As dasluzetes cariocas
Com salário mensal de 10 000 reais e bônus que chegam a 20 000, duzentas candidatas disputaram o cargo de vendedora na grife paulista. Apenas dezoito foram selecionadas
Foi uma espécie de vestibular. Só que, no lugar das provas de matemática e português, as candidatas precisaram desfilar todo o seu conhecimento em matérias bem menos chatas. As questões se referiam basicamente ao mundo da moda, decoração e estilo. Nos últimos dois meses, cerca de duzentas pretendentes sonharam com uma vaga na equipe da primeira filial da Daslu no Rio. Após a longa espera, o resultado finalmente foi divulgado: apenas dezoito saíram vitoriosas. O funil tão apertado tem uma explicação. Essas meninas representarão a marca paulista, ícone de refinamento e ostentação, na cidade. Em São Paulo, nomes badalados nas colunas sociais, a exemplo de Sophia Alckmin, filha do governador Geraldo Alckmin, e Carolina Magalhães, neta do ex-político Antônio Carlos Magalhães, faziam parte do time de vendedoras. Por aqui, os nomes não são tão reluzentes, mas combinam perfeitamente com a imagem de sofisticação da grife. “Foi incrível ter sido escolhida”, comemora a atriz Ana Ferraz. Aos 32 anos, moradora de Ipanema, de mudança para o Leblon, ela é o símbolo de como deve ser uma dasluzete: bonita, educada nas melhores escolas, frequentadora dos principais agitos e viajada. “Eu jamais trabalharia em uma loja se não fosse na Daslu”, diz ela, ao lado de duas das novas companheiras, a administradora de empresas Verônica Goés, 31 anos, e a estudante de relações internacionais Christiana Ururahy, 33.
Pertencer ao seleto clube de funcionárias da grife, de fato, traz privilégios raros ao universo das vendedoras. A começar pelo salário. Se for bem-sucedida, uma dasluzete pode embolsar cerca de 10?000 reais por mês. Em época de festas, a remuneração é incrementada ainda por generosos prêmios. Quem bate a meta anual, por exemplo, ganha um incentivo de mais 20?000. Outra importante diferença é a visibilidade que a posição empresta. Nos áureos tempos em São Paulo, as moças se transformavam em semicelebridades. Seus modelitos passavam a ser copiados, seus nomes figuravam entre os convidados vips em recepções e até suas opiniões sobre moda eram levadas em consideração. Essa parte, pelo menos, continua igual. Os vestidos, saias e calças da nova coleção serão todos submetidos ao crivo das moças. “Se elas não gostarem da roupa, já sei que não vai vender”, revela o estilista Sandro Barros.
O glamour do passado não será tão simples de ser alcançado por aqui. A história da butique pode ser dividida em duas etapas: uma antes e outra depois de uma operação conduzida pela Polícia Federal, que resultou na detenção da proprietária, Eliana Tranchesi, e de seu irmão, Antonio Carlos Piva de Albuquerque. Na ocasião, a batida dos agentes foi uma tragédia para a empresa. Assustadas com as investigações, muitas clientes sumiram dos seus salões. Pouco a pouco, a marca se reestruturou, foi comprada pelo grupo Laep, capitaneado pelo empresário Marcus Elias, e ganhou musculatura para expandir seus domínios. Dentro desse processo de recuperação, o desempenho no mercado do Rio significa uma importante etapa. Com previsão de inauguração para o fim do mês, a loja ocupará dois andares do Shopping Fashion Mall, considerado estratégico porque fica em São Conrado, entre o público da Zona Sul e o da Barra. Nos seus 800 metros quadrados, os cariocas poderão encontrar roupas para homens, mulheres e crianças e até artigos para casa. Entre os itens oferecidos, a peça mais barata será uma colônia de 45 reais. A mais cara, um vestido de 2?800.
Antes da aguardada estreia, o time de dasluzetes passará por uma imersão total numa espécie de universidade do luxo. Ao longo das próximas duas semanas, elas receberão lições sobre a história do empreendimento, detalhes sobre os produtos à venda, as últimas novidades do mundo das artes, turismo e gastronomia. A ideia é que as moças, mesmo oriundas de famílias abastadas, dominem uma série de conceitos e informações para impressionar os clientes da alta-roda (veja o quadro). As aulas serão ministradas no próprio quartel-general da grife, a Villa Daslu, em São Paulo, prédio em estilo neoclássico, com quase 60?000 metros quadrados. Ali, elas terão também orientações de ordem prática. Cada uma delas acompanhará a rotina de uma vendedora paulista. “Quero que elas vejam de perto como se faz um atendimento calmo e elegante”, conta Daniella Fernandes, gerente da unidade carioca e uma das responsáveis pela seleção. Certamente as moças não voltarão falando expressões como “Ô meu” ou “E aí, manô?”.
Na ponta da língua
Informações úteis, ou nem tanto, que toda dasluzete deve saber de cor
É obrigatório ler, e se possível citar, trechos das bíblias do mundo fashion. A exemplo de Style Book: Fashionable Inspirations, Prada e Avedon Fashion 1944-2000.
Elas precisam estar antenadas com as últimas novidades do mercado gastronômico. Um exemplo: acaba de chegar a Nova York uma filial da famosa pâtisserie francesa Ladurée, de 1862, com seus deliciosos macarons
Devem comentar com desenvoltura as noitadas mais concorridas do circuito Elizabeth Arden. Não é novidade para elas que, até a véspera do Ano-Novo, funciona em Paris um bar que parece mais uma obra de arte, o Bubble
Vendedora de luxo que se preze está sempre por dentro de hotéis, restaurantes ou passeios nos principais destinos da moda. Quanto mais exótica a dica, melhor. A bola da vez é a Turquia
Em tempos de redes sociais, é de bom-tom não esquecer as regras básicas de etiqueta. Sentar-se na primeira fila de desfiles e trocar mensagens no celular torna-se um crime inafiançável