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Bonança nas artes

A inauguração do MAR e da Casa Daros dá a largada para uma temporada de exposições de primeira grandeza na cidade

Por Carolina Barbosa e Rafael Teixeira
Atualizado em 5 jun 2017, 14h08 - Publicado em 13 mar 2013, 18h02

Aberto ao público na última terça (5) após quase três anos de obras, o Museu de Arte do Rio (MAR) estreou em grande estilo. Pelos salões do velho Palácio D. João VI estão distribuídas quatro exposições simultâneas com nomes que vão dos brasileiros Tarsila do Amaral, Ismael Nery, Di Cavalcanti, Hélio Oiticica e Lygia Clark a estrangeiros do porte de Amedeo Modigliani, Giorgio Morandi e Auguste Rodin. Uma inauguração tão auspiciosa já seria, em si, motivo de júbilo para os cariocas que amam arte. Trata-se, porém, de apenas um dos indícios de que 2013 será um excelente ano nessa seara. No próximo dia 23, a Casa Daros, filial da renomada instituição suíça especializada em arte latino-americana, começa a funcionar em Botafogo. A mostra de abertura terá como tema a atual produção colombiana, reunindo artistas como Doris Salcedo, escultora com peças no acervo de Inhotim, e Oscar Muñoz, objeto de uma mostra recente no Malba, em Buenos Aires. “Por tudo que representa, a cidade é perfeita para instalarmos nossa primeira unidade no exterior”, diz Hans-Michael Herzog, diretor da Daros. Paralelamente, outros centros culturais prometem uma alentada agenda, com individuais de artistas canônicos como Lucian Freud, no Paço Imperial, e de contemporâneos como Yayoi Kusama, no CCBB, e a valorizada Beatriz Milhazes, também no Paço. Fazem parte do pacote a mostra do fotógrafo Jacques Henri Lartigue, no Instituto Moreira Salles, e uma reunião de peças religiosas vindas diretamente de museus do Vaticano, no Museu Nacional de Belas Artes (veja o quadro). Um dos mais destacados artistas brasileiros em atividade, Nelson Leirner resume a opinião geral: “Toda essa efervescência mostra que o Rio voltou a ser a joia da coroa”.

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Tamanha movimentação, em certa medida, é a reconquista de um território em que o Rio tinha soberania. Com um pujante mercado para a exposição e a comercialização de obras de artistas nacionais e estrangeiros, a cidade começou a enfrentar um esvaziamento do setor a partir dos anos 80 ? coincidência ou não, logo depois do trágico incêndio no Museu de Arte Moderna, em 1978. “Foi quando São Paulo assumiu a dianteira, impulsionada pelo crescimento do mercado financeiro”, explica a marchande Silvia Cintra. Em 2009, no entanto, o Rio passou a receber com mais frequência mostras de artistas consagrados ? naquele ano, foram o bielorrusso Marc Chagall, no Museu Nacional de Belas Artes, e a francesa Louise Bourgeois, no MAM. Profissionais do ramo afirmam que isso se deve a dois fatores: a crise econômica global de 2008, que afetou drasticamente os países ricos, mas que o Brasil atravessou com relativa tranquilidade, e o bom momento da cidade, às voltas com preparativos para eventos como a Copa do Mundo e a Olimpíada. “Guardadas as proporções, é o que aconteceu depois da II Guerra Mundial, quando o eixo das artes, até então totalmente eurocêntrico, se desviou para novos territórios”, diz Guilherme Gonçalves, sócio da Nau, empresa de consultoria em arte. Nesse curto período, as instituições cariocas acumularam experiências de sucesso ? e, naturalmente, quanto mais acertos, maior a credibilidade. “Existe um interesse inédito de curadores, galeristas e diretores de museus de fora. Há um certo protagonismo por aqui”, avalia Marcelo Mendonça, diretor do CCBB, que, em 2011, abrigou a mostra mais visitada do mundo naquele ano, dedicada ao holandês M.C. Escher.

Mais do que animar o apreciador de arte, o crescimento do circuito de exposições também alavanca a autoestima dos cariocas. O exemplo mais visível de como isso acontece é a própria revitalização de espaços decadentes, como aqueles que são ocupados agora pelo Museu de Arte do Rio e, em breve, pela Casa Daros. No primeiro, dois edifícios conjugados ? um palacete em estilo eclético e um prédio de arquitetura modernista ? passaram por uma imensa reforma que custou 76 milhões de reais, dando o pontapé inicial no que promete ser a nova cara da Zona Portuária. Já a instituição suíça recuperou um casarão de quase 150 anos em estilo neoclássico, em Botafogo, onde funcionaram um orfanato, um educandário para moças e um colégio. No exterior, são muitos os episódios em que à abertura de um centro cultural seguiu-se uma valorização do entorno ? caso do Museu Guggenheim, na cidade espanhola de Bilbao, e da Tate Modern, em Londres. “Um museu, por si só, já regenera socialmente uma cidade”, afirma Paulo Herkenhoff, curador do MAR. A depender do que ainda vem por aí, o Rio tem um caminho brilhante pela frente.

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