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Alunos bons de copo

Com seu conteúdo saboroso, cursos de degustação de cerveja proliferam no Rio

Por Rachel Sterman
Atualizado em 5 jun 2017, 14h34 - Publicado em 25 abr 2012, 20h54

Quando abriu seu bar especializado em cervejas de diversos tipos e nacionalidades, em 2010, o empresário José Fernandes Júnior promoveu uma degustação de estreia. Seu objetivo era badalar a casa, ao mesmo tempo em que apresentava as novidades aos funcionários e amigos. O que seria um evento isolado acabou se transformando em um negócio à parte. Júnior não parou mais e passou a fazer sessões quinzenais em torno da bebida em seu Lapa Café, cada uma delas reunindo em média 200 pessoas. Não se trata de um fenômeno isolado. O interesse crescente pelo assunto sensibilizou uma série de estabelecimentos, que oferecem cursos de iniciação baseados no saboroso tema. É o caso da Adega do Pimenta, do Delirium Café, da Escola de Culinária Estilo Gourmet e do Espaço Carioca de Gastronomia, para citar apenas alguns. “A degustação de cervejas especiais é recente aqui, mas existe há mais de quarenta anos lá fora”, afirma o mestre cervejeiro Leonardo Botto.

A variedade de rótulos que proliferam em bares, restaurantes e supermercados foi um fator decisivo para despertar a curiosidade geral. Até pouco tempo atrás, as opções de cerveja disponíveis na cidade ficavam limitadas a meia dúzia de marcas. O panorama começou a mudar graças à importação maciça do produto. Assim, tornou-se possível encontrar itens de procedências variadas: da terra natal da bebida, a Alemanha, a outros fabricados em países díspares, como Austrália, Jamaica e Escócia. Contribuiu também para a fartura o incremento da fabricação artesanal no país. Dessa forma, existem agora centenas de rótulos ao alcance do carioca repletos de nuances que atiçam o consumidor a desvendá-las, em um fenômeno similar ao que ocorreu com o vinho. Há cervejas com sabor frutado ou um toque de chocolate, com teor alcoólico igual ao da vodca ou que têm preço comparável ao de um bom champanhe. Um manancial caudaloso para as palestras.

O sommelier de cervejas José Raimundo Padilha inicia seus encontros no Espaço Carioca de Gastronomia com um breve histórico sobre o líquido. Depois da etapa preliminar, ele passa para temas mais complexos. Identifica os ingredientes presentes na fórmula, composta basicamente de água, malte, lúpulo e fermento, e esmiúça todo o processo de fabricação, da maltagem à pasteurização. Descreve ainda os principais gêneros da bebida, que incluem termos pouco familiares até para quem é bom de copo, como bock e trapista (veja o quadro na pág. 33). Uma das preocupações de Padilha reside em quebrar determinados preceitos sempre associados ao líquido. Oferecer uma cerveja estupidamente gelada, por exemplo, nem sempre é o ideal. “Algumas marcas especiais não devem ser servidas em temperatura muito baixa, sob o risco de mascarar o sabor”, explica. Outro paradigma que ele quebra diz respeito às harmonizações. Uma boa loura não se presta apenas a tabelar com petiscos. “Ela combina bem até com sobremesa”, garante.

Muito apreciada, apesar de intuitivamente, a cerveja impulsiona a economia do Brasil, que é o terceiro maior mercado consumidor do planeta, atrás de China e Estados Unidos. Com produção em torno de 60 bilhões de reais por ano, as fabricantes nacionais vêm diversificando seu portfólio e passaram a apostar também nas marcas de primeira linha, um setor em acentuada expansão. Ao longo de dez anos, os itens premium ampliaram sua fatia de 2% para 5% do mercado nacional das louras. A preferência, com folga, ainda é pelo tipo pilsen, que responde por 90% das vendas. Nesse universo grandioso, o Rio é a capital do país com o maior consumo per capita da bebida, na faixa de 60 litros por ano.

Com as mais de 500 marcas à venda na cidade, o que não falta ao carioca é matéria-prima para apurar seu paladar etílico. Seduzido pelos preços mais em conta e pela gama de opções, o advogado Thiago Gomes decidiu migrar do vinho para a cerveja. Para não fazer feio na mesa de bar, inscreveu-se nas aulas do Lapa Café. “No começo, senti dificuldade com as terminologias, mas hoje consigo diferenciar até os níveis alcoólicos”, orgulha-se o aplicado aprendiz, que absorveu o conteúdo do curso com o maior prazer.

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Glossário

Bock: é um tipo de cerveja maltada escura, com sabor levemente torrado

Fermentação: quanto maior a temperatura nesta etapa da fabricação, mais acentuado fica o gosto da bebida

India pale ale: feita com muito lúpulo, tem sabor frutado, amargor e alto teor alcoólico

Levedura: fermento natural que influencia todo o aroma

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Lúpulo: planta responsável por conferir o sabor e o aroma ao líquido

Malte: ingrediente que caracteriza a bebida. É preciso ter ao menos 20% na composição

Porter: um tipo denso e amargo. Pode exibir notas de café, chocolate ou caramelo

Trapista: gênero artesanal produzido em monastérios belgas. Só sete abadias fazem esta cerveja, uma delas na Holanda

Witbier ou blanche: temperadas com raspas de laranja e coentro. São leves, refrescantes e cítricas

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