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Circo à carioca

Com investimento de 1 milhão de reais e temática dos guetos, o Afroreggae lança sua primeira atração dedicada ao picadeiro

Por Bruna Talarico
Atualizado em 5 jun 2017, 13h58 - Publicado em 26 jun 2013, 16h51

Impulsionada por famílias de origem estrangeira que cruzavam o Atlântico, a arte circense recebeu acolhida no Rio ainda no tempo do Império. Ao longo do período em que era a capital política e cultural do país, a cidade consolidou-se como um reduto tradicional dessa forma de entretenimento, que conjuga números de malabarismo, equilíbrio e humor. Aqui nasceu, por exemplo, a Escola Nacional de Circo, uma prestigiada instituição formadora de mão de obra para o picadeiro. Foi de olho nesse filão que o Grupo Cultural Afroreggae criou, em 1996, uma ramificação voltada para o ensino das técnicas circenses. O projeto ganhou musculatura e há dois anos se profissionalizou. Entre as medidas adotadas, os alunos passaram a receber salário de até 1?100 reais e a se dedicar exclusivamente ao ofício, treinando em média oito horas por dia. Tanto esforço resultou no espetáculo Gênesis, com estreia prevista para o próximo sábado (29) no Anfiteatro Benjamim de Oliveira, localizado no alto do Morro do Cantagalo, em Ipanema. Não se trata de algo mambembe ou que busca o aplauso meramente por seu caráter filantrópico. Ao custo de 1 milhão de reais, a atração reúne 26 artistas egressos de favelas, que dariam conta do recado nas melhores lonas em cartaz no país. “A qualidade é inquestionável”, assegura o diretor artístico Marcelo Silveira. “Nossa pretensão é entrar para a história do circo brasileiro.”

Foto: Felipe fittipaldi
Foto: Felipe fittipaldi ()

A primeira produção do gênero com o carimbo do Afroreggae tem peculiaridades que devem ser destacadas. Sua estética se diferencia frontalmente da que estamos habituados a ver nos circos convencionais. A narrativa se inspira nas culturas africana, indígena e carioca, com trilha sonora extraída dos guetos da nossa cidade. Ao som de um funk, o palhaço, que lembra a figura do comediante Grande Otelo (1915-1993), puxa para dançar uma periguete, que, momentos depois, se revela um rapaz. Em outra parte da apresentação, cadeiras equilibradas em pirâmide servem de plataforma para uma performance ao ritmo de hip-hop. Esses números nada usuais se juntam a outros de acrobacia e equilíbrio bem ao estilo de Cirque du Soleil e Intrépida Trupe. Nas duas horas de espetáculo, o ponto alto, e de maior tensão, é a apresentação de um malabarista que se arrisca arremessando para o alto três motosserras ligadas. Chama atenção também o número em que um grupo de artistas faz acrobacias com a ajuda de grandes bolas de borracha, e um outro em que eles saem de dentro de bolas de látex, proporcionando belo efeito visual. Responsável pela concepção do espetáculo, Marcelo Silveira tem passagem por trupes europeias e nacionais.

Foto: Felipe Fittipaldi
Foto: Felipe Fittipaldi ()

Surgido há vinte anos em Vigário Geral, após uma chacina ocorrida naquela favela, o Afroreggae se firmou na esfera social pela forte atuação na reintegração de criminosos à sociedade. Inicialmente, a ONG oferecia cursos e oficinas artísticas aos moradores das redondezas. Com o tempo, ampliou seu leque de atividades e investiu na profissionalização da estrutura. Hoje conta com 350 funcionários, espalhados por diversos setores. Um desses tentáculos é a produtora responsável pela realização dos programas Conexões Urbanas, que cumpriu sua sexta temporada, Papo de Polícia e Paixão Bandida, todos exibidos na TV por assinatura. Na área musical, o Afro Lata se notabilizou por lapidar talentos para a percussão. Espera-se que o Afro Circo trilhe caminho semelhante. O passo inicial já foi dado, com o investimento vultoso destinado não só à produção do espetáculo como à reforma do Anfiteatro Benjamim de Oliveira, agora dotado de iluminação de LED e capaz de receber 180 pessoas. Com entrada franca e apresentações aos sábados, às 19 horas, e domingos, às 18 horas, a temporada vai até o fim de julho. A ideia é que Gênesis emplaque e seduza patrocinadores, de forma a viabilizar sua exibição em outros espaços da cidade. Para facilitar a locomoção do público, uma van fará o trajeto da esquina das ruas Sá Ferreira e Saint Roman até o anfiteatro, a 2,50 reais. “Queremos realizar um trabalho de qualidade e exportar talentos”, diz Nino Santana, o diretor de produção. Assim seja.

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