Avenida boquiaberta
Uma década depois, o DNA ainda serve de referência no assunto ?alegoria humana?
Aconteceu há dez anos, no Carnaval de 2004. Passava pela primeira vez na Rua Marquês de Sapucaí uma alegoria toda composta de gente, sem bonecos, plumas, miniplataformas, sem estátuas nem esculturas de fibra. Naquela taça de cabeça para baixo alinharam-se 217 componentes, treinados por meses a fio de forma quase espartana para não haver nenhum erro na coreografia. Era o carro do DNA, parte do enredo O Sonho da Criação e a Criação do Sonho, da Unidos da Tijuca, assinado por um carnavalesco pouco conhecido: Paulo Barros. O Sambódromo, os espectadores da TV e a cidade, até então acostumados a um tipo de desfile mais convencional, tomaram um susto com aquela alegoria, um tanto subjetiva (versava sobre nosso código genético) e que definitivamente não tinha cara de ácido desoxirribonucleico, mas que o representava muito bem ? recentemente, seu realizador tatuou entre o peito e o ombro direito a estampa de sua maior (e mais copiada) obra. Com ela, porém, não se tornou campeão: foi vice naquele ano. Em março, pela mesma agremiação, Barros saudará o piloto Ayrton Senna, e promete mais alegorias humanas. Uma delas, com centenas de pneus nas laterais, tem tudo para, novamente, fazer saltar os olhos da audiência.