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O mundo sobe ao palco

Companhias de dança e performance de quinze países se apresentam no Panorama, uma das principais mostras de artes cênicas da América Latina

Por Letícia Pimenta
Atualizado em 5 dez 2016, 15h19 - Publicado em 7 nov 2012, 21h02

Quando a coreógrafa Lia Rodrigues decidiu organizar um festival de dança em 1992, o Rio era bem diferente. Os índices de violência alcançavam números alarmantes e a impressão de que a cidade havia sido abandonada pelo poder público imperava pelos quatro cantos. Na cultura, a situação era ainda pior. Sem patrocínios, cada um se virava como podia para subir aos palcos. Felizmente, o cenário agora é outro. Os índices de criminalidade caíram, a economia melhorou consideravelmente e uma grande recuperação urbana está em curso, a todo o vapor. Como qualquer transformação radical, mesmo que para melhor, uma guinada dessas tem efeitos profundos. O que significa viver em um lugar que muda tanto? E como seus habitantes vão se lembrar desse momento tão especial? “Essas duas questões, que remontam aos últimos vinte anos, foram o ponto de partida para selecionarmos os espetáculos que apresentaremos em 2012”, explica Nayse Lopez, uma das curadoras do Festival Panorama. Em sua 21ª edição, que tem início na sexta (2), o evento terá mais de trinta atrações, dezessete delas internacionais.

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Assim como a capital fluminense, o festival passou por uma grande metamorfose desde sua primeira edição. O foco inicial em dança desdobrou-se por outras linguagens artísticas. Fiel à proposta de abordar temas relacionados aos conceitos de memória e comunidade, o evento aumentou sua área de cobertura e agora apresenta filmes, shows, exposições, performances e intervenções de todo tipo. Um bom exemplo dessa ruptura é a instalação sonora We See Fireworks, criação dos britânicos Helen Coe, diretora do Inbetween Time Festival, e Alex Bradley, artista celebrado em seu país. Na atração, os autores coletam depoimentos de pessoas sobre a cena mais marcante de sua vida. Depois apresentam o áudio das gravações sincronizado com luzes que piscam em uma sala completamente às escuras ? durante o espetáculo nova-iorquino, uma das narrativas de maior impacto foi o relato de uma pessoa que presenciou um suicídio na Ponte do Brooklyn. Na versão carioca, foram coletadas quarenta histórias durante sessões que se estenderam por três dias. O resultado será apresentado ao público a partir do dia 9 de novembro, no Centro de Arte Hélio Oiticica, no Centro. “Aqui as pessoas gostam de falar muito, principalmente sobre amor e como é a vida na cidade. As gravações sempre passavam dos dez minutos estipulados”, antecipa Helen.

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Conjugar em uma só programação espetáculos vanguardistas e ao mesmo tempo populares ? muitas atrações são gratuitas ou custam no máximo 16 reais ? é um dos grandes méritos do festival, considerado um dos mais importantes da América Latina. Essa combinação inusitada já deu margem a histórias curiosas, protagonizadas por plateias sem nenhuma intimidade com a dança experimental, durante as outras edições. Há alguns anos, durante o bate-papo entre um coreógrafo alemão e o público após a apresentação, um sujeito se dirigiu ao autor do balé conceitual e perguntou: “Aquela parte em que você pula sem parar durante vários minutos é muito chata. Você queria que fosse chata mesmo? E, se queria, por quê?”. De tão espontânea que era a questão, o bailarino ficou atônito. Ao contrário do que se pode imaginar, obras assim não afugentam o público. Pelo contrário. De 8?000 em 2005, o número de espectadores, pela projeção dos organizadores, deve saltar para 20?000 pessoas.

Festival Panorama. Sexta (2) a 18 de novembro. R$ 4,00 a R$ 16,00. Bilheteria: Rua Luís de Camões, 2, Largo São Francisco, Centro. 18h à 0h. www.panoramafestival.com.

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