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A disputa pelas últimas vagas da ginástica olímpica para os Jogos

No maior evento-teste já realizado para a Olimpíada, ginastas de 62 países, entre eles atletas da seleção brasileira, concorrem para ingressar na Rio 2016

Por Fernanda Thedim
Atualizado em 2 jun 2017, 12h09 - Publicado em 15 abr 2016, 12h12

Glasgow, outubro de 2015. Do lado de fora da Arena Hydro, os termômetros marcavam 10 graus quando a equipe de ginástica artística feminina da Romênia começou sua apresentação. O ginásio, lotado de espectadores naquela manhã cinzenta, aguardava o show das atletas de uma das grandes potências do esporte, dona de 62 medalhas olímpicas ao longo de quinze participações nos Jogos. Uma série de erros fatídicos, no entanto, surpreendeu o público que assistia à competição em que seriam decididas as vagas para a Rio 2016. Das quatro ginastas que se apresentaram nas barras assimétricas, três caíram. E uma se desequilibrou. Nem mesmo a boa apresentação em outros aparelhos foi suficiente: a Romênia, o país da mítica Nadia Comaneci, consagrada com o “10 perfeito” em Montreal 1976, teve de se contentar com uma amarga 13ª colocação, deixando a equipe bem distante de uma das vagas para a próxima Olimpíada. Com o Brasil, não foi diferente. Campeã sul-americana das barras, Jade Barbosa também se desequilibrou e foi ao chão durante a mesma prova. Por menos de meio ponto de diferença para a Holanda, a nossa seleção acabou batendo na trave e ficou na nona colocação, fora do grupo das oito potências que garantiram a classificação. “Tínhamos uma boa equipe, mas não a melhor. A Flavinha (Saraiva) estava com muita dor na perna, a Jade se recuperava de uma cirurgia e a Rebeca (Andrade) não foi porque tinha operado o joelho três meses antes”, recorda a coordenadora Georgette Vidor. “Agora, vamos com força total”, diz, confiante.

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O “agora” a que Georgette se refere é a competição que acontecerá a partir do próximo sábado já nas instalações que sediarão as provas da Olimpíada. Junto com Alemanha, Austrália, Bélgica, Coreia do Sul, França e Suíça, Brasil e Romênia enfrentam-se no solo, no salto, nas barras e na trave de equilíbrio, as quatro provas da ginástica artística feminina, durante o evento-teste para a Rio 2016, na Arena Olímpica. A disputa, que irá até 22 de abril, servirá também como qualificatório final de ginástica, reunindo 331 feras de 62 países nas três modalidades do esporte (artística, rítmica e trampolim). Mais do que pôr à prova a infraestrutura, o campeonato é a última chance para que muitos desses atletas consigam realizar o sonho de uma vida: conquistar uma medalha olímpica. “Esse é nosso foco desde o campeonato em Glasgow. Precisamos conseguir essa vaga de qualquer jeito para disputar a Olimpíada no nosso país”, diz Daniele Hypólito, 32 anos, a mais experiente da seleção. Para isso, ela e as outras ginastas, como Flávia Saraiva e Rebeca Andrade, duas das grandes apostas brasileiras, vêm seguindo uma rotina de treinamento espartana. Com apenas uma folga por semana, em geral aos domingos, os treinos são realizados duas vezes ao dia, sempre pela manhã e à tarde, com duração de cerca de três horas e meia. No fim, elas ainda passam por uma sessão de fisioterapia, em geral para tratar alguma das inúmeras lesões acumuladas ao longo de anos e anos de treinos e provas. “Não existe esporte de alto rendimento que não machuque e não leve à exaustão. Muitas vezes, as atletas choram quando um treino acaba, porque é cansativo mesmo, é pesado, você sente dor por todo o corpo. Mas é justamente esse cansaço no treinamento que faz a diferença na hora da competição”, diz Daniele.

