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O ingresso encalhou

Fiasco de público, as apresentações de Madonna e Lady Gaga revelam os equívocos e fragilidades a que estão sujeitos os grandes shows na cidade

Por Rachel Sterman
Atualizado em 5 jun 2017, 14h16 - Publicado em 12 dez 2012, 19h19

Bastava o anúncio de que um consagrado artista internacional se apresentaria na cidade para desencadear um enorme frenesi, com fãs se submetendo a qualquer sacrifício para conseguir um ingresso. Dois episódios recentes, no entanto, sugerem que a euforia diminuiu. O sinal vermelho foi dado há um mês, quando a pop star americana Lady Gaga ? ninguém menos que a quinta celebridade mais influente do mundo, segundo a revista Forbes ? levou cerca de 40?000 pessoas ao Parque dos Atletas, menos da metade da capacidade do local. Ainda assim, essa afluência de público só foi possível graças a uma megapromoção. Com o encalhe verificado às vésperas da exibição, a produtora do espetáculo decidiu vender os bilhetes com valores entre 180 e 750 reais pela metade do preço. O recurso do saldão também salvou a apresentação da cantora Madonna, que reuniu 67?000 espectadores no domingo (2) no mesmo palco de Jacarepaguá. Apesar da iniciativa, que deu descontos de até 44% nos preços que variavam entre 200 e 850 reais, o carioca desembolsou mais que o dobro do que um americano pagou para ver o mesmo espetáculo em Nova York (veja o quadro). Fato é que as vendas abaixo das expectativas põem em xeque o modelo adotado aqui para os megashows e deixam claro que o consumidor não está disposto a pagar qualquer quantia para ver uma estrela da música. “Em momentos em que o mercado está aquecido, há quem exagere no cálculo das margens de lucro. Antes de mais nada, o preço do ingresso precisa caber no orçamento dos fãs”, afirma Roberta Medina, à frente da franquia do Rock in Rio. Procurada, a empresa promotora dos shows de Lady Gaga e Madonna, Time for Fun (T4F), não atendeu à reportagem.

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Na berlinda devido aos últimos eventos, o preço surreal dos tíquetes tem origem em uma série de fatores e não apenas nas gordas margens desejadas por alguns dos organizadores. É notória a inflação que ronda o cachê das estrelas pop desde que os ganhos com a venda de CDs começaram a minguar. Ao mesmo tempo em que o Brasil conquistou o status de potência emergente, com um público de maior poder aquisitivo, ainda sofre com a falta de patrocinadores e também com a enxurrada de meias-entradas, que castiga quem tem de arcar com o preço cheio do bilhete. No caso dos grandes shows no Rio, o volume de ingressos com o valor pela metade é em média 75% da bilheteria. Ao analisarem sua planilha de custos, os organizadores repassam automaticamente esse ônus ? a meia passa a ter preço de inteira e a tarifa cheia vai parar na estratosfera. “Sempre tentamos todas as fontes possíveis de receita, porque não nos interessa aumentar o preço e reduzir o público. Mas nem sempre isso funciona”, argumenta Bazinho Ferraz, presidente da XYZ Live, responsável pelas vindas recentes da banda Kiss e do cantor Tony Bennett.

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Na rota das principais turnês internacionais desde a década de 80, o Rio se consolidou como destino de grandes atrações. É difícil pinçar uma de primeira linha que ainda não tenha se exibido por aqui. Entretanto, a cidade, como o país de maneira geral, não conta com mão de obra nem fornecedores especializados, o que só agrava o problema. Grosso modo, o orçamento por aqui costuma ser 50% mais elevado do que em outros países. Exemplos não faltam. Apesar de pouca coisa menor que a edição brasileira de 2011, o Rock in Rio Lisboa deste ano custou 68 milhões de reais, 30% menos que a festa carioca. Não raro, os espetáculos realizados aqui se alinham aos mais caros do planeta. Foi o que aconteceu com o concerto de Bob Dylan em abril no Citibank Hall, para o qual o tíquete mais barato saiu por 500 reais, o triplo do valor cobrado na capital paulista, onde ? ressalte-se ? também vigora a lei da meia-entrada. Quem quiser ver Stevie Wonder ao lado de Gilberto Gil no Imperator, no próximo dia 23, terá de arcar com 800 reais. Isso, é claro, se não for estudante, idoso ou professor. O mesmo artista, que se apresentou no Rock in Rio do ano passado com ingressos a 190 reais, fará um show gratuito na Praia de Copacabana na noite de Natal.

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Apesar de o encalhe de bilhetes sugerir uma fragilidade do setor, os casos recentes devem ser encarados como um alerta para que o mercado se organize e encontre um formato razoável de cobrança (o que não acontece hoje, pois o admirador de Lady Gaga que pagou 750 reais por um lugar na pista premium não ficou imune ao pé-d?água que caiu durante a noite). Prova do apelo que os ídolos estrangeiros ainda exercem é a quantidade de grandes produtoras que proliferam no Brasil e o êxito de algumas iniciativas. Com apenas três atrações anunciadas, o Rock in Rio de 2013 já é um sucesso. Todo o seu lote inicial de 85?000 bilhetes foi vendido em menos de uma hora. A diversão é um ótimo investimento, mas tudo tem seu limite.

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