começamos com um pequeno gesto.

Você demonstra muita confiança no futuro do Rio. Qual o principal motivo?

Aprendi que cidade boa não é a cidade onde tudo é perfeito, mas sim aquela onde há perspectiva. E a perspectiva do Rio é maravilhosa. Já estamos encarando desafios enormes, mas chegou o momento de cada um pensar no coletivo e escolher a cidade que queremos.

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