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Na ginástica artística masculina, o Brasil obteve, pela primeira vez na história, a inédita classificação por equipes, em Glasgow. Sobrou para as seleções da Alemanha, França, Ucrânia, Holanda, Espanha, Canadá, Romênia e Bielorrússia se enfrentarem no evento-teste pelas últimas quatro vagas por equipes. Ainda assim, dois destaques do grupo brasileiro vão se apresentar na Arena. Arthur Zanetti, dono da única medalha olímpica no esporte para o Brasil,  no caso, um ouro nas argolas em Londres 2012, fará uma série nova e mais difícil no aparelho, que pode acrescentar 2 décimos na sua pontuação. O primeiro representante do país a chegar a uma final no individual geral em Londres, Sérgio Sasaki passará por todos os aparelhos, apresentando-se no individual geral. “Será muito importante para o Sasaki ganhar ritmo porque é o retorno dele às provas. Em 2015, ele ficou fora das competições por causa de duas lesões, uma no ombro e a outra no joelho”, explica Leonardo Finco, coordenador da Confederação Brasileira de Ginástica (CBG). Assim como Zanetti e Sasaki, já com a vaga garantida, outras grandes estrelas da ginástica artística, rítmica e de trampolim vão se exibir no Rio já com a pira acesa. Uma das mais aguardadas é Li Dan, também chamada de Chinesinha Voadora, que emenda acrobacias inacreditáveis em cima do trampolim. Medalha de ouro no último mundial, na Dinamarca, e com mais seis medalhas em competições de expressão, ela fará sua primeira apresentação olímpica no Rio — em busca do ouro, é claro. Com toda a leveza e a perfeição de seus movimentos, em meio ao arco, à fita e à bola, a jovem Yana Kudryavtseva, de 16 anos, faz parte da fábrica de talentos da Rússia. Selecionada pela técnica Irina Viner-Usmanova, que deu ao país oito medalhas olímpicas e mais de setenta ouros em mundiais, ela é uma das principais apostas na ginástica rítmica e poderá ser vista em ação ao vivo por aqui. 

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Se os atletas vão precisar de foco, força e muita concentração durante as provas, o Comitê Rio 2016 também tem um belo desafio pela frente — talvez o maior até agora. De todos os 45 eventos-teste que vêm sendo realizados desde julho de 2015, o da ginástica será o mais importante. A começar pela demanda de público, atraído por uma das modalidades olímpicas mais belas e emblemáticas. Para a competição, foram postos à venda pela internet 42 000 ingressos, que também estarão disponíveis nas bilheterias do Complexo, ao longo dos sete dias de disputa. Quase que simultaneamente, de 15 a 20 de abril, acontece no Parque Aquático (ex-Maria Lenk), que fica bem ao lado, o classificatório de natação, mas sem a presença do público. “Nosso foco é a ginástica. Conseguiremos testar em grande escala operações simultâneas em uma única arena”, diz o diretor de esportes do Comitê, Rodrigo Garcia. “Vamos pôr orientadores para ajudar no acesso, ver o tempo das filas na praça de alimentação, checar detalhes das instalações, como a temperatura ideal do ar condicionado. No torneio de basquete que aconteceu na Arena 1, em janeiro, todo mundo assistiu às partidas de casaco no primeiro dia, de tão frio que estava”, lembra. Entre os detalhes de organização, uma novidade é a lojinha de produtos oficiais, que entrará em funcionamento durante as provas.

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A complexidade do evento-teste envolve ainda um fato histórico: diferentemente de Londres 2012, Pequim 2008 ou Atenas 2004, pela primeira vez na história dos Jogos as três modalidades serão realizadas em um mesmo lugar. Com isso, a troca de equipamento se tornará mais um desafio dentro da Arena Olímpica do Rio. A apenas cinco minutos da Vila dos Atletas, o palco da ginástica para a Rio 2016 não é uma instalação nova. Na verdade, faz parte do legado do Pan-Americano de 2007. Com uma estrutura multifuncional inspirada nas arenas de basquete da NBA, nos Estados Unidos, foi construída justamente para sediar as competições do esporte, dando espaço posteriormente ao HSBC Arena, que recebeu shows de astros da música como Paul McCartney, Eric Clapton e Elton John, e até competições esportivas, como o UFC. Para a Rio 2016, passou por uma reforma que incluiu uma nova rampa de acesso, a renovação da pintura externa, nova iluminação e adequação nas instalações elétricas, ao custo de 10 milhões de reais. Parte do espaço já vinha sendo utilizada como palco do Centro de Treinamento para o Time Brasil de ginástica artística, com área para equipamentos, refeitório, salas de estudo, médica e de fisioterapia. É ali que as seleções, tanto a feminina quanto a masculina, vêm treinando desde janeiro de 2015. “Esse é mais um ponto a favor dos nossos atletas. Eles já estão completamente adaptados ao local onde vão competir, ao ambiente, ao clima, à alimentação. Largamos com uma boa vantagem nesse evento-teste”, diz Marcus Vinicius Freire, diretor executivo do Comitê Olímpico Brasileiro. Pode até ser um teste, mas, sem dúvida, o show que está começando agora nas argolas, traves e barras já será um grande aperitivo do que está por vir na Olimpíada.

RITMICA
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