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Dorothy no olho do furacão

Musical da dupla Möeller e Botelho revela o lado sombrio de Judy Garland, a atriz imortalizada como a menina sonhadora que viaja ao mundo de Oz

Por Carlos Henrique Braz
Atualizado em 5 jun 2017, 14h46 - Publicado em 4 nov 2011, 17h11

Antes de alcançar o estrelato em O Mágico de Oz, com apenas 17 anos, a atriz e cantora Judy Garland amargou várias tentativas infrutíferas de se tornar uma estrela mirim. Considerada “bonitinha” pelos chefões de Hollywood, era convocada apenas para produções secundárias e por pouco não ficou de fora do filme que a lançaria para a fama, em 1939. Só foi escalada porque Shirley Temple, a favorita dos produtores, não pôde participar. Ainda bem. Sua Dorothy, com a interpretação inesquecível de Over the Rainbow, entrou para a história do cinema e lhe garantiu acesso ao panteão de estrelas de primeira grandeza. O que parecia a realização de um conto de fadas foi o início de uma trajetória de altos e baixos. Dona de uma carreira errática, acumulando sucessos, demissões e projetos abandonados, Judy foi atormentada pelo vício em medicamentos, por cinco casamentos fracassados e por uma profunda insegurança com relação a sua aparência. Morreu de overdose em Londres, em 1969, com apenas 47 anos. É esse retrato cheio de farpas que emerge em Judy Garland ? O Fim do Arco-Íris, um relato musicado de seus últimos meses de vida, com estreia prevista para sexta (11) no Teatro Fashion Mall. “Apesar do apelo trágico, não é uma obra baixo-astral. Há até algum humor, em meio a tantas dificuldades”, diz a atriz e cantora Claudia Netto, que encarnará a protagonista na montagem carioca.

Produzido e dirigido por Charles Möeller e Claudio Botelho, o espetáculo é o que se pode chamar de uma obra intimista. Ao contrário de produções recentes da dupla, trata-se de uma peça enxuta. Enquanto Um Violinista no Telhado reuniu 43 atores, dezessete músicos e consumiu 8 milhões de reais, a nova montagem terá apenas três cantores e seis instrumentistas em cena, com um orçamento total de 1,2 milhão de reais. “É uma espécie de volta às origens, aos nossos primeiros trabalhos”, diz Botelho, em uma referência ao início dos anos 90, quando os musicais brasileiros estavam a anos-luz da opulência das apresentações dos dias de hoje. Juntos desde então, Möeller, Botelho e Claudia trabalharam em peças como Hello Gershwin, de 1991, espécie de colagem de canções do compositor americano. Tratava-se, na verdade, de um exercício de obstinação, uma vez que os espectadores costumavam torcer o nariz para peças assim. No caso de Hello Gersh­win, a temporada durou apenas dois meses no Teatro Ipanema, com um total de dezesseis récitas e a média pífia de uma dezena de bilhetes vendidos por noite. “Eram tempos difíceis para quem queria apostar nesse formato”, recorda Möeller, que criou os figurinos e os cenários.

Mesmo compacta, a montagem de Judy Garland ? O Fim do Arco-Íris chega embalada em predicados. Escrito pelo inglês Peter Quilter, o mesmo autor de Gloriosa, protagonizado por Marília Pêra em 2008, o musical passa por uma bem-sucedida temporada na Inglaterra. Depois de quase um ano em cartaz em Londres, realiza uma turnê por uma série de cidades britânicas. A versão carioca é a segunda a estrear no mundo, à frente até mesmo da americana, que deve ocupar o Schubert Theater, na Broadway. “Compramos os direitos há dois anos e meio, logo depois de negociar Gloriosa. Hoje pagaríamos bem mais caro, depois de todo esse sucesso lá fora”, diz Botelho, sem, no entanto, revelar valores.

Apesar de oferecer um bom apanhado das canções interpretadas por Judy, entre elas uma versão em inglês de Insensatez (How Insensitive), de Tom Jobim e Vinicius de Moraes, a peça exige certo conhecimento da vida conturbada da atriz (veja o quadro ao lado). Aspectos da carreira irregular, dos cinco casamentos (com David Rose, Vincente Minnelli, Sidney Luft, Mark Herron e Mickey Deans) e da convivência com os três filhos (a atriz e cantora Liza Minnelli e o casal Lorna e Joseph Luft) são mencionados apenas de passagem. “Não se trata de um espetáculo didático sobre a estrela dos musicais nem de um dramalhão”, avisa Möeller. Em um cenário ambientado em um quarto de hotel e em um palco, contracenam com Claudia os atores Igor Rickli (um dos protagonistas de Hair) e Gracindo Jr. O primeiro é Mickey Deans, quinto marido e o último empresário, acusado de explorá-la em sua decadência. O outro é o pianista Anthony, personagem fictício que funciona como uma espécie de contraponto ao dublê de companheiro e cafajeste. Mas o grande desafio está mesmo nas mãos da cantora. É ela que tem a missão de trazer à vida uma das atrizes que melhor encarnaram as complexas contradições de ser uma estrela.

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Uma carreira de altos e baixos

Além do enorme talento, crises de depressão e problemas com drogas marcaram a trajetória da atriz

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1924: Aos 2 anos de idade, começa a cantar em apresentações com duas irmãs e a mãe ao piano

1935: Estreia no rádio aos 13 anos e assina contrato com a Metro-Goldwyn-Mayer

1939: Depois de pequenos papéis, conhece a fama como protagonista de O Mágico de Oz

1944: Filma Meet Me in St. Louis (Ainda Seremos Felizes), dirigido por Vincente Minnelli, que se torna seu marido

1946: Nasce sua primeira filha, a também atriz e cantora Liza Minnelli

1947: Tem uma crise depressiva em meio às filmagens de O Pirata. Viciada em remédios, tenta o suicídio

1948: É demitida da MGM durante a produção de The Barkleys of Broadway e substituída por Ginger Rogers

1951: Inicia carreira como cantora com uma bem-sucedida turnê pelo Reino Unido

1954: É indicada ao Oscar de melhor atriz por Nasce uma Estrela

1962: Sem papéis no cinema, estreia na televisão com The Judy Garland Show

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1969: Tenta levantar sua carreira decadente em Londres, onde morre de overdose

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