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Um ícone pop

Nas últimas décadas, o Cristo passou por um processo de massificação que o ajudou a ser eleito uma das novas maravilhas do mundo. Tornou-se famoso porque sua imagem é ao mesmo tempo simples e cheia de significados

Por Lula Branco Martins
Atualizado em 5 jun 2017, 14h49 - Publicado em 4 out 2011, 15h50

Mais que uma imagem, o Cristo Redentor é um logotipo. Como os melhores que possam ser bolados nas escolas de design ou de marketing, trata-se de um símbolo identificável a distância, tem leitura fácil e, em suas linhas e contornos simples, carrega grande carga de conceitos. Além disso, ao longo dos anos foram sendo vinculados a ele alguns atributos definidores de como são vistos, em linhas gerais, os brasileiros e, por extensão, o Brasil: o abraço afável de nosso povo está no Cristo, assim como a religiosidade que sempre acompanhou os movimentos históricos do país. Conhecido mundo afora como marca de uma nação, adorado pelos devotos e habitualmente descrito em guias internacionais como o principal ponto turístico da América Latina, o Cristo tem poder. E é popular.

Por isso está em sandálias, camisas, camisetas, biquínis, e acaba virando bugiganga de gosto duvidoso, consumida a cada minuto por turistas no Rio ou em qualquer lugar do planeta. Na Praia de Copacabana, artistas anônimos “vendem” a imagem sob a forma de castelo de areia, e há estrangeiros que pagam só para tirar a foto com a reprodução atrás. Na gare do trem que leva e traz visitantes ao topo do Corcovado, também se compra toda sorte de artigos. Pingentes, maiôs, réplicas em tamanhos variados, bonés, pesos de papel, sombrinhas, agendas, livros ? a lista não tem fim. Nos anos 80, a banda gaúcha Engenheiros do Hawaii, após constatar a facilidade de comunicação entre João Paulo II e seus fiéis ao redor do planeta, obteve sucesso com a canção O Papa É Pop ? pois vale o mesmo para o Cristo Redentor do Corcovado. Se ele chega a algum lugar, todos já sabem de quem se trata, e a maioria gosta dele.

Em 2005, como parte dos festejos do Ano do Brasil na França, projetou-se na fachada da Catedral de Notre Dame, em Paris, a foto do Redentor. Também havia uma reprodução da imagem da estátua na imensa faixa estendida nas areias cariocas durante as comemorações da eleição da cidade como sede da Olimpíada de 2016, momento transmitido pela TV para boa parte da população mundial.

Mas não há necessidade de eventos tão grandiosos para que esse símbolo marcante seja “chamado ao trabalho”. Quase diariamente, a imprensa se vale do monumento para ilustrar reportagens. No Rio, se balas perdidas voltam a preocupar os cidadãos, logo surgem nos jornais e nas revistas caricaturas do Cristo vestindo um colete de segurança. Lá fora também se usam suas fotos para representar, lato sensu, o Brasil. Recentemente, a revista inglesa The Economist, uma das publicações mais respeitadas do planeta, ao falar da boa fase do país, transformou a estátua em foguete decolando. Do mesmo modo, outras mídias, como o cinema e a publicidade, valem-se de sua força, mesmo que a imagem do Redentor nem sempre apareça, como em um criativo anúncio da cerveja holandesa Heineken.

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O Cristo no cinema: 2012 e Rio
O Cristo no cinema: 2012 e Rio (Guga Melgar)

A força simbólica da estátua brasileira se compara à história que carrega edificações mais antigas, como a Torre Eiffel, retrato de um tempo em que Paris se via como o centro do mundo, e a Estátua da Liberdade, que traz no próprio nome o maior pilar do espírito americano. Como marcas gráficas poderosas de outros países, podem ser citados o Big Ben, de Londres, o arrojado prédio da Ópera de Sydney, na Austrália, e a Catedral de São Basílio, em Moscou. São exemplos de imagens que, igualmente consumidas pela indústria de massa, acabaram virando ícones da nossa época.

Superando esses todos, e dezenas de outros concorrentes, em julho de 2007 o Cristo foi eleito uma das novas maravilhas da humanidade. Muito se falou que a vitória se deveu ao método de votação, um pleito realizado pela internet. Nunca se saberá se o monumento ganharia a eleição caso os votos fossem ao velho estilo cédula-de-papel-na-urna. Mas o sucesso no mundo virtual ? ágil, moderno e marcadamente jovem ? não deixa de ser um indício de que, aos 80 anos, o Cristo Redentor está mais pop do que nunca.

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