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O segredo dos seus olhos

Chega à cidade mostra de Modigliani, pintor que extraiu com maestria a expressão de seus retratados

Por Carlos Henrique Braz
Atualizado em 5 jun 2017, 14h41 - Publicado em 20 jan 2012, 18h22

Atemporada cultural de 2012 mal começou e de cara apresenta uma atração de alto nível. Celebrada na passagem por Vitória (ES), onde iniciou seu percurso pelo país e ficou em cartaz de outubro a dezembro, a mostra Modigliani: Imagens de uma Vida tem abertura prevista para o dia 1º de fevereiro no Museu Nacional de Belas Artes. Ela traz um precioso conteúdo que a credencia, sem nenhuma precipitação, a entrar na lista dos destaques do ano. Mais robusta que a versão anterior, a edição carioca reúne 230 peças, entre obras de variados suportes, fotografias, cartas e documentos procedentes dos arquivos do artista, em Roma, e de coleções particulares europeias e americanas. O ponto alto são as treze pinturas e as cinco esculturas, em boa parte inspiradas em figuras femininas, com sua marca registrada: face e pescoço alongados. Todas elas criações significativas do estilo peculiar de Modigliani, conhecido pela maestria com que transmitia as expressões de seus retratados. Apesar de ficar sob o guarda-chuva de diversos movimentos, ele não empunhou a bandeira de nenhum deles. ?Ele não pertence a nenhuma escola artística. Nem ao cubismo, nem ao surrealismo?, afirma Paulo Solano, presidente do Museu a Céu Aberto, responsável pela vinda desse acervo pela primeira vez à América Latina, em parceria com o Instituto Modigliani.

Nascido em Livorno, na costa oeste italiana, Amedeo Modigliani teve uma vida breve, mas intensa (veja o quadro na pág. 32), marcada por enfermidades, dificuldades financeiras e muita farra. Explosiva, a mistura de saúde frágil com os excessos notívagos o tirou de cena aos 35 anos. Devido à morte precoce, sua produção foi limitada. Deixou cerca de 320 telas e 27 esculturas, o suficiente para ser considerado o mais importante pintor de seu país no começo do século XX. Sua trajetória profissional, no entanto, foi pavimentada em Paris, a capital cultural do mundo à época e para onde ele se mudou, em 1906. Com sua exuberância intelectual e boêmia, a cidade francesa foi o habitat perfeito para um artesão inquieto e cosmopolita. Instalado em um ateliê em Montparnasse, Modigliani imiscuiu-se com desenvoltura na alta-roda artística local. Numa cena de Meia-Noite em Paris, um tributo de Woody Allen à Cidade Luz daquele tempo, ele aparece ao lado de Matisse, Pablo Picasso e Scott Fitzgerald e Man Ray, todos em torno do piano de Cole Porter. No filme, é citado como um dos artistas que se relacionaram com a musa Adriana, que namorou também Georges Braque e Picasso.

Com o mestre cubista espanhol, inclusive, Modigliani viveu às turras, em parte devido à intimidade entre os dois. Outro companheiro de noitadas era o pintor mexicano Diego Rivera, cujas feições rechonchudas foram eternizadas num quadro pelo colega italiano. Amante de Rivera e integrante da mesma turma, a russa Marevna foi retratada por Modigliani em 1919. Batizada Retrato de Marevna, a obra, presente na mostra, esteve envolvida numa polêmica. Exposta no ano passado no Museu Pushkin, em Moscou, ela teve sua autenticidade contestada. O questionamento se baseou em análises químicas que teriam detectado vestígios de pigmentos produzidos após 1940 – portanto, vinte anos depois da morte do pintor. Quem pôs fim à discussão foi o presidente do Instituto Modigliani e curador da exposição, Christian Parisot, que ratificou a autenticidade da tela.

Além desse item, a mostra que passará pelo Rio inclui um conjunto bastante representativo. Dele fazem parte telas do seu começo de carreira, num estilo quase primitivo. É o caso de Jeune Femme Assise – Madame Cadorin (1905). Há também exemplares da fase madura, em que a paleta de cores está mais sofisticada e o traço denota suas características marcantes. Curiosamente, os retratos bem delineados eram de modelos com quem o artista tinha mais empatia. Já as vistas opacas ou de contornos inacabados eram daqueles com quem não sentia sintonia. Em um dos segmentos da mostra estarão sessenta desenhos de diferentes fases. Outro setor vai abrigar 24 obras de amigos do homenageado, assinadas por artistas do quilate de Picasso e Léonard Foujita. Completam a atração registros de ateliês e locais frequentados por ele. Manuscritos do diário da mãe, Eugénie Garsin, ajudam a compor um perfil mais intimista do personagem. Sem dúvida, uma rara oportunidade de admirar imagens tão expressivas.

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