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O elefante desencalha

A chegada da OSB e a aposta em programação consistente trazem esperança de que a Cidade das Artes vingue

Por Carolina Barbosa
Atualizado em 2 jun 2017, 13h18 - Publicado em 20 nov 2013, 17h28

Ao longo deste século, nenhum projeto do poder público do Rio levantou tanta polêmica quanto a Cidade das Artes, mastodôntico complexo na Barra da Tijuca assinado pelo arquiteto francês Christian de Portzamparc. Desde o início da construção, batizada então de Cidade da Música, em 2002, a obra teve a inauguração adiada várias vezes, sofreu contestações de todos os lados e se viu no centro de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI), que, entre outros questionamentos, procurou apurar o aumento exponencial do seu custo, que saltou de 80 milhões para 560 milhões de reais. Enfim, em janeiro, no sistema de soft opening ? na verdade, uma prevenção para o caso de algo dar errado ?, o imóvel acolheu seu primeiro espetáculo, um musical sobre o Rock in Rio. Só quatro meses depois, no entanto, a casa foi aberta oficialmente. Desde então, vem recebendo atrações esparsas, muitas delas de alto padrão, como a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp), a companhia de dança americana Alvin Ailey e a trupe de teatro Comédie-Française. A partir de agora, a expectativa é que acabe essa intermitência e a Cidade das Artes ganhe uma programação efetiva, a começar por este fim de semana, quando abrigará o Back2Black, festival de música cujas primeiras edições foram realizadas na Estação Leopoldina. Estão a caminho ainda neste ano shows de Erasmo Carlos e Elza Soares, um concerto da Orquestra Petrobras Sinfônica e a peça A Casa dos Budas Ditosos. Para a próxima temporada, o presidente da Fundação Cidade das Artes, Emilio Kalil, pretende trazer a companhia de dança criada pela legendária Pina Bausch (1940-2009), além de óperas com elencos de peso. “O fundamental em um centro cultural desse porte é oferecer programação de excelência”, afirma Kalil, ex-secretário municipal de Cultura. “Se tiver qualidade, não importa se é samba ou ópera, o público comparece.”

O papel principal de propulsor dessa ocupação está reservado à Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB). Após uma série de incertezas, ela finalmente anunciou que vai transferir-se para lá a partir de janeiro. Originalmente, o imóvel foi concebido para se tornar a sede da OSB. Embora detalhes do acordo continuem sendo alinhavados, é certo que o grupo, composto de 71 músicos, ensaiará no local. Está prevista também uma agenda de sessenta apresentações no decorrer de 2014, na majestosa Grande Sala e no Teatro de Câmara. “É um sonho pelo qual esperávamos havia anos”, diz Ricardo Levisky, superintendente-geral da Fundação Orquestra Sinfônica Brasileira. “Como um time de futebol necessita de um estádio com um bom gramado para jogar, precisamos de infraestrutura para produzir música de qualidade.”

Fernando Frazão
Fernando Frazão ()

Administrar um espaço como a Cidade das Artes é um desafio proporcional ao gigantismo do imóvel, que tem 67?000 metros quadrados de área construída divididos em duas lajes e altura equivalente à de um prédio de dez andares. Com quase 1?700 assentos, a Grande Sala é sua área nobre. Além dela, há diversos espaços multiuso e duas galerias, com a perspectiva de serem inaugurados no próximo ano três salas de cinema e um restaurante (veja o quadro). Naturalmente, o custo de manutenção é alto. Está calculado em 28 milhões de reais por temporada, excluído o gasto com as produções. Para comparação, o Museu de Arte do Rio, também aberto neste ano, na Praça Mauá, consome 12 milhões de reais para operar. Do montante do elefante fincado na Barra, a prefeitura arcou com 17 milhões de reais. O restante está sendo captado junto à iniciativa privada, seja por meio de parcerias, seja alugando-se os diversos espaços disponíveis para eventos corporativos. Para viabilizar o complexo cultural, é preciso mais: fundamentalmente, uma programação consistente capaz de atrair o público. Por ora, o movimento é pequeno, uma rotina quebrada apenas nos dias de espetáculos e de atividades na sala de leitura.

Quando se volta o olhar para experiências similares que deram certo no exterior, percebe-se que um dos lugares que podem servir de modelo é o Brooklyn Academy of Music (BAM), centro cultural que ajudou a revitalizar aquele distrito nova-iorquino que, como a Barra da Tijuca, no Rio, fica fora do eixo artístico de Manhattan. Uma das queixas recorrentes é o difícil acesso à Cidade das Artes para quem não mora na região, algo que a chegada do metrô ao bairro, prevista para 2016, deve melhorar. Por enquanto, para facilitar o acesso dos pedestres que vêm do Terminal Alvorada, foi construída uma passagem subterrânea até lá. “Quero que o local seja visto como uma grande praça, onde as pessoas venham passear, contemplar a paisagem, pegar um cinema, tomar um café ou ver um espetáculo”, afirma Kalil. Se a Barra é a terra dos shoppings, que ali seja, pelo menos, o shopping da cultura.

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